Quando questionado sobre esse aspecto pelo jornalista Astier Basílio, que pontuava se não era tempo de arriscar outros formatos, considerando a consagração já alcançada pelo poeta, Alberto da Cunha Melo explicou existirem outras razões para essa preferência estética: “O octossílabo dominou minha poesia em duas fases, na primeira e terceira, talvez porque tinha a cadência prosaica da conversa, do desabafo, não retórico, da confidência, enfim”. Essa explicação remete aos versos de Ribeiro Couto – em um quarteto octossílabo – que, confessamente, serviu como norte poético de sua produção: “minha poesia é toda mansa/ não gesticulo, não me exalto/ meu tormento sem esperança/ tem o pudor de falar alto”.
Tal serenidade, proposta pelo poema de Couto, atravessa a escrita de Alberto da Cunha Melo, que passeia por conteúdos variados, indo do universo clássico àquele promovido pela comunicação de massa. Para o autor de Yacala, “tudo é tema”, contanto que a escrita seja rigorosa. Não à toa, foi muitas vezes comparado a João Cabral e fazia uso pessoal da fórmula 10% inspiração e 90% transpiração para a criação artística. Segundo Alberto, o mais preciso, em termos de arte literária, seria recomendar inspirar 10% de conteúdo e expirar 90% de realização formal.
Por trás das convicções do escritor está uma identificação consciente com os construtivistas, os formalistas russos e os estruturalistas, aparato teórico e estilístico que trouxe para o seu modo de produção específico. Do ponto de vista temático, são recorrentes em sua obra os diálogos com a filosofia, como vemos em Camuflagem nietzschiana; com o cinema, caso do texto Um corpo que cai; e com a própria literatura, tal qual apontam os poemas A João Cabral, Relendo Camões e Edgar Allan Poe.
Esses três poemas estão presentes em Cantos de contar, seleta que é complementada por uma longa entrevista coletiva concedida pelo autor a estudiosos de Literatura. As questões foram enunciadas por Alfredo Bosi, Alcir Pécora, Deonísio da Silva, Evandro Affonso Ferreira, Ivan Junqueira, Isabel Moliterno, Ermelinda Ferreira, Ivo Barroso, José Nêumanne Pinto, Mário Hélio, entre outros. A conversa só havia sido publicada, anteriormente, em versão reduzida, na Cronos, revista da pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. As respostas do poeta mostram ao leitor que, além de criterioso em seu processo criativo, ele era muito reflexivo no tocante à própria obra. Também colabora para rememorar sua trajetória artística, iniciada em 1966, quando o escritor foi revelado pelo poeta e crítico César Leal, no suplemento literário que ele editava no Diario de Pernambuco.
GIANNI PAULA DE MELO, repórter da Continente Online.