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O moleque Ricardo

TEXTO JOSÉ LINS DO REGO
FOTOS ANA LIRA

01 de Novembro de 2011

Fotos Ana Lira

O trem puxava, as estações se sucediam. (…). O Recife estava próximo. A cidade se aproximava dele. Teve até medo. Falavam no engenho do Recife como de uma Babel. “Tem mais de duas léguas de rua”. “Você numa semana não corre.” E bondes elétricos, sobrados de não sei quantos andares. E gente na rua que só formiga. O dia todo é como se fosse festa.

Tudo isso agora estava perto dele (…). A cidade começava a mostrar os primeiros sinais. Arraial. Viu um bonde amarelo. Era o primeiro que se apresentava aos seus olhos. Não era tão grande como diziam. ENCRUZILHADA. Casa de gente pobre pela beira da linha, jaqueiras enormes, mulheres pelas portas das casas. E agora o Recife. Tudo aquilo já era o Recife que estendia as suas pernas, que crescia, que era o mundo. O condutor chegou para ele com um embrulho: – Fique aí me esperando. Volto num instante.

E Ricardo ficou só no meio daquela gente que carregava mala, que falava alto, que vinha e saía num rebuliço de festa (…). 

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