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O espaço da expressão íntima

Em 'Darkroom', a Cia. Etc. explora ambientes privados para compor narrativas dos encontros corporais

TEXTO Pethrus Tibúrcio

01 de Agosto de 2014

'Darkroom'

'Darkroom'

Foto Breno César/Divulgação

O encontro com o outro e consigo acontece, geralmente, dentro de quatro paredes. A expressão da nossa sexualidade é mais comum e mais intensa na privacidade de uma porta trancada. A exploração desses ambientes físicos e das narrativas que neles se dão são temas do espetáculo Darkroom, em temporada no Recife, aos sábados e domingos, no Espaço Vila, sempre às 19h, sob direção de Marcelo Sena.

Assinado pela Cia Etc., o espetáculo tem mais de três anos de palco. O grupo trabalha com questões relacionadas ao corpo desde 2000, somando mais de 20 criações que envolvem dança e videodança. Segundo Marcelo Sena, a companhia surgiu justamente da ausência de espaços para o tipo de trabalho por ela desenvolvido, isso, ainda em Aracaju.

Preparados por um intenso processo de pesquisa, os integrantes assinam a concepção colaborativamente. Para este texto, eles passaram pela teoria queer, de Judith Butler, que discute identidade de gênero, e pelos estudos culturais. “Esta necessidade apareceu quando começamos a pensar como trabalharíamos o corpo do bailarino dentro de cena. Nas coreografias, por exemplo”, diz Sena. Ele conta que, depois da preparação a partir de textos, eles partem para estudos práticos nos laboratórios de criação.

De 2011 para cá, desde que a apresentação começou a rodar, Darkroom passou por diferentes montagens e plateias. Hoje, em uma segunda formação, o elenco é composto por Elis Costa, José W Júnior, Marcelo Sena e Renata Vieira. Quanto ao público, o trabalho já passou por cidades como João Pessoa, Petrolina e Manaus. Depois desse percurso, os integrantes afirmam perceber interferências desses espectadores na nova montagem.

Os quatro artistas participam de quase todos os elementos que compõem o espetáculo. Dois itens da sonorização, por exemplo, foram construídos coletivamente. Recentemente, a companhia começou a explorar o conceito de “audiodança”. Durante a pesquisa, uma das definições – que são mutáveis e estão em construção – que o grupo apresentou foi: “produto do encontro entre a dança e a música, quando o som assume a representatividade da corporeidade fundamental à dança”.

A trilha sonora é construída por Marcelo Sena junto à banda Rua, com as vozes dos intérpretes e sons produzidos por seus corpos. “O princípio era não usar a música apenas como um elemento de suporte da coreografia, mas como uma extensão dela”, conta Sena.

Além das 10 apresentações que acontecerão neste primeiro momento, o grupo segue com o projeto depois de agosto, com pelo menos mais seis apresentações. Uma série de outros desdobramentos estão previstos, como uma mesa-redonda com os artistas pesquisadores e uma demonstração da pesquisa prática através de experimentos corporais realizados com outras pessoas. 

PETHRUS TIBÚRCIO, estudante de Jornalismo e estagiário da Continente.

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