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Joelson: Em busca da simplicidade

Seis anos depois de ter coberto parte de sua casa-ateliê de papel de seda verde, artista leva a proposta para dentro da Galeria Janete Costa

TEXTO Mariana Oliveira

01 de Janeiro de 2014

Foto Paulo Melo Jr./Divulgação

As ruas do Bairro do Poço da Panela, zona norte do Recife, ainda preservam o clima bucólico de outras épocas, com o predomínio de casas em detrimento dos espigões que se espalham ao redor. É na tradicional Rua dos Arcos, nº 270, que vive Joelson. A casa, além de abrigar sua família, funciona como ateliê e galeria. Ao entrar, o visitante percebe a identidade e a memória daqueles que vivem ali. Seus gostos estão expressos nos copos, na forma de dispor as luminárias, nas obras do artista que ocupam todos os recantos do espaço. Tudo isso dá uma enorme personalidade à casa. Nada parecido com as residências hermeticamente projetadas e padronizadas que dizem tão pouco sobre seus donos.

Em 2007, quando o artista repensava sua inserção no mercado da arte e sua relação com as galerias, ele decidiu fazer uma intervenção que representasse sua busca incessante pela simplicidade e, ao mesmo tempo, criticasse a padronização e a falta de personalidade dos ambientes residenciais. “Para mim, ser familiar é ser simples”, pontua.

Ele cobriu toda a sala de estar e cozinha de papel de seda verde, empacotou cada um dos objetos, um a um, inclusive aqueles que estavam dentro dos móveis. Durante dois meses, recebeu amigos e público nessa intervenção que batizou de Casa simples. “Essa mostra foi muito reveladora, me fez refletir sobre meu trabalho, minhas escolhas, a decisão de permanecer sem uma galeria que me representasse. Enfim, é um marco na minha carreira.”

Agora, seis anos depois, Joelson vai levar sua sala de estar (e praticamente tudo que está nela) para dentro da Galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu, na mostra Demasiadamente simples. Apesar de ter uma série de pinturas prontas, o artista optou por retomar o trabalho anterior, pensando na harmonia com o espaço físico da galeria.

Essa transposição das peças e objetos de um ambiente íntimo para um público, onde poderão ser vistos por todos, funciona como uma negação da “galeria”. Quem visitar a mostra vai entrar na intimidade do artista, em que ele vive sua privacidade com sua família. Contudo, ao mesmo tempo em que revela, Joelson também esconde. O papel de seda entra como uma fina e delicada “barreira”. Arte e vida se embaralham naquele espaço homogeneamente verde. O papel tenta tornar todos os objetos iguais, mas sua delicadeza não permite. Mesmo embrulhada, cada peça continua sendo única.

Em Casa simples, ele, a mulher e o filho também se cobriram com papel de seda verde durante a abertura e tiveram que mudar sua rotina familiar, já que o coração da casa estava embalado, tornando atividades corriqueiras, como cozinhar, impossíveis. “Minha ideia é que as pessoas tenham uma experiência sensorial com aquele ambiente”, afirma. Com a instalação de Demasiadamente simples na Galeria Janete Costa, ele pretende novamente se cobrir de verde junto com sua família e terá sua rotina residencial alterada, já que boa parte dos seus objetos estarão fora da casa, fora de sua rotina.

A opção pela cor verde se explica por sua adoração pelas plantas, que se espalham pelo jardim e quintal da casa no Poço da Panela, muitas delas semeadas por ele, que instalou ali um pequeno roçado de macaxeira e também alguns pés de cana-de-açúcar. No vernissage (com performances de Daniel Santiago e Gentil Porto Filho), no próximo dia 23, o coquetel também será verde: pães, sucos, frutas, tudo terá a tonalidade e o sabor do ambiente. Nada mais natural para um artista que afirma estar em busca da felicidade, como qualquer ser humano, mas que tem percebido que ela está quase sempre nas coisas mais simples. 

MARIANA OLIVEIRA, editora-assistente da revista Continente.

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