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Cannes: À espera da avalanche de respeitáveis filmes

Lista de exibições nutre a expectativa pelos trabalhos inéditos de nomes que já pertencem à história do festival, como Pedro Almodóvar e Lars Von Trier

TEXTO Kleber Mendonça Filho

01 de Maio de 2011

O filme 'Melancholia', de Lars von Trier, vai estrear mundialmente em Cannes

O filme 'Melancholia', de Lars von Trier, vai estrear mundialmente em Cannes

Foto Divulgação

Desde dezembro, o Festival de Cannes começou, como a máquina precisa que é, a emitir os primeiros sinais de que já estaria ativo e entraria em ebulição no mês de maio. Primeiro anunciaram os presidentes dos júris (Robert de Niro para a competição, Emir Kusturica para a mostra Un certain regard). Em março, divulgaram o cartaz do festival, uma foto maravilhosa dos anos 1960 da atriz Faye Dunaway tirada pelo então fotógrafo Jerry Schatzberg, vencedor da Palma de Ouro de 1973 como cineasta por O espantalho (Scarecrow).

No dia 14 de abril, foi divulgada a seleção oficial, um nocaute de filmes que chama a atenção pela expectativa de ver novos trabalhos de grandes nomes que já pertencem à própria história de Cannes (La piel que habito, de Pedro Almodóvar, Melancholia, de Lars Von Trier, Le gamin au vélo, dos Irmãos Dardenne, e Le havre, de Aki Kaurismaki) pelos novos nomes que chegam à competição, como a australiana Julia Leigh, que exibirá seu Sleeping beauty.

A lista também chama a atenção por destacar quatro cineastas mulheres na competição. Além da estreante Julia Leigh, teremos a muito respeitada autora japonesa Naomi Kawase, com Hanezu no Tsuki, a escocesa Lynne Ramsay (RatcatcherMorvern Callar), este ano competindo com We need to talk about Kevin, e a francesa Maïwenn Le Besco, que mostrará Polisse.

A seleção destaca também, pela primeira vez, cineastas que já têm pelo menos 10 anos de estrada, e que haviam sido reconhecidos por outros festivais e pela massa crítica, mas não por Cannes. Como Radu Mihaileanu (de Trem da vida), que apresenta La source des femmes, o dinamarquês Nicolas Winding Hefn (PusherBleeder) que mostrará Drive, e a própria Lynne Ramsay. Um dos maiores nomes do cinema americano de autor, Terrence Malick (Terra de ninguémCinzas no paraísoAlém da linha vermelha), traz o muito aguardado A árvore da vida (The tree of life), ainda na competição, certamente um dos eventos este ano em Cannes. Malick merece especial atenção, pois é um autor no sentido mais puro do termo, que ainda continua servido por uma estrutura cara de estúdio, mais normalmente associada aos anos 1970, década que viu o início de sua carreira.

BRASIL
Na mostra Un certain regard, que será aberta este ano com Restless, o novo filme de Gus Van Sant (Palma de Ouro por Elefante, em 2003), um belo presente para o cinema brasileiro é a seleção de Trabalhar cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas, o primeiro longa-metragem de uma dupla que fez belos curtas com marca muito pessoal, como O lençol branco e Um ramo (exibidos, respectivamente, na mostra Cinefondation, para curtas de escolas de cinema, e na Semana da Crítica).

Na própria Semana da Crítica, paralela prestigiosa de Cannes, entrou também o média-metragem Permanências, do mineiro Ricardo Alves Júnior, lindo ensaio de 34 minutos sobre moradores de um conjunto habitacional de Belo Horizonte. Na mostra Cinefondation, a carioca Alice Furtado (da Universidade Federal Fluminense) exibe Duelo antes da noite. Encerrando a participação brasileira, o quarto filme é o novo de Karin Ainouz (seu Madame Satã esteve na Un certain regard, em 2002, e O céu de Suely em Veneza, 2006), O abismo prateado, longa que compõe a seleção 2011 da Quinzena dos Realizadores.

Esse cardápio chama a atenção para um cinema feito no Brasil que está longe das preocupações de um outro cinema brasileiro, sempre numa busca desenfreada pela popularidade e pelo mercado. São filmes autorais, de escala financeira reduzida, mas de reconhecimento que sugere algo maior. 

KLEBER MENDONÇA FILHO, crítico de cinema.

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