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Desenho: A serviço do humor e da arte

TEXTO Laílson de Holanda Cavalcanti

01 de Dezembro de 2013

Augusto Rodrigues era fascinado por figuras femininas

Augusto Rodrigues era fascinado por figuras femininas

Imagem Arquivo Laílson de Holanda/Reprodução

[conteúdo vinculado à reportagem de "Memória" | ed. 156 | dezembro 2013]

Na arte de Augusto Rodrigues,
é difícil traçar um limite entre o desenho e a pintura, pois, acima de tudo, ele era um desenhista que se expressava através de todos os elementos que usava para compor seus quadros. O passista do frevo pode ser apenas uma linha colorida em movimento, enquanto uma roda de samba pode apresentar um cromatismo pleno de luzes e sombras em que se manifestam músicos, dançarinos e instrumentos musicais.

Acima de tudo, porém, Augusto Rodrigues é um romântico, fascinado pela forma feminina, principalmente pelas cabeças de mulheres que nos olham de suas telas como se buscassem nossa admiração. Elas não são provocantes ou sensuais em um sentido carnal, mais básico. Suas figuras nuas provocam um desejo de abraçar e proteger, de conhecer, de saber que romances permeiam seus sonhos. São mulheres sonhadoras, as mulheres de Augusto Rodrigues, com seus olhos profundos e plenos de mistérios.

O romance impossível de Abelardo e Heloísa se repete de infinitas maneiras nos quadros pintados por Augusto Rodrigues, talvez um reflexo da sua própria busca pelo impossível. Talvez pelo drama romântico que essa história nos conta e que o encanta.

A liberdade dos traços do artista é completa, trazendo para a arte mais reconhecida como “Bela Arte” o sabor irreverente do seu traço de caricaturista, que sintetiza sua expressão em poucas linhas. Suas representações de danças populares deixam esse viés muito claro. Não há uma preocupação em representar o objeto visto em seus detalhes, mas, sim, representar seu movimento, sua ação em um instante, transmitindo não apenas a forma, mas também a sensação de presenciar, de viver, de assistir ao espetáculo. O espetáculo da música, da dança, da vida.


A cultura popular era um dos seus temas.
Imagem: Arquivo Laílson de Holanda/Reprodução

Pois é de vida que a obra de Augusto Rodrigues fala, não apenas em suas telas, mas também em seus desenhos artísticos ou satíricos, em suas gravuras, em seus poemas ou em sua paixão maior: a educação. Ele considerava que a arte é parte fundamental da educação e isso o levou, junto com Oswaldo Goeldi, Lúcia Alencastro, Vera Tormenta, Fernando Pamplona e Humberto Branco, a fundar a Escolinha de Arte do Brasil, em 1948, no Rio de Janeiro. Um modelo que seria replicado em várias outras capitais, inclusive no Recife, sua cidade natal.

Foi no Recife que Augusto Rodrigues iniciou seu aprendizado, no ateliê de Percy Lau, fazendo quadros de formatura, publicidade, pintura decorativa, desenvolvendo seu estilo sem preocupação formal ou acadêmica. Sua primeira exposição individual foi também nessa cidade, em 1933, sendo um dos fundadores do Primeiro Salão de Arte Moderna de Pernambuco.

No ano seguinte, enviou três desenhos para participar do Pavilhão de Pernambuco na Sétima Feira Internacional de Amostras, no Rio de Janeiro, e para lá se transferiu no ano seguinte. Ali, pouco tempo depois, expôs seus trabalhos no Salão da Associação dos Artistas Brasileiros, junto a uma nova geração de pintores que surgia e da qual faria parte, que incluía nomes como Guignard, Portinari e outros.

Em 1942, Augusto Rodrigues realizou sua primeira individual importante na capital federal, expondo 100 dos seus desenhos no Museu Nacional de Belas Artes, realizando, neste mesmo ano, uma individual em São Paulo.


Esboço de um corpo em movimento. Imagem: Arquivo Laílson de Holanda/Reprodução

Seu nome, por essa época, já era popular na imprensa brasileira, com a publicação de seus desenhos nos jornais e revistas do conglomerado jornalístico de Assis Chateaubriand, inclusive na revista O Cruzeiro, a mais importante da sua época, como foi mencionado no texto anterior.

Suas atividades nas artes plásticas, entretanto, vão ocupando cada vez mais o seu tempo e tomam um rumo mais amplo a partir de 1953, quando ganha o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, no Salão Nacional de Arte Moderna, realizando nesse ano uma exposição individual na Galeria Tenreiro.

Seus trabalhos começam a ser expostos em galerias de diversos países, como na Bianco e Nero de Lugano, na Suíça, e durante os próximos 40 anos viajam pelo mundo, em exposições coletivas. Ele chega a realizar exposições individuais no Centro Brasileiro de Cultura no Chile, na Galeria Parodi (Argentina) e em Poitiers, na França, em 1990.


Abelardo e Heloísa aparecem em diversos quadros.
Imagem: Arquivo Laílson de Holanda/Reprodução

Augusto Rodrigues manteve suas atividades de artista plástico e educador, dividindo seu tempo, na maturidade, entre as cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Penedo (AL), trabalhando e realizando palestras até 1993, o último ano de sua vida, quando faleceu na cidade de Resende, no Rio de Janeiro.

Sua definição de si mesmo resume o artista e o homem que ele foi, em busca da expressão da sua arte: “Só vim a tomar consciência da condição de artista quando, finalmente, compreendi essa coisa tão simples: sendo a arte uma forma de conhecimento do mundo e de comunicação, artista é todo aquele que procura ver os homens e as coisas em sua verdade essencial, e, para isso, desenvolve sua atividade com esforço, humildade e intensidade”. 

LAÍLSON DE HOLANDA, cartunista, autor de quadrinhos, jornalista e pesquisador sobre a história do humor gráfico no Brasil.

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