FOTO BRENO LAPROVITERA
01 de Novembro de 2011
Foto Breno Laprovitera
Danada de cidade que era o Recife, tudo nela se movia pelas forças místicas. Não fosse isso, Arcângela não estaria na casa de irmã Salete. Está certo que a velha cafetina era supersticiosa, crédula, mas quem haveria de negar que o Recife era tido e havido como uma cidade de mistérios?
(…) Se bem que no Recife ocorriam muito mais coisas misteriosas do que um mero sopro de espírito nos ouvidos de alguém. (…) Já houve caso, ela mesma sabia, de vizinhos de um sobrado velho e desabitado, que se mudaram assustados com as vozes e gemidos de almas do outro mundo que vinham de dentro do prédio.
Tanta gente já viveu e morreu no Recife, cidade secular, uma das mais antigas do Brasil, por onde passaram holandeses, portugueses, judeus, espanhóis, aos montes, e que agora eram almas penadas (…). Soldados mortos a se perder a conta em revoluções históricas. Sem falar dos religiosos falecidos em conventos e igrejas, reservatórios de angústia e morbidez, locais de freiras e padres que se finaram e não se conformaram, pois eram muitos os desejos e sentimentos frustrados nas celas dos conventos (…).
Se dava para ouvir o bramido de religiosos que fizeram passagem para o outro mundo, (…) que diria do barulho que fazem os fantasmas das quengas, querendo mais chamego? (…) Outra coisa não, mas quenga o Recife teve muitas. “Ô terrinha para ter mulherdama! Já teve muita e ainda tem! Benza Deus!”
BRENO LAPROVITERA, fotógrafo.