A mostra conta com cerca de 70 obras de Iberê Camargo e de 19 artistas contemporâneos, entre eles Angelo Venosa, Arthur Lecher, Carmela Gross, Cia. de Foto, Eduardo Frota, Fabio Miguez, Jarbas Lopes, José Rufino, Regina Silveira, Rodrigo Andrade. A seleção traz nomes de gerações diferentes, alguns conhecedores da obra de Iberê, outros sem muita aproximação. Segundo Agnaldo Farias, houve a concordância entre toda a equipe de que era importante sublinhar a efeméride apontando as ressonâncias diretas e indiretas da obra de Iberê, passando por contemporâneos do artista, seus discípulos, gente que o assistiu em sua produção cotidiana, sem esquecer de destacar produções mais recentes que carregam, de algum modo, poéticas afinadas com as suas.
O pernambucano Gil Vicente, por exemplo, tem sua obra Homenagem a Osman Lins (um desenho em nanquim, quase todo recoberto de preto, no qual se estende uma pessoa de quem só vemos os pés e a cabeça) posta em diálogo com retratos enlutados de Iberê Camargo, incluindo um autorretrato. Para os curadores, ambos vêm “numa conversa a distância, mergulhando fundo na construção de retratos psicológicos”. “Não conheci Iberê pessoalmente, mas acompanhei como ele se tornou referência para os novos artistas da geração de 1980, no Brasil. A pintura mais madura dele tem um incômodo visceral no tema e uma desesperada fatura, mesmo nos trabalhos onde a figura está ausente”, destaca Gil.
Para compor a narrativa, os curadores buscaram pontos em comum, como a visão sombria do mundo e o drama persistente da solidão do indivíduo. “O objetivo central da mostra foi estabelecer um coro, colocar lado a lado um grupo consistente de vozes até então distantes umas das outras, sem se importar muito se as relações se dão ou não sob o modo de convergência. A tensão e a surpresa provenientes da proximidade e do cruzamento puro e simples interessam por si só, já que podem desencadear uma pletora de sentidos”, pontua o curador Agnaldo Farias.
Todos os espaços do edifício, projetado por Álvaro Siza para abrigar a Fundação, foram tratados como coprotagonistas da mostra – o prédio, em si, segundo os curadores, foi a primeira obra selecionada. A fachada, as rampas, o átrio e os quatro pisos serão completamente tomados pela mostra, que traz, além das obras, documentários sobre o artista, projeção de imagens, a produção literária de Iberê e trechos de alguns clássicos da filmografia expressionista que faziam parte do seu acervo. Ainda durante as comemorações, será lançado o livro 100 anos de Iberê Camargo, pela Cosac Naify, contendo todos os textos curatoriais das exposições realizadas pela Fundação Iberê Camargo desde sua abertura, em 2008. A instituição também está promovendo a catalogação completa das obras do artista, coordenada pela professora Mônica Zielinsky.
MARIANA OLIVEIRA, editora-assistente da revista Continente.