Em Eu menti para você, ela já ensaia a temática, inclusive na confissão explícita no título da música. Um disco no qual ela escancarou sua face oculta, mas sem ansiedades: “Sinceramente, eu não estava preocupada com isso. Lógico que queria ver a repercussão que teria. Para mim, foram maravilhosas as críticas elogiosas, a aceitação, assim, de exclamar, ‘Puxa, eu consegui’”, comenta Karina, que passou bem pelo teste do segundo disco. Os elogios novamente foram quase unânimes na imprensa, ela foi incluída, pela MTV americana, numa disputa para as Top 5 “descobertas” mundiais do final de novembro.
Assim como a Rita Lee dos bons tempos, Karina Burh está à frente de uma banda de marmanjos, e dos mais talentosos do rock brasileiro. Aliás, uma das melhores do país: a luxuosa dupla de guitarristas Edgard Scandurra e Fernando Catatau, e o aclamado trompetista Guisado. Mais André Lima, no teclado, Bruno Buarque, baterista, e Mau, baixista, esses dois coassinam a produção com Karina (repetindo a dose do CD anterior).
Rita Lee foi a primeira mulher do rock nacional a ir à luta, e assumir que estava num mato sem cachorro, e que não precisava de cachorros. Foi a ovelha negra da família roqueira feminina tupiniquim. Karina Buhr vai por aí. O tempo inteiro, ela assume sua fragilidade feminina, mas também sem parar de ressaltar que está consciente de tal condição, e pronta para o que der e vier. Nisso, ela se garante na originalidade da temática amorosa: “E eu te peço que/ se aproxime de mim um pouco/ mas não tanto/ a ponto de eu sentir sua falta/ quando você for embora” (Amor brando).
Algumas críticas ouvidas em relação a Karina Buhr dizem respeito à voz, sem muita extensão, sobretudo para o rock. Ora, há anos, voz é funcionalidade. A citada Rita Lee nunca teve essa voz toda, e segura a onda há mais de 40 anos. O importante não é a extensão, é saber usar. E isso Celly Campelo, no final dos anos 1950, já ensinava. A turnê de Longe de onde começou dia 18 de novembro, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e aporta dia 27 de janeiro, no Teatro Guararapes, no Recife.
JOSÉ TELES, jornalista, crítico de música e escritor.