Strips! é dividido em duas partes. A primeira traz a série de histórias – geniais, diga-se de passagem – conhecidas como A atriz e o bispo, que mostram uma atriz sensual, e usando pouca roupa, convivendo com um bispo trajado com os paramentos tradicionais do cargo.
Ao contrário do que se pode pensar, não há pornografia, nem cenas de sexo, nem frases chulas, nem críticas abertas à Igreja. Apenas uma narrativa que beira o surreal e o nonsense, bem ao estilo do igualmente britânico Lewis Carrol.
O desenho utilizado por Bolland também é inusitado, pelo menos para os que estão acostumados a acompanhá-lo nas tramas de super-heróis. Nesse caso, observa-se preciosismo e domínio técnico excepcionais: cada quadrinho é desenvolvido com tamanhos detalhes, que, em alguns momentos, lembram os traços de autores clássicos, como Will Eisner. Prova de que Briand Bolland domina o desenho e é capaz de transitar por vários estilos.
O conjunto – argumento e traço – transforma as histórias dessa improvável dupla num dos trabalhos mais fascinantes da geração de ingleses. Com ele, Bolland não tem nada a dever a Alan Moore ou Gaiman.
A segunda fase do livro é mais conhecida e tem o traço mais sujo e rápido, típico do cartum e da crítica: nela se poderá rever as desventuras do sr. Mamoulian, um homem de meia idade às voltas com diversas questões existenciais. Muitos afirmam que as histórias são autobiográficas. Elas também refletem o humor melancólico e inteligente dos britânicos. Mestres da elegância e do nonsense.
DANIELLE ROMANI, repórter especial da revista Continente.