A mostra Marianne Peretti: 60 anos de arte, em cartaz desde o início de dezembro, faz um breve recorte dos 60 anos de carreira da artista, com trabalhos antigos e outros mais recentes. Mas como trazer para uma galeria a monumentalidade de boa parte dos vitrais e painéis produzidos por Marianne? Para conceber a mostra, os produtores chamaram dois experientes fotógrafos, Breno Laprovítera e Jarbas Jr., que registraram toda essa produção, com destaque para as obras da capital federal. Ao invés das fotos de cartão-postal da catedral, por exemplo, eles buscaram novos ângulos, novas iluminações, ressaltando os detalhes e a beleza dos vitrais. Essas imagens foram ampliadas em grandes painéis, afinal, não seria possível dar a real dimensão desses projetos em fotos de tamanho reduzido.
Segundo o curador, o pé direito alto da Caixa Cultural mostrou-se adequado para a ideia de dar uma dimensão maior às fotos. Os vidros que se espalham pelo chão e a claraboia do prédio dialogam com os trabalhos ali apresentados. “A luz entra no espaço. E, para apreciarmos um vitral, precisamos da luz. Achei isso interessante, apesar de aqui eles serem apresentados em fotografias”, comenta a artista. O átrio central do espaço foi semifechado para receber as imagens dos vitrais da Catedral – uma forma de estabelecer uma relação com o próprio formato do templo. Além das mais variadas imagens, dessa que é sua obra-prima, vemos ampliado o projeto feito por Marianne na década de 1980, sem a ajuda de qualquer ferramenta tecnológica. Mas o mais impressionante é o registro da artista ajustando os traços e as linhas, num desenho já em tamanho real, colocado no chão de um estádio. Essas imagens, juntas, mostram o esforço e a dedicação dela ao projeto.
Há ainda uma área voltada às obras esculturais de Marianne, que utilizam ferro laqueado e vidros. Nessa retrospectiva, é apresentada ao público a série Objetos úteis e agradáveis, que reúne o trabalho no campo do Design. São mesas, cadeiras, desenhos e pinturas do acervo pessoal da artista, criados por ela. Fora da exposição, é possível encontrar obras de Marianne Peretti em diversos edifícios e residências do Recife: na Catedral de Boa Viagem, no Tribunal Regional Federal, no Fórum Thomaz de Aquino e na Igreja Nossa Senhora da Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.
Aos 85 anos, a artista – filha de mãe pernambucana e pai francês, radicada no Brasil desde os anos 1950 – segue trabalhando intensamente em sua casa, no Sítio Histórico de Olinda. Havia sido em Olinda, há 15 anos, que Peretti realizara sua última individual, no Museu de Arte Contemporânea (MAC). Um hiato muito grande para uma artista que ainda precisa ser devidamente reconhecida.
MARIANA OLIVEIRA, editora-assistente da revista Continente.