A argamassa para tudo, José Rufino prossegue, ele carrega desde os anos 1980, quando se reconheceu como artista: “Os microcontos falam de ciúmes, amor, solidão, violência, ausência, ou seja, as experiências da condição humana, que são temas que sempre trato nas minhas obras”. A concisão chega ao extremo em pérolas como Ataque, composto por apenas duas frases: “O corte era fundo, curto, mas não doía nem sangrava. Somente sua alma vazava em decepção”. “De fato, há algumas pancadas violentas e contos que tendem ao afago, e ainda há vários que, de alguma maneira, fazem o vínculo com a minha formação pessoal, como quando uma criança entra numa conversa de adultos e de repente solta uma palavra que silencia a todos”, testemunha Rufino.
Sua trajetória como artista e escritor seria outra, se ele não houvesse cruzado a fronteira da Paraíba. “O Recife foi fundamental na minha vida. Foi aqui, na Livro 7, na Síntese, na Imperatriz e no Sebo Brandão que montei minha biblioteca de poesia, com João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira, Octavio Paz e Ezra Pound. Quando li O cão sem plumas, de João Cabral, fiquei três dias com febre. Voltei à Livro 7 e comprei todos os exemplares. Ainda nos anos 1980, tinha uma paixão pelos poetas concretistas, como Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, e também admirava o trabalho de artistas como Montez Magno, Daniel Santiago e Paulo Bruscky. Tudo isso veio a formar o leito por onde eu ia seguir”, recorda.
Emile Zola, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Enrique Molina, Raduan Nassar, Gabriel Garcia Marques, Thomas Pynchon, Marcel Proust, Pablo Neruda “e os russos todos por causa da minha mãe” são eleitos por ele como influências literárias. Contudo, mais do que listar as obras que o arrebataram, o que José Rufino mais gosta de fazer na iminência da sua estreia literária é saborear a infinidade de janelas por onde adentrar: “O artista plástico que sou tem uma única voz. Não sou popular, não sou naïf. Agora, escrevendo, posso ser qualquer coisa”.
LUCIANA VERAS, repórter especial da revista Continente.