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Frei Betto: Ensaísta cede ao romancista

'Minas de ouro' é empenho criativo de mais de uma década e um investimento no romance histórico

TEXTO Gianni Paula de Melo

01 de Dezembro de 2011

Frei Betto

Frei Betto

Foto Divulgação

Em sua mais recente passagem pelo Recife, na ocasião da 7ª Fliporto, Frei Betto declarou estar interessado em escrever sobretudo ficção, pois acredita que sua capacidade para o ensaísmo se esgotou. O recentemente lançado Minas do ouro é a confirmação de que o romancista está se sobressaindo, empenhado numa produção textual de fôlego. A publicação é resultado de um trabalho que durou 13 anos, somados os tempos de pesquisa e criação, levando Frei Betto à leitura de cerca de 120 livros.

O desejo de fazer um romance sobre a história do seu lugar de origem surgiu no início da década de 1980, mas tinha outra proposta. A princípio, o livro estaria centrado nas memórias ligadas à mina de Morro Velho, em Nova Lima. No entanto, o volume de material recolhido durante seus estudos, entre manuscritos antigos, mapas, papéis de contabilidade e publicações raras, desencadeou uma ampliação do projeto sobre Minas Gerais.

Minas do ouro começou a ser redigido em 1997 e narra a saga da família Arienim, portadora de um mapa de inesgotáveis fontes de riquezas que é repassado para as novas gerações durante cinco séculos. Os fatos relacionados à macro-história do estado, como as entradas e bandeiras, a Guerra dos Emboabas e o Triunfo Eucarístico são secundários, mas servem de pano de fundo para situar a passagem do tempo e contextualizar a vida dos personagens.

A dedicação à escrita de um romance histórico, na contemporaneidade, requer empenho criativo e coragem, já que esse gênero não é facilmente abraçado pelos leitores em geral. Ainda que a narrativa se desenrole de forma bastante fluida, os elementos próprios de uma escrita barroca estão presentes no livro, e o autor reconhece que buscou inspiração nos Sermões de Padre Antônio Vieira.

Contudo, a influência dos textos do jesuíta não dificulta a leitura ou o envolvimento com a história, seus rebuscamentos característicos são atenuados na escrita de Frei Betto. Além disso, não podemos dizer que o livro segue os romances históricos à risca. Diferentemente do padrão de enredo desse gênero, Minas do ouro dispensa a exaltação de seus protagonistas e exibe suas fraquezas. Também está povoado por anti-heróis e figuras humanas contraditórias. 

GIANNI PAULA DE MELO, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.

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