Os dois encontros provocaram essa discussão, essa reflexão para ambas as partes: os brincantes de maracatu compreenderam a organização e a articulação indígena para a retomada e conservação de suas terras; os capinauás, a força do maracatu pela manutenção de seu patrimônio cultural.
AUTORES
Mateus Sá é um fotógrafo com um olhar antropológico sutil e ao mesmo tempo profundo. O projeto que o tornou conhecido como artista foi a pesquisa Luz do Litoral, de 2005, uma documentação fotográfica sobre as comunidades nativas de pesca do litoral de Pernambuco, incluindo Fernando de Noronha, que estão em vias de desaparecer devido à especulação imobiliária e ao modelo de turismo do estado.
Em Reencontros, ele e Guga Soares procuraram capturar a surpresa presente nos dois encontros, o encantamento de uns com os outros, a proximidade e o estranhamento, um observando a cultura alheia. “Eu tive um enriquecimento pessoal ao fotografar os dois encontros, pois há algum tempo realizo pesquisas com o maracatu e os povos indígenas, e esse evento ampliou meu entendimento, minha compreensão, minha admiração por ambos”, conta Mateus.
O texto do livro não tem a intenção de folclorizar o maracatu e os povos indígenas. “Essa é uma crítica que nós fazemos, pois, historicamente, os governos que se sucederam sempre usaram o maracatu como propaganda da cultura local”, argumenta Caroline. “Ele é mesmo o exemplo de Pernambuco, porque é o explorado, o oprimido, representante do trabalho escravo que persiste até hoje na Zona da Mata, e isso é muito mascarado pela alegoria, pelo folclore”, defende a antropóloga.
O legado de Reencontros é o de caminhar rumo a uma sociedade intercultural, não apenas na questão do respeito à diversidade étnica e cultural, mas no reconhecimento social e estatal de que essas comunidades também são sujeitos de direito. “São sujeitos que estão vivos e têm de estar presentes na contemporaneidade também sob um ponto de vista jurídico, econômico, linguístico, territorial, cultural”, resalta a antropóloga. Os capinauás aceitaram participar do projeto com a condição de que o livro seja parte do currículo das escolas indígenas.
GUILHERME NOVELLI, jornalista.