A monumentalidade da obra de Pollock não se encontra nas grandes dimensões que falseiam os conceitos de obra magnífica. Monumentalidade pode ser entendida também como ausência de dimensões, a característica que uma obra de arte tem de ser grandiosa tanto vista diretamente como em uma reprodução. A Guernica, de Picasso, é uma obra monumental de grandes dimensões, porém, suas gravuras da série Tauromaquia são pequenas, mas também monumentais. Pollock foi um pintor de grandes quadros, cuja maioria – os de sua fase madura – era pintada com a tela estendida no chão. Ele disse que pintava, assim, inspirado nos índios que faziam desenhos de areia no oeste americano.
No Brasil, com exceção de quem viaja, suas obras só são conhecidas através de reproduções – nem por isso, quem vê uma imagem de sua obra pela primeira vez deixa de se impressionar e, talvez, notar que ele é um dos maiores artistas do mundo. Sua forma de pintar sem dizer nada, sua maneira de derrotar qualquer sugestão temática com a representação textural da pintura, sua agressividade poética são coisas que não passam despercebidas do olhar mais complacente.
O crítico de arte Clement Greenberg, famoso pelo teor filosófico que imprimiu em seus ensaios sobre a arte moderna, foi seu grande amigo e teórico, e o chamou de o melhor pintor de sua geração, não só pela surpreendente força de sua obra, mas também pela atitude renovadora do seu “fazer” artístico, transformador da “pintura de cavalete”.
Ao lado da colecionadora Peggy Guggenheim, mulher do pintor Max Ernst e herdeira da fortuna de Salomon Guggenheim, fundador do museu que leva o nome da família – homenageando o filho desaparecido numa excursão pela África em busca de objetos de arte autóctone –, Greenberg sacralizou para o mundo a maturidade moderna da arte americana, ao dizer que a melhor produção da arte de vanguarda não estava na Europa, mas na América. Dessa arte, Pollock foi o mais apolíneo representante, e, da arte de sua época, o mais dionisíaco contestador. A arte americana deve, portanto, a Greenberg o aval à geração que ocupou seu lugar definitivo no mundo, geração centenária, hoje.
O álcool e a velocidade tiraram Jackson Pollock do convívio das gentes numa noite de farra, quando virou seu carro numa curva da estrada. O artista subiu aos céus das estrelas de uma sociedade que ancora seus sentimentos na ideologia do sucesso, e que chora seus mortos como se os aplaudisse.
RAUL CÓRDULA, artista plástico, crítico de arte e ensaísta.