José de Oliveira, o Zé da Macuca, nascido em Palmeirina em 1954, comenta o período do festival com euforia. “É uma sensação de alegria quando chega o povo, quando aparecem os meninos com as mochilas nas costas e vejo o pessoal acampado. Acho bonito, fico feliz. Mas na hora em que vão saindo é a mesma felicidade…”, ri, emendando que também ficam a saudade e o sentimento de solidão.
Após ter vivido em Garanhuns dos 6 aos 19 anos, José de Oliveira foi morar em Sergipe, onde estudou Geologia e se tornou chefe do departamento desse setor em uma indústria de cimento. Mas sentiu falta de casa e do futebol que costumava jogar por lá. “Resolvi formar um time de futebol de salão.” O time da empresa em que trabalhava jogava toda quarta-feira; na quinta, ele ia a um bar na praia onde se tocava MPB. “Percebi que, no futebol, a gente joga, perde, leva canelada, se aperreia, e depois volta para casa com um carro cheio de marmanjos. No bar, não: a conversa era boa, as mulheres chegavam mais perto, a gente falava sobre natureza, poesia. Voltei para cá”, brinca, sustentando o motivo para viver hoje no município de Correntes, na antiga fazenda do pai.
Com uma kombi emprestada e carro lotado, levou vários amigos para comemorar seu aniversário na fazenda, localizada a quatro horas do Recife, cujo entorno é repleto de pequenos distritos de aparência tranquila, numa estrada com margem pontuada por capelinhas para os mortos. O aniversário foi logo depois de um carnaval de Olinda, ele recorda, justificando que consegue medir a passagem do tempo por quem namorava na época. O sanfoneiro foi essencial àquela festa de 1989, considerada a primeira Macuca.
“Não tinha prato, nem talher, e a cerveja tinha que ser aberta no dente; também não tinha copo.” Mas teve gelo, música e vontade de permanecer no lugar. Naquele momento, sua vida mudaria e a dos que passaram a colaborar com ele no evento que hoje entra no calendário cultural do estado como o Boi da Macuca, atraindo pessoas locais, da região, de estados vizinhos e mesmo de fora do Brasil.
Zé da Macuca conta a história de uma alemã que, tendo visitado o interior pernambucano, ouviu falar do festival e resolveu ir conhecê-lo. Chegou depois do cortejo, mas gostou do local e nele permaneceu uma semana. “Oito anos atrás, ela voltou e andou comigo a região todinha. Foi embora para a Alemanha e, dois anos depois, trouxe o pai e a mãe de Hamburgo até aqui.”
José de Oliveira, que não se incomoda com as novidades, apesar de manter distância delas, pensa que a produção agrícola na região tem diminuído por causa da dificuldade de entender a frequência das chuvas. “Mas, relacionado a isso, em 2015 vai acontecer um fato interessante, que vocês deveriam presenciar: Seu Zé Preto, que passou 30 anos trabalhando aqui, e já tem quase 90 anos na agricultura, vai completar 100 anos de idade. Ele é um agricultor durinho, inteirinho e disse que vai pagar um boi com as suas economias para todo mundo comer na comunidade de Poço Comprido, e a gente vai levar o Boi da Macuca daqui até lá. Um raro agricultor… Ninguém planta mais não.” Tecendo laços, como esse, com as comunidades ao redor, Zé da Macuca, que vive sozinho na fazenda, conta que se sente seguro. Durante os dias de festival, ele deixa uma lista escrita à mão com pessoas que moram nos arredores, para que elas tenham entrada liberada na sua casa.
LAÍS ARAÚJO, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.