Elaborada por uma equipe editorial, conduzida pelo designer Carlós Amorim, a apresentação do material produzido pelos artistas e pela fotógrafa, em formato de livro, segue caminhos enigmáticos que aliam um certo didatismo plástico-narrativo a um ritual de expectativas e surpresas. As divisões entre capítulos estão lá, porém guiadas por signos nem sempre explícitos – cabe ao leitor identificá-los livremente.
O texto de Luzilá Gonçalves, por exemplo, serve de ilustração para o que é visto – e não o contrário. Sua literatura aparece sempre como personagem, não como narrador. As palavras da escritora são reveladas aos poucos, de maneira fluida, em páginas salteadas, em blocos de poucas frases, intercalados por tomos de imagens com quantidades e tamanhos variados.
Já as análises dos críticos de arte estrangeiros Mónica Carballas e Kevin Power, mais interpretativas ou descritivas, são diagramadas em forma de texto tradicional, em páginas brancas, lançadas no livro com bastante espaçamento entre si. Trazem notas bibliográficas oportunas e cruzam a produção dos artistas com referenciais estéticos históricos.
Mónica Carballas identifica, na vivência do grupo, “uma ralentização do tempo”, que “não está relacionada com a lentidão do gesto, do movimento ou da produção, mas com a dilatação do tempo da escuta e da atenção”.
Associada à cultura popular, a arte do barro, cujo ambiente de produção (a olaria) abrigou os três artistas, é retratada com respeito enaltecedor por Kevin Power. “Miki Lauer insiste que a arte dos subjugados sempre foi detestada e que a burguesia elaborou um sistema de arte para separar seus próprios valores, assim, justificando as linhas demarcadas para sua própria superioridade”, cita o pesquisador. E compara: “O trabalho de Joelson demonstra o contrário (assim como crê Lauer), que o rico e complexo espírito criativo é claramente manifestado nesses trabalhos – incluindo os de produção utilitária, desde que resistam à destruidora repetição do comercial e à massificação exaustiva da demanda – que podem, são e deveriam ser natural e organicamente levados ao presente, permitindo que os traços da cultura cresçam e se expandam”.
Nas palavras de Luzilá, “viajante de outras eras, de um tempo em que você nem eu existíamos, a máscara guarda estrias, traços da água abrindo passagem sobre a argila. Água, barro, não foi aqui que tudo começou, não é aqui que tudo termina?”
JÚLIO CAVANI, jornalista.