eComo fica claro no título, Made in Brasil, o que une esses artistas é o fato de serem todos brasileiros. Por isso, cada um deles ocupa espaço singular na exposição, sem sugestões específicas para uma conexão ou lógica expositiva. O percurso sugerido se inicia pela vídeoinstalação Entre os olhos, o deserto, de Miguel Rio Branco. Em 40 minutos, com trilha sonora de Ronaldo Tapajós, o artista apresenta imagens de paisagens do deserto, objetos e olhos em três grandes telas dispostas lado a lado, numa das amplas salas da Casa Daros.
As fotografias foram feitas no Novo México e em estados vizinhos, e refletem um pouco da “cultura de deserto” americana. Em livro homônimo, publicado pela Cosac Naify, Miguel Rio Branco destrincha seu encanto pela palavra e por esse ambiente em que se sente a ausência de quase tudo: “No que diz respeito à palavra deserto, o que me fascina é ver o quanto a metáfora do vazio, de tanto ser usada, permeia a palavra inteira. A palavra tornou-se, ela mesma, uma metáfora. Logo, para restituir-lhe a força original é preciso voltar ao deserto real, que, na verdade, é o vazio exemplar – mas um vazio com seu próprio e real pó”.
Na segunda sala da mostra, são apresentados 22 livros-objetos de Waltercio Caldas, produzidos entre 1967 a 2004. Trata-se de uma amostragem de força e leveza poética. Segundo o artista, ele tem prazer especial em trabalhar com objetos tridimensionais e estabeleceu com os livros uma relação de liberdade. “Eles contêm uma possibilidade de trabalho com o tempo, são objetos maiores por dentro do que por fora”, pontua.
Exposição reúne, pela primeira vez, 22 livros-objetos de Waltercio Caldas, produzidos entre 1967 e 2004. Foto: Peter Schälchli/Divulgação
Talvez a obra mais badalada da mostra seja Missão/Missões (Como construir catedrais), de Cildo Meireles, produzida em 1987 para uma exposição itinerante com curadoria de Frederico Morais, e que desde 1998 não é vista no Brasil. A instalação trata das sete missões fundadas pelos jesuítas no Paraguai, Argentina, e no sul do Brasil, entre 1610 e 1767, sendo composta por 600 mil moedas, 500 hóstias e dois mil ossos de boi. O artista dispôs as moedas no chão e as conectou com os ossos colocados no “céu” por uma corrente de hóstias. A instalação, que tem forte impacto visual e emocional, foi um dos destaques da retrospectiva do artista em 2008, no Tate Modern (Londres).
Ainda há cinco salas dedicadas a Antonio Dias, com 13 trabalhos, entre instalações, objetos e pinturas, realizados a partir de 1968, quando o artista se mudou para a Europa. Depois dessas salas, são apresentados os desenhos de Milton Machado, as instalações de José Damasceno, as fotografias de Vik Muniz, e, por fim, os Humanoides de Ernesto Neto, que convidam o espectador a se vestir com as esculturas. Ainda, no Espaço de Documentação da Casa Daros, é possível assistir a depoimentos dos artistas exclusivamente realizados para esta coletiva.
Made in Brasil é uma oportunidade de conhecer um pouco da produção dessas artistas, selecionados de forma criteriosa, quando de sua aquisição para a Coleção Daros Latinamerica. Ficaram de fora dessa mostra artistas do acervo que já haviam participado de exibições anteriores, como Leonora de Barros, Iole de Freitas, Rosângella Rennó e Eduardo Berliner. A proposta da instituição é que os brasileiros do acervo ainda não exibidos (Mario Cravo Neto, Nelson Leirner, Cinthia Marcelle, Valeska Soares, Hélio Oiticica, Mira Schendel e Lygia Clark) façam parte de uma próxima exposição.
MARIANA OLIVEIRA, editora assistente da revista Continente.