Eles avaliam o DVD como o ápice de um percurso norteado pelo desafio de “manter a matriz musical dentro do terreiro em confluência com o que chega hoje”. “Somos um grupo de cultura popular dentro daworld music”, afirma Guitinho, refutando, porém, os rótulos fáceis “para não cair no genérico nem no folclórico”. Foi apegando-se às tradições, que o sexteto saiu de Pernambuco, circulou pelo Brasil e, em novembro passado, esteve na Alemanha para participar da Womex, a maior feira de música do planeta.
Alegram-se ao constatar que o som persiste no DVD tal qual registrado nos dois álbuns, 29 de junho (2005) e Chão batido coco pisado (2009): um diamante bruto, “sem ser lapidado ou burilado como os produtores pensam que deve ser o som da cultura popular”, reforça o vocalista. As participações de Juliano Hollanda, do pianista paulistano Benjamim Taubkin, do coquista Zé de Teté e de Adiel Luna corroboram a vontade de se manter íntegros mesmo quando alinhados com as inovações e ao dinamismo requisitados pela contemporaneidade.
Guitinho e seus companheiros acreditam na transmissão de uma paixão, na perpetuação de um legado ao qual eles expressam sua gratidão por meio da música: “As crianças daqui do Portão do Gelo aprendem conosco e já sabem tocar. É algo próprio, a questão sanguínea conta. Tudo que fazemos tem a participação da comunidade Xambá, assim como era com nossos pais. O DVD trouxe a oportunidade de dialogar com artistas que não são da cultura popular, mas que mantêm a nossa identidade”.
Odé, eles explicam, é aquele que vai investigar se a terra almejada pelo seu povo é fértil e produtiva. A pujança do Coco Bongar se reparte nos discos que já existem e no terceiro, já em gestação; no livro Nação Xambá: do terreiro aos palcos, publicado em 2006; e, agora, no DVD que encapsula mais de uma década de carreira. Sob a proteção da ialorixá matriarca Severina Paraíso, a Mãe Biu (1914-1993), e com incentivo das 100 pessoas que formam a comunidade Xambá, bem como dos fãs que em Quando a memória faz a festa enaltecem a transcendência da proposta sonora, Guitinho, Thúlio, Nino, Memé, Beto e Iran querem levar o Coco Bongar adiante, muito além de fronteiras, preconceitos e rasas classificações. Axé.
LUCIANA VERAS, repórter especial da revista Continente.