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Uma população letrada e educada

As Twins Cities garantem aos seus habitantes um sistema de bibliotecas muito bem-equipadas, disponibilizando mais de cinco milhões de livros

TEXTO AD Luna

01 de Dezembro de 2015

Fundada em 1885, a Minneapolis Central Library passou por reformas e foi reaberta em 2006

Fundada em 1885, a Minneapolis Central Library passou por reformas e foi reaberta em 2006

Foto Divulgação

[conteúdo vinculado à reportagem de 'Viagem' | ed. 180 | dez 2015]

Bookworms
– algo como “vermes de livros”, em português
– foi como o site Huffpost denominou os moradores de Minneapolis, em artigo sobre as lições das Twin Cities sobre o viver bem. A expressão se explica em razão de as cidades abrigarem uma das populações mais letradas e educadas dos EUA, de acordo com pesquisa conduzida pela Universidade Estadual Central de Connecticut (Central Connecticut State University), divulgada em 2013.

O estudo registrou que 46,5% dos moradores de Minneapolis possuem diploma universitário. Em Saint Paul, esse número é de 36,5%. Também foram levados em consideração dados como tamanho e eficiência de sistemas públicos de bibliotecas, número de livrarias, circulação de jornais e outras publicações. Para se ter uma ideia, a capital Saint Paul tem menos de 300 mil habitantes, mas possui 17 jornais com mais de 500 leitores em circulação. Na lista, encabeçada por Washignton DC, e seguida por Seattle, Minneapolis ficou em terceiro lugar, e Saint Paul, em sexto.

O Melsa (Metro Public Libraries) é o sistema regional que funciona nas Twin Cities, dividido e interligado em sete subsistemas, num total de 100 bibliotecas muito bem-equipadas. A Hennepin County Library é um desses subsistemas. Ela engloba um total de 41 unidades, que disponibilizam mais de cinco milhões de livros, CDs e DVDs em 40 línguas diferentes. A Minneapolis Central Library é a principal biblioteca do Hennepin County. Fundada em 1885, na região central, ela passou por várias reformas, até ser reaberta em 2006, com design projetado pelo arquiteto argentino César Pelli.

Nas dezenas de bibliotecas públicas das Twin Cities são oferecidas oficinas de escrita, publicação e leitura, além de cursos de informática e outras habilidades. Para aqueles que desejam praticar inglês e conhecer pessoas de vários locais do mundo, muitas das bibliotecas oferecem encontros semanais (e gratuitos) de conversação. As atividades são, geralmente, coordenadas por voluntários e costumam reunir pessoas de países como México, China, Turquia, Somália, Iraque, entre outros. “O conceito de biblioteca aqui é interessante, pois é um local de visita regular. Da mesma forma que se vai ao cinema ou shopping, no Brasil, aqui se vai à biblioteca. A gente gosta muito de ler e aprender, talvez movido pelo conceito do ‘faça você mesmo’, que se aplica para tudo na vida”, diz o engenheiro mecânico Paulo Telles, radicado desde 2007 na cidade.


A equatoriana Maria Andrade, que mora em Minneapolis há 34 anos, participa do grupo de estudos do português brasileiro. Foto: Divulgação

Algumas dessas bibliotecas, além de cafés e restaurantes, têm recebido, desde fevereiro de 2006, o Portuguese Meetup Group – grupo de estudos do português brasileiro. Os encontros ocorrem todos os sábados, pela manhã, e reúnem uma média de 15 pessoas, nos dias de estudo, e outras dezenas em eventos como a festa de São João, realizada anualmente, e que agrega famílias e amigos norte-americanos, latinos e brasileiros. “O grupo é formado por 50% de americanos, 20% de gente de países da América Latina e 30% de lusófonos”, detalha Maria Andrade, equatoriana que mora em Minneapolis há 34 anos, e uma das organizadoras das reuniões. “Costumamos usar algum texto que enfoque um tema atual, para ler e traduzir. Também assistimos a vídeos curtos, aprendemos gramática em livros educacionais e ouvimos canções para exercitar nossa compreensão.”

Maria decidiu estudar português, em 2007, para poder se comunicar melhor quando em viagem para países onde a língua é falada. Fã de Tom Jobim, Chico Buarque, João Gilberto, Vinícius de Morais e Caetano Veloso, Maria diz gostar do português brasileiro por ele “possuir uma bonita sonoridade, ser melódico e fácil de expressar emoções”. A mesma impressão tem a professora Marisue Gleason. Por já falar e ensinar espanhol, para ela foi fácil aprender a outra língua. “O português brasileiro possui uma musicalidade natural, cadenciada e melodiosa”, expõe. Norte-americana e moradora de Saint Paul, Marisue diz já ter perdido a conta das vezes que foi ao Brasil. “Acho que sete ou oito”, sugere. A primeira vez foi em 1999, quando veio a serviço da ONG Amigos das Américas e morou na cidade de Rui Barbosa, interior do Rio Grande do Norte. Nas outras vezes, visitou São Paulo, Belo Horizonte, Chapada Diamantina, São Luís, Salvador, Recife, Ouro Preto e Olinda. Estas últimas a deixaram encantada por conta da arquitetura. Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso são os artistas que ela aprecia. “Não apenas pela beleza das músicas, mas também pelas letras”, reforça. De Pernambuco, ela cita Mestre Ambrósio, Mundo Livre S/A, Eddie, Nação Zumbi, Querosene Jacaré, entre outros.

Marisue Gleason dá aulas para crianças e adolescentes na Mounds Park Academy, escola privada de classe média que procura despertar uma consciência global na mente dos alunos. Segundo a professora, além do espanhol, ela estimula o desejo nos estudantes em conhecer e aprender sobre outros lugares e povos do planeta. “Espero que eles enxerguem que todos nós fazemos parte deste mundo que está sempre em constante transformação”. Além do Brasil, Marisue conhece o Peru, Equador, Espanha, Costa Rica, Colômbia e Cuba. 

AD LUNA, músico e jornalista, foi repórter de música do Jornal do Commercio. É apresentador do programa de rádio PEsado.

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