O Grudage iniciou a montagem de seus espetáculos com recursos próprios ou solicitando o apoio do comércio local através de livro de ouro. Do modo artesanal de produção, paulatinamente, o grupo foi criando alternativas em busca de sustentabilidade através da venda de espetáculos para órgãos públicos e escolas, participações em projetos, realização de espetáculos de entretenimento para angariar fundos para outras empreitadas cênicas e, no momento atual, utilizando-se dos mecanismos de fomento às artes cênicas.
Além disso, a renda da bilheteria dos espetáculos era revertida, em sua totalidade, para custear as despesas com as récitas e reforçar o caixa de reserva. O Grupo da Gente foi o primeiro núcleo teatral do Cabo de Santo Agostinho a realizar temporadas com suas encenações no município e no Recife. Participando ativamente como liderança do movimento cultural na região, assumiu papel de destaque dentro da então Federação do Teatro Amador de Pernambuco (Feteape, 1976), sendo responsável durante anos pela articulação do movimento federativo da Mata Sul, mesmo estando situado na RMR.
Promoveu inúmeras atividades de formação, integrou a programação e foi premiado em festivais de teatro estaduais, regionais e nacionais, conseguindo aglutinar grupos e artistas para discutir as questões da política cultural do município. Na ficha técnica de seus espetáculos, além de artistas e educadores do Cabo, encontram-se colaboradores importantes de outras cidades de Pernambuco.
Em 2007, com a montagem de O cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros, e, em 2008, com a remontagem do espetáculo O homem que discutiu com o cachorro e vacinou a sogra, de Álvaro Batista, o grupo retomou o interesse pela literatura de cordel. A partir daí, desenvolveu o Projeto Caboêtas (termo pejorativo dado a quem nasce no município), com o qual encenou O Cavalo que defecava dinheiro para diversas cidades na Mata Sul de Pernambuco, entre outras encenações.
Neste outubro, o Grupo da Gente chega aos 30 anos com a maturidade de poder decidir sobre o próprio destino, com capacidade produtiva e sem perder o espírito coletivo e crítico. Se o TAC e o Povoarte forjaram o moderno teatro cabense, o Grudage é responsável pela manutenção de importante legado, reafirmando a existência de uma arte pulsante e insurgente além dos limites da Veneza Brasileira.
WILLIAMS SANT'ANNA, jornalista, ator, arte educador e produtor cultural.