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Um acervo quase desconhecido

Exposição apresenta peças de propriedade do jornalista pernambucano Odorico Tavares, cujo interesse recai na produção modernista

TEXTO Mariana Oliveira

01 de Janeiro de 2013

Cêramica pintada por Pablo Picasso

Cêramica pintada por Pablo Picasso

Imagem Reprodução

A tradição do colecionismo no Nordeste é antiga. Numerosas são as coleções formadas na região e que hoje são referência nacional. Entre elas, está a do pernambucano Odorico Tavares (1912-1980), que durante muitos anos foi diretor dos Diários Associados na Bahia, onde esteve radicado até o seu falecimento. Uma seleção dessas obras está em exibição, pela primeira vez no Recife, no Instituto Ricardo Brennand, na mostra 100 anos de Odorico Tavares – sonhos e desejos de um colecionador, que marca o centenário de nascimento do jornalista. As peças em exposição foram escolhidas pelo artista plástico Emanuel Araújo, que tentou preservar a diversidade, característica do acervo, composto por obras de arte barroca, imaginária brasileira, mobiliário e arte moderna.


Odorico Tavares foi um enstusiasta dos pintores modernos, como Di Cavalcanti e Aldemir Martins (imagem seguinte). Imagem: Reprodução

Segundo o curador, a pretensão é apresentar aos pernambucanos essa importante coleção particular, que só foi vista anteriormente em Curitiba e São Paulo.“Essa exposição é uma homenagem a um pernambucano pouco conhecido em sua terra natal. Mesmo vivendo na Bahia, ele sempre estabeleceu uma relação forte com seu estado, fosse em contato com os amigos que seguiam no Recife ou escrevendo sobre o frevo e o maracatu”, observa. A base do trabalho curatorial foi um poema do próprio Odorico Tavares: Volta à casa paterna. Emanuel Araújo conheceu o colecionador/jornalista na década de 1960, depois que este elogiou um cartaz do artista plástico publicado num artigo de jornal. A partir daí, criou-se entre eles uma relação de amizade e as obras de Emanuel começaram a compor a coleção de Odorico Tavares.


Obra de Aldemir Martins. Foto: Reprodução

Tavares nasceu em Timbaúba, passou a sua juventude no Recife, onde começou sua carreira no Diários Associados, seguindo para Salvador, em 1942. Nessa época, já havia iniciado sua coleção, que reunia nomes de conterrâneos como Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres e Mestre Vitalino. Na capital baiana, ampliou-a, adquirindo obras de Di Cavalcanti, Portinari, Pancetti, e investiu no mobiliário dos séculos 18 e 19, na arte sacra, nos artistas primitivos da Bahia; incluiu também nomes internacionais, como Picasso e Miró.

Um breve olhar sobre o acervo comprova a afinidade do colecionador com os artistas modernos, expresso também nos textos que escrevia respaldando seus trabalhos. Bastante próximo a Assis Chateaubriand, Tavares foi um importante divulgador dos artistas nordestinos e uma figura fundamental na criação do Museu de Arte Moderna da Bahia, do Museu Regional de Feira de Santana e do Museu de Arte Contemporânea de Olinda.

O seu amor pela arte, sem dúvida, estabelecia cumplicidade entre ele e Assis Chateubriand. “Ambos tinham o lado romântico e aventureiro dos artistas daquela época, porém, como não eram artistas, viviam com eles em grandes rodas e faziam com eles grandes viagens”, afirma Emanuel Araújo. Esse interesse resultou na formação do seu numeroso acervo, que passeia por diversos momentos da arte brasileira. 

MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.

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