No Brasil, ao contrário, a ocupação se deu em meio ao espírito aventureiro, bem explica Sergio Buarque de Holanda, de milhares de portugueses que deixaram o velho continente para tentar enriquecer em terras brasileiras, extraindo vorazmente seus recursos naturais. Além disso, também coloca Buarque de Holanda, o trabalho, tido como graça divina pelos protestantes, por muito tempo foi visto como um fardo no Brasil; afinal, para a aristocracia europeia, a riqueza era uma herança genética e não um esforço de trabalho.
RECURSOS NATURAIS
No entanto, ironicamente, o Brasil, ao contrário dos EUA e de outras potências econômicas mundiais, goza de prestígio internacional por sua natureza generosa e cordialidade. Longe de grandes epidemias e catástrofes, livre de conflitos bélicos. “A interpretação externa é de que a natureza é parte integral do país e precisa ser levada em consideração neste momento em que o Brasil surfa numa perspectiva de crescimento e de consolidação da sua força global”, comenta o autor.
“Os recursos naturais faziam parte da ideia de ‘país do futuro’ apresentada por Zweig, sim, assim como a estrutura social que encontrou no país durante a guerra, a ‘cordialidade’ de um povo que não tinha um perfil bélico; a questão racial, muito do que ainda faz parte da interpretação internacional a respeito do Brasil”, completa.
Apesar de centralizar sua discussão na forma como a América do Norte vê o Brasil e ajuda a fomentar o mito que o cerca, Daniel não encontra diferenças significativas em como os EUA e a Europa observam e interpretam esse novo Brasil. Ele cita, por exemplo, recente pesquisa do King’s College, em Londres, cujo resultando aponta que os velhos estereótipos acerca do “país do Carnaval, samba e futebol” ainda ocupam o imaginário estrangeiro, mesmo que tenham perdido espaço para temáticas mais sérias, como a estabilidade econômica e política.
“Quando as economias dos países desenvolvidos entraram em colapso e o Brasil conseguiu manter-se ‘de pé’ em meio ao turbilhão internacional, ficou claro para o Ocidente que o país merecia mais atenção”, coloca.
O que pode ser também uma abordagem interessante, lembra Daniel, é a opinião dos países menos desenvolvidos sobre o Brasil. “Ao contrário da euforia que percebo em grande parte do mundo desenvolvido, países menos desenvolvidos aparentam ter uma visão diferente. Já li artigos publicados em lugares como o Paraguai e a Bolívia em que o Brasil é observado com suspeita, como sendo uma nova versão de ‘imperialismo regional’.”
CAROLINA LEÃO, jornalista e doutora em Sociologia.