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David Bowie: A esperada volta do herói inglês

Cantor e compositor lança, após 10 anos longe dos estúdios, 'The next day', disco que está entre os melhores lançamentos do ano

TEXTO Débora Nascimento

01 de Maio de 2013

David Bowie

David Bowie

Foto Divulgação

Na última vez que David Bowie lançou um disco de inéditas, a indústria fonográfica estava tentando se recuperar da crise pós-Napster. Naquela época, achava-se que era apenas uma crise e não uma mudança drástica nesse mercado. De lá para cá, muita coisa mudou, e não somente na forma de atuação das gravadoras e dos artistas, mas na maneira como as pessoas consomem música. O álbum completo, redondo, inteiro, não é mais a grande busca do ouvinte. O público passou a ouvir discos de forma fragmentada. Agora, com o lançamento de The next day, CD que marca sua volta às gravações após longos 10 anos – o maior tempo que um artista de seu porte passou longe do estúdio (ele já realizou o bastante para poder fazer isso e não ser esquecido) –, David Bowie parece querer se adaptar à nova realidade. O seu tão aguardado retorno foi propagado à maneira dos nossos dias: tomando conta das redes sociais.

Semanas antes do lançamento oficial do álbum, o cantor soltou dois clipes no YouTube. Um deles, o da música The stars (are out tonight), foi bastante compartilhado e comentado, pois contava com a participação de Tilda Swinton, que já fora alvo de montagens de fotos na internet por uma suposta semelhança de seu rosto com o do inglês. Ter convidado a atriz inglesa pareceu uma forma de Bowie querer entrar na brincadeira.

Outra forma de se adaptar à era dos “compartilhamentos” foi a capa do disco, cujo box branco sobre a capa original do álbum Heroes, de 1977, denuncia ter sido pensada para virar um meme, devido à facilidade de parodiá-la – e, claro, foi exatamente o que aconteceu.

No entanto, assim como ocorre com outros virais das redes sociais – quando um assunto pode ocupar, num dia, o topo dos trend topics do Twitter e, no seguinte, não ser mais lembrado – o alarde em torno do “novo disco de Bowie” parece ter ofuscado o próprio disco. Depois do lançamento, ninguém parece ter dado mais bola para o trabalho e, assim, mais uma injustiça é cometida nesta era de ode ao efêmero. Não custa lembrar que os últimos (e fantásticos) do Gorillaz e do Radiohead passaram praticamente batidos.

Assim como os anteriores Heathen e Reality, produzidos por Bowie e seu antigo colaborador Tony Visconti (inclusive produtor de Heroes), The Next day traz um bom punhado de ótimas composições entre suas 17 faixas, como a frank blackiana Valentine’s Day, a tom waitsiana Dirty boys, Where are we now? e I’d rather be high – na qual se pode notar que sua voz marcante ainda se mantém em boa forma, apesar do peso da idade (66 anos). Ou seja, mais uma vez, David Bowie confirma que, se não está à frente do seu tempo, também não está atrás. E por isto continua a encher seus fãs de orgulho.

No entanto, ele não pode esquecer que, de acordo com o novo momento da indústria fonográfica, um artista não lucra mais tanto com a vendagem de discos e, sim, com a realização de espetáculos. E aí é que entra a questão: o cantor voltará às turnês? A dúvida paira no ar, porque desde que teve um enfarte na reta final da Reality Tour, ficou com stage fright (pavor de palco). Pessoas ligadas a ele, desde sua esposa Íman até músicos que tocaram em The next day, dão versões diferentes sobre essa possibilidade de shows. Vamos esperar pela decisão do herói inglês. 

DÉBORA NASCIMENTO, repórter especial da revista Continente.

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