Entre os grandes parceiros artísticos de Jean Giraud-Moebius, nos seus 73 anos de vida, destaca-se Dan O’Bannon, com quem produziu The long tomorrow. Mas foi com Alejandro Jodorowsky que ele manteve a colaboração mais duradoura e bem-sucedida. Com o argumentista chileno, lançou Incal, que o coroaria como maior ilustrador mundial de ficção científica.
Lançada em capítulos entre os anos de 1981 e 1988, a série mostra os apuros vivenciados pelo detetive John Diffol, que se vê às voltas com um ser mítico, o incal que dá nome ao livro, e que nos leva a passear por um mundo cyberpunk, com castas superiores e inferiores, pelas quais são caracterizados os indivíduos – assassinos interplanetários e seres inconcebíveis. A saga completa, numa edição bem cuidada, foi lançada no Brasil pela Devir Livraria, coincidentemente, semanas antes da morte do francês.
Moebius também costumava escrever as próprias histórias. A garagem hermética é sua obra seminal: protagonizada pelo Major Gurbert, a série é confusa, mas nem por isso deixou de arrebatar milhares de fãs, que se renderam ao desenho preciso e às situações inusitadas criadas pelo autor. Estudiosos da sua obra afirmam que ele a desenhava sem saber exatamente o que iria conceber. Por isso, o nonsense dos acontecimentos. Dizem que ela era, na verdade, um espaço para o exercício da escrita e da ilustração.
Arzach, um herói alado é outro trabalho magistral, pautado praticamente na narrativa visual. Os que procuram argumentos mais consistentes, e mais fantásticos, beirando o horror, terão em Absoluten calfeutrail e Outras histórias um bom canal para conhecer a narrativa absurda, onírica e com fortes pitadas de terror produzida pelo autor.
A obra do artista francês também conta com o lado pop. Juntamente com Stan Lee, um dos ícones da Marvel Comics, Moebius recriou O surfista prateado, numa graphic novel considerada um dos marcos dos anos 1980, que terminou adaptada para o cinema por Hollywood.
DANIELLE ROMANI, repórter especial da revista Continente.