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Virtuosi: expansão horizontal e vertical da música

Nesta 18ª edição, festival apresenta concertos na Argentina e no Uruguai e sobe, pela primeira vez, ao Alto José do Pinho

TEXTO Ulysses Gadêlha

01 de Dezembro de 2015

Harlem Quartet é formado por instrumentistas negros e latinos

Harlem Quartet é formado por instrumentistas negros e latinos

Foto Divulgação

O Festival Internacional de Música de Pernambuco – 18º Virtuosi – fez uma expansão horizontal e vertical da programação, subindo para o Alto José do Pinho, no Recife, e visitando casas de concerto na Argentina e no Uruguai. Abrem-se de vez as portas para a América Latina, como desejavam seus realizadores, Rafael Garcia e Ana Lúcia Altino. O evento começa no dia 9 de dezembro e se desdobra até dia 20. Além do Recife, Montevidéu e Buenos Aires, estão incluídas na agenda as cidades de Olinda, Fortaleza (CE), João Pessoa e Campina Grande (PB). Entre as principais atrações, estão o Harlem Quartet (EUA), Quatuor Caliente (FRA), a pianista Marianna Shirinyan (ARM) e a violinista Priya Mitchell (ING).

Lançado há 45 anos, o movimento Armorial será homenageado pelo Virtuosi no Brasil, na Argentina e no Uruguai. O regente paraibano Eli-Eri Moura foi incumbido de compor uma obra em deferência ao movimento. “Eli é nosso parceiro. Nós lhe pedimos que fizesse uma obra para viola, violoncelo e orquestra de cordas, como ocorreu na Orquestra Armorial. Ele escreveu a música Armoriatika. A estreia mundial acontece na Usina Del Arte, em Buenos Aires”, conta Ana Lúcia Altino. Os realizadores descrevem-na como um caleidoscópio musical envolvendo recorrentes paisagens sonoras baseadas em materiais do cancioneiro brasileiro e da região nordestina em particular.

Essa ida a Buenos Aires reflete um movimento antigo ocorrido nas décadas de 1940 e 1950, quando a capital argentina era o maior polo de música de concerto na América Latina. Oriundos da Europa, os artistas atracavam no Recife para abastecimento do navio e aproveitavam a oportunidade para se apresentar no Teatro de Santa Isabel, um dos palcos do Virtuosi. “Lembro, quando ainda era pequena, desse fluxo de músicos, como Isaac Stern e Brailowsky, que paravam aqui antes de seguir para Buenos Aires. A cidade mantém essa tradição até hoje, com o Teatro Cólon recebendo óperas e balés famosos”, afirma Ana Lúcia. O Virtuosi também terá atrações na Sala Nelly Goitiño, que faz parte do Sodre, uma das referências culturais da capital uruguaia.

Entre as atrações, destaca-se o Harlem Quartet, formado pela Sphinx Competition, concurso voltado para instrumentistas de cordas negros e latinos. “Eles executam música clássica, música de compositores dessas minorias, como negros americanos ou cubanos, além de nomes do jazz, como Dizzy Gillespie e Chick Corea”, conta Ana Lúcia. “É a segunda vez que trazemos uma atração formada na Sphinx Organization. Há muito tempo trouxemos a violinista mexicana Elena Urioste. Através dela conheci essa sociedade e cheguei até o Harlem Quartet. Fazia tempo que queríamos trazê-los. Neste ano, com a ajuda do Consulado Americano, a vinda deles foi possível”, relata a realizadora. O grupo, que visita o Brasil pela primeira vez, passa pelo Recife, Olinda e Fortaleza.

Já a pianista armena Marianna Shirinyan visita Pernambuco pela segunda vez. Em 2008, também pelo Virtuosi, ela participou da apresentação de dois quintetos para piano – Schumann & Dvorak –, junto a Ilya Gringolts, Anahit Kurtikyan, Rafael e Leonardo Altino. Aos 37 anos, ela figura na lista dos “Steinway artists”, instrumentistas apoiados pela maior marca de piano de todos os tempos, além de ser solista das orquestras de Oslo, Helsinki, Copenhagen, Tapiola, Göteborg e Norrköping.

Nesta edição, apresenta-se ao seu lado a violinista inglesa Priya Mitchell, aluna de Zakhar Bron, referido como um dos melhores professores de violino do mundo. Priya se apresenta na Ordem Terceira de São Francisco, em Olinda, junto com músicos da Orquestra Jovem de Pernambuco. Ela toca com Shirinyan no Teatro Santa Isabel e em João Pessoa.

O projeto A música clássica sobe o morro, segundo Ana Lúcia Altino, teve como intermediário o músico Cannibal (Devotos). “Segundo Cannibal, é a primeira vez que música clássica sobe o morro, de fato. Ele pediu que fosse um concerto bem formal, para que houvesse essa identificação do público. Então foi muito bom, uma saída do festival, que precisa inovar, respirar”, afirma Ana Lúcia. Em projetos paralelos, oVirtuosi também passa por Gravatá e Belo Jardim, no agreste pernambucano. Confira a programação do evento no site da Continente e no http://www.virtuosi.com.br

ULYSSES GADÊLHA, estudante de Jornalismo e estagiário da Continente.

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