Na mostra Un certain regard, que será aberta este ano com Restless, o novo filme de Gus Van Sant (Palma de Ouro por Elefante, em 2003), um belo presente para o cinema brasileiro é a seleção de Trabalhar cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas, o primeiro longa-metragem de uma dupla que fez belos curtas com marca muito pessoal, como O lençol branco e Um ramo (exibidos, respectivamente, na mostra Cinefondation, para curtas de escolas de cinema, e na Semana da Crítica).
Na própria Semana da Crítica, paralela prestigiosa de Cannes, entrou também o média-metragem Permanências, do mineiro Ricardo Alves Júnior, lindo ensaio de 34 minutos sobre moradores de um conjunto habitacional de Belo Horizonte. Na mostra Cinefondation, a carioca Alice Furtado (da Universidade Federal Fluminense) exibe Duelo antes da noite. Encerrando a participação brasileira, o quarto filme é o novo de Karin Ainouz (seu Madame Satã esteve na Un certain regard, em 2002, e O céu de Suely em Veneza, 2006), O abismo prateado, longa que compõe a seleção 2011 da Quinzena dos Realizadores.
Esse cardápio chama a atenção para um cinema feito no Brasil que está longe das preocupações de um outro cinema brasileiro, sempre numa busca desenfreada pela popularidade e pelo mercado. São filmes autorais, de escala financeira reduzida, mas de reconhecimento que sugere algo maior.
KLEBER MENDONÇA FILHO, crítico de cinema.