Artes Cênicas

Cabaré Leminski

Obra coletiva de costura feita pelo produtor e diretor Rodrigo Fornos e pela cantora e escritora Estrela Leminski, Cabaré Haicai estreia no Festival de Teatro de Curitiba

TEXTO Mario Helio

26 de Março de 2025

A peça Cabaré Haicai explora várias facetas de Leminski – sua obra e personalidade –, mas onde melhor se sai é nas canções

A peça Cabaré Haicai explora várias facetas de Leminski – sua obra e personalidade –, mas onde melhor se sai é nas canções

Foto Divulgação

Ao ler o título da peça Cabaré Haicai, cuja estreia no Festival de Curitiba deu-se, com duas apresentações, na noite da terça-feira (25), é possível fazer várias associações de ideias. A primeira, em sintonia, aliás, com o espírito leminskiano, é o Cabaré Voltaire.

Diferentemente do texto curitibano, que é cabaré apenas como metáfora, o Voltaire era, de fato, um cabaré, fundado em 1916, em Zurique, por Hugo Ball e Emmy Hennings. Eles eram dadaístas, e fizeram localizar o seu cabaré no andar de cima de um teatro. Diferentemente das obras sérias apresentadas no palco oficial, as do cabaré – que até faziam chacota delas – buscavam desbravar caminhos, bem no espírito de vanguarda, palavra tanto mais adequada naqueles tempos de guerra.

Leminski, que teve o seu quê de teatral e dadaísta, na sua primeira juventude era frequentemente citado em Curitiba como um poeta concretista. Como os concretistas, ele não tardou em se enamorar da música – tanto a MPB quanto a experimental. Perito em jogos verbais, a transição para a canção foi fácil e exuberante.

A peça Cabaré Haicai explora várias facetas de Leminski – sua obra e personalidade –, mas onde melhor se sai é nas canções. Música acima de tudo, poderia dizer, um novo Verlaine, ao olhar para os instrumentistas no palco, e, principalmente, ouvi-los, e aos atores-cantores que fazem um pot-pourri de Leminski.

Colagem, musical, vídeo-clipping, revista... é esse cabaré leminskiano, oscilando entre a homenagem localizada e local e possibilidades de voos mais altos. Principalmente quando se apresenta como despretensioso entretenimento. Ao promover esse passeio por Paulo Leminski – obra coletiva de costura feita pelo produtor/diretor Rodrigo Fornos e a cantora/escritora Estrela Leminski, e outros – Cabaré Haicai é um capítulo a mais na crescente popularização daquele que começou hermético (vide o já clássico Catatau) e se esmerilou em algo mais que hermetos, pascoais etc. e tais.

MARIO HELIO, editor das revistas Continente e Pernambuco

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