Localizado na Rua José Bonifácio, o Sebo da Torre é um dos mais famosos pontos de garimpos literários do Recife. O paulistano Seu Amauri chegou à cidade há 10 anos. Há 18 trabalha com livros. “Na universidade, estudei Letras e sempre mantive uma relação com os livros. Mas, para trabalhar com eles, é preciso ter um desprendimento. Aqui, é meu meio de vida. Compro e vendo exemplares para sobreviver”, relata. Livros que são referência em áreas como sociologia e filosofia, e possuem poucas tiragens (por isso, considerados raros), podem ser encontrados no acervo de Seu Amauri. “A procura dos leitores pela raridade pode passar também por elementos como as dedicatórias, ou no achado repentino de uma informação preciosa no meio de um livro ou, ainda, na presença do ex-líbris.”
Mais uma vez, os encontros e o câmbio de informações aparecem como um dos pontos mais interessantes num espaço dedicado ao livro. Lombardi afirma que as histórias dos clientes chegam, de forma natural, até ele. “Conquistei novos amigos, conheci muita gente do bairro. Sempre penso que essas conversas formam uma espécie de teia, como se os moradores fossem tecendo uma história oral do bairro. Uma vizinha se ofereceu para fazer o meu mapa astral. Fiz, foi ótimo, viramos amigos.”
Entre as lembranças de Seu Amauri está um visitante que nunca mais apareceu em seu sebo. “Ele só comprava livros sublinhados. Tinha interesse de fazer a leitura da leitura. A narrativa grifada é o que era importante. Esse cliente era rígido, escolhia a dedo os grifos que levaria para casa. Acho que era o passatempo dele.” E, neste instante, algum dos fantasmas de Mário de Andrade espera, pacientemente, para atravessar qualquer faixa de pedestre da Rua José Bonifácio, no Bairro da Torre.
Leia também:
Camadas de história naquelas prateleiras
Ex-líbris: O carimbo da propriedade