Natascha Falcão, uma mulher que não deixa junho acabar
Cantora, compositora e atriz pernambucana, com uma indicação ao Grammy Latino, artista vem ampliando o forró como expressão urbana da música contemporânea brasileira
TEXTO Bruno Albertim
02 de Junho de 2025
Foto Maika Mano/Divulgação
Filha de uma brasileira com um nigeriano, a paulistana Clara Moneke quase desistiu da carreira quando, em 2020, sua mãe morreu em decorrência de um acidente vascular cerebral. Por insistência de Marcelo D2, a paulistana de 26 anos, crescida no Rio, fez um teste. Aprovada para o elenco da novela Vai na Fé (2023), seguiu confirmando a intuição do amigo músico. A atriz confirma também a tendência de revisão do racismo estrutural histórico da TV brasileira.
Moneke faz girar em torno de si a trama de Dona de Mim, atual folhetim em cartaz no horário das sete na Rede Globo de Televisão. A cada vez em que a personagem Leona, uma jovem negra, entre a alegria e o perrengue no bairro carioca de São Cristóvão, onde desde 1945 migrantes mantêm uma feira dedicada à cultura nordestina, a voz de doce firmeza de Natascha Falcão ecoa pelas televisões do Brasil. Como Moneke, Natascha, à sua maneira, vem rompendo barreiras.
A pernambucana amplia o forró como expressão urbana da música contemporânea brasileira. “O samba e o baião, desde Gonzaga, são os ritmos regionais mais bem incorporados à linguagem da MPB. O aparecimento de cantoras como Mariana Aydar e Natascha Falcão confirma o alcance nacional e uma nova onda de interesse sobre o forró”, retifica o crítico pernambucano José Teles.
Nordestina do Recife, atriz, cantora, uma indicação ao Grammy Latino, um EP recém-lançado e outro em andamento, Natascha Falcão, 35 anos, é figura comum e reverenciada em espaços novos e tradicionais ligados ao forró no Rio de Janeiro - cidade onde vive há mais de dez anos. Em menos de dois, esta é a terceira vez em que sua voz é escalada numa trilha de novela da Rede Globo, ainda a maior do ramo, emissora que consolidou o gênero como o mais popular da dramaturgia nacional. Sua presença na TV, em palcos pelo Brasil e festivais internacionais informa: Natascha Falcão é um novo nome na seara da música nordestina contemporânea. “Natascha tem uma versatilidade que pode estar perfeitamente entre o pop e a MPB”, diz a veterana produtora Carla Yared, empresária da cantora. “Pode cantar o que quiser, mas sempre estará com o Nordeste dentro dela. O grande lugar dela é o forró.”
Dona de Mim estreou no mesmo dia em que a nova Odete Roittman deu as caras para os brasileiros no corpo da atriz Débora Bloch. Enquanto o remake de Vale Tudo marcou 20,8 pontos de audiência, a trama de Rosane Swartman alcancou 21,9 pontos na segunda-feira, 28 de abril. Segundo o Painel Brasileiro de Televisão, cada ponto de audiência corresponde a 268.083 domicílios com TV pelo País. A voz de Natascha, portanto, convive atualmente com os lares brasileiros.
Na atual novela das sete, o canto doce, preciso e sussurrado de Natascha Falcão modula os versos de Anjo Querubim, composição do caruaruense Petrucio Amorim cujo lirismo vem ganhando a audição de jovens plateias Brasil afora em novas versões com os versos: “Fiz você pra mim / meu brinquedo / meu anjo querubim / Meu segredo guardado só pra mim / Meu amor mais louco (…)”. Quando a personagem de Moneke apareceu no capítulo de abertura, a voz de Natascha soou por dois inteiros minutos – uma eternidade para os atuais padrões de edição fragmentada da TV.
“Foi emocionante ver isso acontecer. Porque Anjo Querubim é uma espécie de hino para os pernambucanos, mas uma canção muito pouco conhecida nacionalmente. Pela terceira vez, uma música minha participa de uma trilha de novelas. De novo, um forró. E cantar uma música da minha terra tem todo um significado. É sempre uma espécie de volta para casa e de trazer a casa para o Brasil”, ela diz. “Com um detalhe ainda mais especial. Porque, apesar de a trama se passar em São Cristóvão, não é necessariamente uma história com personagens nordestinas ou ambientada no Sertão.”
Sua estreia na TV, na novela Vai na Fé (2022), a cantora fez uma pequena participação como atriz. Interpretava uma amante do personagem do ator José Loreto. Em Mar do Sertão (2022), atuou outra vez. Porém, interpretando a si mesma. Com seu nome anunciando no capítulo, aparecia como uma cantora que entoava forrós românticos na cena de casamento dos personagens principais que marcou o desfecho da trama. De chapéu de cangaceiro estilizado sobre os longos cabelos cacheados, animou a cerimônia fictícia com Banho de flor – um forró lírico, composição sua e de Marina Duarte.
O nome de Natascha passou a circular com mais frequência pelo Rio de Janeiro depois da indicação ao Grammy por Ave Mulher (2023). Lançado pela Biscoito Fino, um álbum em que transita por uma paisagem sonora que vai do coco e ciranda, maracatu e frevo, a flertes com o Mangue Beat. Ali regravou, por exemplo, Por que (2001), do contemporâneo Otto, ao lado de Balada da sibita baleada (Anaíra Mahin) e Seu grito (Aurinha do Coco). Com Feito vento (com Marina Duarte) e Mastigar estrelas (com Rafael Duarte), Banho de Flor era uma das faixas autorais do disco.
No burburinho do Grammy, recebeu uma ligação de Ricardo Leão. Um dos diretores musicais da Globo, ele queria que ela compusesse algo para a novela das seis em pré-produção. Depois de ouvir a voz da cantora numa guia, ele repensou a ideia. Em vez de uma canção nova, impressionado com o timbre da pernambucana, lhe disse que possivelmente ela gravaria algo com Elba Ramalho. Quase paisagem do Nordeste, a voz da paraibana, segundo o diretor, precisava estar em diálogo com alguém da nova geração. Como se passasse um bastão. “O mercado precisa de alguém com a sua energia, uma nova Elba”, disse Leão.
“Eu fiquei maravilhada, porque, afinal, foi uma comparação muito honrosa. Elba, uma mulher nordestina que, como eu, também vem do teatro, sem ser filha de ninguém, amiga de ninguém, chegou no Rio e começou uma carreira do zero”, relembra Natascha. “Foi um grande presente cantar com uma cantora da importância dela”, diz, comemorando a democratização de seu canto por via eletrônica. “Numa novela, nossa música sai dos ambientes de sempre e chega na casa das pessoas, todos os dias.” Nas vozes de Elba e Natascha, No Rancho Fundo, clássico nas vozes de Chitãozinho e Xororó que deu nome à trama, virou o tema de abertura da novela.
Além de cantar na abertura, a também atriz acabou escalada para cantar durante a trama. Na pele na personagem Lola, soltava a voz como uma das meninas do Cabaré Voltagem, uma animada casa de favores no sertão. Acabaria também por marcar uma terceira presença no folhetim. Escolhida entre as faixas do álbum Ave Mulher, sua versão tangueada do baião, da sertaneja do Pajeú Bia Marinho, seria escalada como um dos temas da personagem Zefa Leonel, uma mulher de fibra, feminista jagunça, vivida por Andrea Beltrão.
Lançada antes, em 2017, como single nas plataformas de streamming, "Adeus" havia sido a canção que dera certeza a Natascha de que ela seria cantora. “Lançar 'Adeus' foi a materialização de um sonho muito antigo. A música sempre foi um sonho meu, de ser uma artista que canta, que interpreta. A primeira vez que ouvi essa música com Bia Marinho, pensei, meu Deus, parece que fui eu que escrevi essa música”.
CRIADA POR VÓ
Natascha Falcão é filha de um surfista e futuro policial federal com uma adolescente que seria um das mais prestigiadas modelos do Recife. Virgínia Falcão engravidou de Rogério Nolasco Pinheiro quando tinha apenas 15 anos. Ao anunciar a gravidez, a futura avó da menina decretou: “Tenha a criança, que eu vou criar”. “Os dois eram muito ligados à arte, à criação. Meu pai tinha feito até sapateado, mas foi minha avó, que eu chamo de Mainha, quem me criou, porque Virgínia, minha mãe biológica, era muito nova.”
Mal abriu os olhos, a menina estava nos braços e casa de Dona Swame Falcão. A avó nascera em Belo Jardim, Agreste de Pernambuco. Se mudara para o Recife para acompanhar a educação e passos da filha Virgínia. “Nos anos 1950, ainda em Belo Jardim, ela era já uma sonhadora. Sentava no banquinho da praça e dizia, meio brincando, meio levando a sério, que um dia iria para Holywood”, lembra a neta. “Ela me ajudou muito a despertar minhas vocações. Me apresentou às grandes divas do cinema.”
A avó não teve acesso à própria certidão de nascimento. “O povo da família dizia que ela tinha sido achada num navio. E tinha sonhos tão grandes, morando no interior! Se não fosse por ela, eu não teria sonhado tão alto. Ela embarcava nas minhas loucuras. Eu queria fazer O Mágico de Oz, e ela me ajudava”, ri.
Além da beleza proverbial, os cabelos fartamente cacheados, Natascha herdava da mãe biológica a convivência, ainda muito nova, com artistas e profissionais da moda no Recife. “Pequena, eu queria os melhores costureiros, maquiadores, cabeleireiros. Me montava toda para fazer meus espetáculos escolares”, ela ri.
Melhor amiga da mãe Virgínia, a também modelo e atriz Fabiana Pirro guarda na memória a infância fantasiosa da artista. "Ela pequena, em casa, fazendo teatrinho de brincadeira, e já uma coisa tão intensa, tão levada a sério. Pegava uma vassoura, um negócio, improvisava uma roupa da mãe para fazer um figurino, parecia uma profissional pequenininha. Ela já era do babado", diz Pirro.
Adolescente, a menina costumava ver a “tia” Fabiana Pirro em cartaz nos teatros do Recife com espetáculos como Caetana ou Divinas. “Ficava encantadíssima com ela.” Uma tarde, Natascha interpretava um texto de Osman Lins numa livraria do Recife. Fabiana lhe apareceu à queima-roupa: “É isso mesmo que você quer fazer da vida?” A menina assentiu e, como resposta, foi convidada para entrar para a companhia do diretor português Moncho Rodrigues, então radicado no Recife com seu teatro de humanos e bonecos em cena. A estreia profissional viria com o musical Caxuxa: “A música sempre esteve presente no teatro”.

Em Londres, depois de conseguir uma bolsa para estudar inglês, a jovem artista soube que Moncho estava conduzindo um programa de integração de atores ibéricos e brasileiros entre Portugal e Espanha. “Fui passar uma semana para conhecer o programa. Acabei ficando quatro meses. Morávamos entre os dois lados da fronteira, em casas de padres e pensões. Entre as montagens, O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. “Foi maravilhoso. Moncho era um gênio, atuávamos com bonecos do tamanho do nosso corpo.”
De volta ao Recife, vieram duas faculdades seguidas; uma de Moda, outra de Jornalismo. “Moncho me diza: ‘Teatro não se aprende na escola, vá estudar outra coisa. E eu fui estudar, para ficar sabida, ela ri. Minha vida era de altos e baixos.” Natascha chegou a ser apresentadora de um quadro sobre cultura num programa da insipiente WEB TV, mas o bichinho do teatro nunca parava de lhe rondar. “Dava um jeito de fazer uma peça onde quer que estivesse. Queria ser artista a todo custo.”
Tudo era ainda incerto. Natascha ouvira falar de Angel Viana, cujo centro de pesquisas e filosofia do movimento, no Rio de Janeiro, fazia a cabeça de jovens artistas pelo método de fundir e quebrar barreiras na arte. Comprou a passagem e, não desconfiava ainda, o primeiro passo para fazer da cidade sua morada. “Ângelo me disse: as pessoas são como nuvens, estão sempre se transformando. Aquilo, de alguma forma, me incentivou a ficar”.
A estreia como atriz profissional no Rio viria com o espetáculo Las Panamericanas, sucessos de ontem, hoje e sempre, uma comédia que cumpriu temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, antes da pandemia, com uma síntese híbrida das linguagens que tomariam o corpo da artista: a encenação realista, a comicidade lúdica, a palhaçaria e, claro, a música. “Minha vida foi sempre um emaranhado de experiências, de altos e baixos, mas quando eu cheguei na música, tudo de fato fez sentido”. Com a peça, ganhou o Prêmio de Humor do programa de Fábio Porchat no canal Multishow. Mas veio Covid-19, os teatros fecharam e a temporada foi interrompida.
A artista era figura já meio frequente nos cabarés e bons inferninhos do Rio de Janeiro. Músicos do Norte do País marcavam ponto nesses ambientes. Natascha foi convidada para ser a voz feminina da banda Pirarucu Psicodélico, um coletivo paraense que se apresentava pelas ruas com sua mistura lisérgica de carimbó, caribenho e rock'n'roll em atitude carnavalesca. "Me davam uns apelidos absurdos, muito engraçados", ela ri. Na noite, Natascha começava a ser chamada de coisas como Lady Gaga Tropicana e Björk do Ceará.
A vida mambembe tinha seus perrengues. Numa noite de 2015, o som quebrou. A Bacurau Psicodélico teve que interromper um show numa praça no bairro de Santa Tereza. À capela e percussão, Natascha puxou uma pérola do repertório de Dona Aurinha do Coco, a coquista de Olinda. Um silênico reverente tomou conta do lugar. Segundos depois, a roda de brincantes ia crescendo. "Me arrepiei todinha e pensei, meu Deus, é isso! Eu continuei cantando, e as pessoas prestando atenção em mim. Foi a primeira vez em que aconteceu."
A mesma epifania aconteceria tempos depois. Natascha visitava a mãe Virgínia, morando em Berlim. Numa roda de músicos à beira de um rio, pediu para cantar e viu a audiência gringa, pouco a pouco, lhe prestar reverência. A intuição tomava forma de consciência: o canto de Natascha Falcão viria de suas origens primeiras. Ela seria uma cantora do forró e dos ritmos do Nordeste de onde vem. “Apesar de criada no Recife, sempre fui muito agrestina. Até no sotaque. Sou uma cantora. posso cantar o que quiser. Mas há uma provocação de comunhão muito grande quando eu canto algo do tipo, 'Quando eu vim do Sertão, seu moço...'. A música, afinal, é um território".
Forrozeira assumida, Natascha é, sem contradições, uma legítima cantora do pop contemporâneo - um cenário musical não excludente em que sonoridades de DNAs diferentes não rivalizam; antes, harmonizam-se. É uma das vozes, por exemplo, no elenco no show Viva Gal, um tributo coletivo criado depois da morte da tropicalista em 2023, reunião em cena de nomes como Juliana Linhares e Simone Mazzer.
No último sábado de abril, diante de um Circo Voador lotado para ver um show de celebração de carreira da baiana Simone, ela subia ao palco ao lado da amiga Julia Vargas para estrear o show Lee Gal, um passeio reverencioso e apaixonado pelos repertórios de Rita Lee e Gal Costa. Apesar de ainda tatearem algumas notas e intenções, deixaram a cena ovacionadas pelo público. E contempladas pela crítica: “Houve alma e houve verdade quando essas duas cantoras de vozes potentes e calorosas seguiram roteiro que promoveu a convergência dos desbundes de Gal e Rita”, escreveu o veterano Mauro Ferreira, em sua coluna carioca no portal G1, conhecido pela pouca disponibilidade para concessões. “Ambas vêm há anos tentando se fazer ouvir em um Brasil corroído pelo pop ralo, vigente no mainstream do mercado musical.”
Com a indicação ao Grammy Latino como artista Revelação, a pernambucana teve também o privilégio de ser uma das atrações a cantar na cerimônia realizada na cidade espanhola de Sevilha. “Fiquei fora do ar por uns dois dias. Foi gigante, muito emocionante, principalmente por eu ser uma artista independente, nordestina, que fez um álbum na raça, ainda durante os tempos dilatados da pandemia”, ela lembra.
Na sequência das apresentações que vieram, alguns dos momentos mais talhados na emoção da artista foram a de cantar na sua terra – em casas como a Casa Estação da Luz, em Olinda, na cidade sertaneja de São José do Egito e no Teatro do Parque, onde apresentou o show Ave Mulher com sua banda no final do ano passado. “Cantar em casa é de uma emoção sem igual. Lembro de mim mais nova, quando eu já queria gravar um disco e não podia. Não tinha como pagar os músicos, pagar estúdio. A música, profissionalmente, era algo muito inacessível”.
Entre as escalas desse currículo recente, está também a alegria de ter participado, em Itamaracá, dos shows de comemoração dos 80 anos de Lia de Itamaracá, no ano passado. “Natascha é minha menina”, derrete-se Lia. “Desde que ouvi algo dela e ouvi falar sobre ela, fiquei com vontade de fazer uma parceria assim. O meu aniversário, lá em Itamaracá, chamamos de O Canto da Sereia. Natascha foi minha convidada pra festa e subiu comigo no palco, fez um show lindo e se tornou a sereia da festança. Eu só ia participar cantando duas músicas, mas fiquei mais porque essa menina me cativou. Linda, maravilhosa, uma danadinha. Ela vai brilhar muito ainda."
No EP Universo da paixão, gravado em maio do ano passado, além da autoral Melhor assim (parceria com Beto Lemos, com quem Falcão assinou a produção musical do disco), Natascha trouxe delicadeza e insuspeitos alcances poéticos a temas do chamado forró eletrônico que varreu o País na década de 1990. Da banda Magníficos, por exemplo, deu novo alcance a Me usa. Da cearense Calcinha Preta, Agora estou sofrendo. Nos arranjos, as composições perderam os cacoetes eletrônicos dos lançamentos originais e ganharam sonoridades entre o pé de serra e a canção romântica brasileira.
Atualmente, a cantora cumpre expediente no estúdio da gravadora carioca Biscoito Fino, onde grava o EP Universo de Paixão 2. O repertório ainda está em definição, mas já tem como certo o universo das composições dos grandes mestres do forró. Além de uma versão em forró para Beija-flor, sucesso baiano da Timbalada, vão constar clássicos absolutos como Banquete dos signos, a composição de Zé Ramalho sobre “Discutir o cangaço com liberdade/saber da viola, da violência (…)”. Outra certa é Desilusão, de Anastácia e Dominguinhos. “Uma canção de amor lindíssima, com aquele acordeon de fazer chorar de lindo de Dominguinhos.”
No São João, ela espera estar em sua terra. “Petrúcio Amorim e Josildo Sá já me chamaram para cantar com eles, no Sítio Trindade. Quero muito definir por lá também a agenda dos meus shows”, ela diz. Em julho, a cantora embarca para o Mimo Festival, na cidade portuguesa de Amarante, de onde emenda uma turnê europeia. Entre as paradas, uma noite no palco principal do prestigioso festival suíço Buskers Bren. “É muito bom correr mundo representando nosso forró, nosso sotaque, uma música que não está no mainstream. Graças a Deus, desde o Grammy Latino, minha careira vem ganhando esses espaços internacionais.”
O ano deve seguir como ampliação particular de sua cultura junina.“O forró é vivo, ele se transforma. É tanta coisa, é o pé-de-serra, o estilizado, o piseiro. Uma música do Agreste e do Sertão, mas também uma música urbana.” Ao dilatar os tempos e espaços do forró, Natascha Falcão, afinal, é uma mulher que não deixa junho acabar. “Quando eu canto a música da minha terra, é muito forte. O sagrado e o profano estão sempre ali, coladinhos. A música, a festa, o amor, a fé, a poesia, tudo isso circula dentro da gente, dentro de mim. É atemporal”.
BRUNO ALBERTIM, jornalista e autor de Tereza Costa Rêgo, uma mulher em três tempos (Cepe) e Nordeste – Identidade comestível (Massangana)