FOTOS PRISCILA BUHR
01 de Novembro de 2011
Foto Priscila Buhr
(…) O mar batia compulsivamente nos arrecifes. Meu coração não batia. A velocidade do pensamento era tal que eu não conseguia estruturar nada. Impalpáveis e espasmódicos, não me deixavam sentir o sal, a areia, o sol, os coqueiros.
Sentada a poucos metros de mim, uma atraente garota. Brevíssimas comunhões de olhares passaram a nos inquietar. (…). Aos poucos, como que se metendo entre os seus olhos e o nosso silêncio, o sol fez-se leitoso, depois, de chumbo, o chumbo depois fundiu-se e liquefez-se. Antes que a multidão tivesse a mesma ideia, fomos juntos para uma barraca de coco. Ali, já sorvendo aqueles familiares e estranhos frutos, percebemos melhor a delícia sensual do nosso silêncio agora ofegante. Da última fenda de nuvens o sol dourava os finíssimos pelos de seus braços e coxas. Desanimei pensando que para possuí-la teria de cumprir um longo ritual ignorado. Desviei o olhar para não sofrer. Com o dedo soltei meticulosamente a carne do coco e senti que a água já ia pela metade. Misturei em seguidas as duas matérias do mesmo espírito. Deglutias, sentindo com enorme prazer o escorregar pela garganta da untuosa ambrosia. A chuva recrudesceu. A natureza conspirava a nosso favor. Num movimento quase instintivo ela agasalhou-se em mim e, olhando-me com um sorriso de proprietária, traçou delicadamente a aura do meu sexo por cima do calção. (...)
PRISCILA BUHR, fotógrafa.