As fotografias de O verso dos trabalhadores possuem em comum um caráter documental e se aproximam do fotojornalismo, numa tentativa de “conviver sem se fazer presente”, nas palavras do fotógrafo pernambucano Geyson Magno que, como mencionado acima, contribuiu para o livro com dois ensaios. Vaqueiros foi realizado entre os anos de 2003 e 2006, período no qual Magno percorreu todas as cidades do Nordeste, produzindo em torno de 21 mil fotos referentes à lida com o boi. Por sua vez, o escritor cearense Xico Sá fez questão de rememorar os vaqueiros de sua infância, no relato Vaqueiro, um homem marcado como gado, e lembrar que apenas em 2013 esta profissão foi regulamentada no Brasil.
Nos textos, que transitam entre vários gêneros, há diversos temas envolvidos — desde as semelhanças e precariedades presentes em solos brasileiro e moçambicano, dificuldades de imigrantes para se estabelecer, a morte de centenas de trabalhadores causada por amianto (espécie de mineral altamente tóxico e asfixiante), escravidão moderna, o racismo de um país miscigenado, até as relações ambíguas entre uma empregada doméstica e seus patrões e condições de trabalho em redes de fast food. Os escritos possuem, desse modo, uma carga de denuncismo. “O enorme sofrimento físico e moral de milhões de trabalhadores brasileiros ainda é a maior indignidade de um país que se pretende democrático”, avalia Hatoum, no prefácio.
Em uma das cartas endereçada a amigos, Graciliano Ramos rebatia a acusação de que privilegiava as misérias e deformações como tema de suas obras afirmando que, se elas estavam presentes fora do campo da arte, nada mais justo do que serem incorporadas ao fazer artístico. O verso dos trabalhadores, enquanto projeto coletivo, trilha o mesmo caminho, mas sem apresentar uma realidade incontornável. O livro extrapola sua intenção político-social na medida em que se coloca como exercício contra o esquecimento e sugere (melhores) condições de futuro, quando dá visibilidade a pessoas geralmente muito distantes do protagonismo na arte.
MARINA MOURA, estudante e estagiária da revista Continente.