Hobsbawn também aborda a ruptura do significado tradicional da arte e da forma de fazê-la proposta pelo Dadaísmo e pela arte conceitual, inspirada no urinol e na roda de bicicleta de Marcel Duchamp, nas primeiras duas décadas do século passado.
Na sequência, versa sobre Andy Warhol, um dos criadores da Pop Art, baseada na sociedade consumista e dos ícones da indústria de massa norte-americana; e sobre o rock como expressão musical que admite deficiências artísticas, nega obrigações morais e rejeita critérios de ofício.
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Nesse ponto, Hobsbawn questiona o valor artístico desses movimentos e ícones do que ele chama de pós-arte –“Em certo sentido, as obras que em tal contexto se produzem como ‘arte’ foram piadas à custa dos que consideravam que uma imagem de comics ampliada, como as de Lichtenstein, era análoga à Mona Lisa” –, numa visão claramente conservadora para os critérios contemporâneos de análise da arte.
O historiador argumenta que a obra de Warhol – e outros contestadores do século passado – foi deliberadamente criada como antiarte ou não arte, e que poderia facilmente ser distinguida a olhos nus da arte. Warhol não quis revolucionar nem destruir nada, afirma Hobsbawn. Muito pelo contrário, aceitava bem o mundo. Por outro lado, seu valor está na coerência em rejeitar ser outra coisa senão o veículo passivo de um mundo saturado pelos meios de comunicação.
A publicação contempla ainda a função dos intelectuais e o surgimento do vaqueiro americano – “um mito internacional?” – e sentencia a decadência e o fracasso de quase todas as vanguardas no século passado.
Declaradamente marxista e membro do partido comunista, Eric Hobsbawn é reconhecido como um dos maiores e mais influentes intelectuais do século passado. Afirmava ter vivido no “século mais extraordinário e terrível da história humana”. Nasceu em uma família judia, no Egito, em 1917, cresceu na Áustria e na Alemanha e, depois, mudou-se para a Inglaterra, onde obteve a cidadania britânica.
É autor de uma vasta obra que inclui a série Era da Revolução (1962) – que cobre desde 1789, ano da Revolução Francesa, até 1914, início da I Guerra Mundial –, Era do Capital (1975), Era dos Impérios (1987) e Era dos Extremos (1994). Seu penúltimo livro, Como mudar o mundo, de 2011, é um compilado de textos escritos sobre Karl Marx e o comunismo.
MARIANA CAMAROTI, jornalista radicada em Buenos Aires.