Em geral, as apresentações são pensadas com antecedência. Uma parte delas, no entanto, sempre tende a ser influenciada pelo momento de execução. “É uma relação meio jazzística, tem uma porcentagem de improvisação. Acho que também era um pouco assim, antigamente, mesmo com um formato mais clássico”, sugere Alex Mono.
O organizador já trabalhou outras vezes com um dos filmes da mostra, Veneza Americana, de J. Cambieri e Ugo Falangola. Sobre esse filme, ele conta que buscou dialogar com a narrativa, mas sem traçar uma relação muito óbvia com as cenas, ou seja, sem fazer “sonoplastia”. “Eu trabalho com diversos elementos, de clichês de época, por exemplo, como um choro meio nazarethiano, até elementos de computadores, da música eletrônica”, descreve. “Eu me apeguei às cenas largas e ao tempo lento da película.”
Outra apresentação elogiada é a de Tragtenberg, que encerra a mostra. O compositor paulista convida os sanfoneiros pernambucanos Muniz do Arrasta-Pé e Josildo, deficientes auditivos, para participarem da exibição de Aitaré da praia, de Gentil Roiz. “Os dois ficam intervindo na frente da tela, com o filme os atravessando. Com um ponto eletrônico, Lívio os ‘dirige’, também tocando clarone”, conta Alex Mono.
Arrigo Barnabé, um dos principais nomes da vanguarda paulista, já é experiente no exercício, tendo participado do festival ocorrido na sua cidade. No Recife, ele faz uma apresentação inédita, baseada em A filha do advogado, de Jota Soares. Já os paraibanos Pedro Osmar e Paulo Ró, do coletivo de intervenções Jaguaribe Carne, são uma exceção na escolha dos filmes: preferiram trazer uma película silenciosa do seu Estado, Sob o céu nordestino, de Walfredo Rodriguez.
Ademir Araújo completa a programação trabalhando em cima de três curtas: Grandezas de Pernambuco, de Chagas Ribeiro, Recife no centenário da Confederação do Equador, de Ugo Falangola e J. Cambieri, e Carnaval de 1926, de Edson Chagas. Alex Mono explica a escolha do músico: “Ele é muito inventivo. As composições de Ademir Araújo não são normais”, elogia.
DIOGO GUEDES, repórter da Continente Online.