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Para uma plateia exigente e sincera

Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco reúne montagens recentes de grupos nacionais e homenageia o roteirista e diretor João Falcão

TEXTO Williams Sant'Anna

01 de Julho de 2013

Nesta edição, grupo curitibano Cia do Abração vai apresentar a peça 'Sobrevoar'

Nesta edição, grupo curitibano Cia do Abração vai apresentar a peça 'Sobrevoar'

Foto Lauro Borges/Divulgação

Encarar o exigente público infantil sempre foi um desafio para os mais experientes atores. Os pequenos espectadores têm fama de não perdoar, quando não gostam ou quando não conseguem estabelecer uma relação com a cena, demonstrando instantaneamente seu desinteresse. A angustiante sensação de falar para o vazio, enquanto se está no palco (e o público infantil corre, brinca, conversa ou simplesmente vira as costas), é inesquecível na vida de qualquer artista de teatro.

A estética e os temas que podem ser abordados são outras questões que permeiam o universo de realizadores e pensadores do teatro feito para esse público. Alguns apostam num teatro para todas as idades, outros insistem na presença de cores e músicas como vetores; há quem ache nas fábulas uma fonte a ser explorada, existem os que não dispensam a música como elemento de interação, e outros que forjam seus espetáculos a partir de experimentos e pesquisas teatrais. Não existe, portanto, uma fórmula definida, mas erros que podem induzir o artista e produtor a um resultado que não desperta prazer nem interesse.

Um dos principais problemas é resultado da subestimação da capacidade de entendimento da criança, tratando-a como um projeto de adulto. Como em outros gêneros, neste, é necessário que se estabeleça uma relação ampla, profunda e processual com a construção cênica. O saudoso artista e professor de gerações Marco Camarotti (1947 – 2004) era um defensor da qualidade do teatro feito para o público infantil, e apostava na preparação dos artistas pautada nas especificidades dessa modalidade teatral. Esse seu interesse o aproximou da Metron Produções na formulação do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco, que chega, neste mês de julho, à sua 10ª edição, homenageando o dramaturgo, roteirista e diretor de teatro e TV João Falcão. A ver estrelas, Caxuxa e O pequenino grão de areia são obras escritas e encenadas pelo recifense, que continuam encantando plateias pelo Brasil afora, por sua forma lúdica, poética e musical de tratar conteúdos diferenciados.


O espetáculo Caxuxa, do grupo Duas Companhias, vai abrir o festival.
Foto: Renata Pires/Divulgação

O musical Caxuxa, com direção de Cláudio Ferrario e produção do grupo Duas Companhias, fará a abertura do festival. Contando a história de quatro crianças e um homem cego, que vivem na rua e buscam transformar sua realidade, dando espaço e voz aos seus desejos, o texto convida o público a olhar a vida de outra forma, a partir dos sonhos que toda pessoa tem. É um exemplo prático de que questões sociais contemporâneas podem ser tratadas em espetáculos para o público infantil de forma lúdica, poética e consequente.

Compondo a programação desta 10ª edição, a Cia do Abração é um dos grupos esperados pelo público recifense, tendo em vista a ótima recepção de sua primeira participação na mostra. Em atividade desde 2001, o grupo curitibano ganhou o respeito da crítica brasileira por alicerçar seu trabalho na arte-educação e na construção coletiva de seus espetáculos, envolvendo todos os profissionais na construção da cena.

Na capital paranaense, a Cia do Abração mantém sede com três salas destinadas a apresentações e atividades formativas, e disponibiliza ao público uma biblioteca com aproximadamente 2 mil livros, uma videoteca com registro de todos os espetáculos, eventos e mostras realizadas, além de curtas, médias e longas-metragens de artistas locais e nacionais. A companhia realiza também o Pequeno Grande Encontro de Teatro para Crianças de Todas as Idades, um festival com o objetivo de mostrar e discutir o teatro de grupos e artistas do Brasil, chegando à sua 5ª versão, em 2013.

FÉRIAS
Desde as suas primeiras edições, o Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco tem reunido espetáculos de várias partes do país, promovendo oficinas e debates, de forma descentralizada. Sem apoio público ou privado sistemático, o evento tem sua programação organizada a partir dos recursos disponíveis.


O roteirista, dramaturgo e diretor João Falcão é o homenageado deste ano do festival.
Foto: Divulgação

O festival já prestou homenagem ao ator e diretor de arte Uziel Lima, ao encenador e produtor Leandro Filho, ao professor e encenador José Francisco Filho, ao espetáculo Princesa Rosa Linda (escrito e encenado por Valdemar de Oliveira, em 1939), à atriz e produtora Socorro Raposo, à Papagaios Produções, ao encenador e ator José Manoel e ao citado Camarotti.

Muito do prestígio conquistado pela cena teatral pernambucana deve-se a obras nesse segmento. Alguns grupos, produtores e artistas locais se dedicam, quase que exclusivamente, à pesquisa e realização de um teatro feito para ou especialmente dedicado às crianças. O Núcleo Sesc de Teatro para Infância e Juventude, com sede no Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro), denota o vigor dessa expressão cênica.

Aberto no final de junho, no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu, Recife), o 10º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco segue até o dia 28 deste mês, em diversos teatros da cidade. É uma oportunidade para conferir a produção pernambucana e de outros estados, garantindo informação e diversão para a garotada de todas as idades nas férias de julho. 

WILLIAM SANT'ANNA, ator, palhaço, produtor cultural, encenador, historiador e arte-educador.

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