Quebrando a assepsia do ambiente, Carybé, Rosângela Rennó, Brígida Baltar e o coletivo Chelpa Ferro trazem o vento, evocando Iansã, as memórias da infância ou os mitos da literatura de Guimarães Rosa. A preguiça, qualidade ou defeito do personagem Macunaíma, de Mário de Andrade, é recuperada numa aquarela de Cícero Dias, numa escultura malemolente de Ernesto Neto, e nas fotografias de homens cochilando, de Pierre Verger.
A questão geométrica, que marcou a passagem do modernismo para a contemporaneidade, é trabalhada através das heranças do construtivismo e do popular, expostas em trabalhos de Volpi, Roberto Lúcio ou Delson Uchôa. “Figurativo ou abstrato? A pergunta permanece frutificando-se em exemplos como os azulejos de Adriana Varejão”, pontua o curador.
Fechando a mostra, a ideia de privacidade se manifesta no eixo Casa. “Até que ponto o artista encontra sua subjetividade ao expor sentimentos em formas, proposições materiais ou desmaterializadas?”, pergunta-se Marcelo Campos. A resposta virá nas obras de Efrain Almeida, Farnese de Andrade, José Rufino e Alberto da Veiga Guignard, que expressam seus afetos.
Essa diversidade de obras, lado a lado, gera variações de leitura e propõe múltiplas identidades. Enquanto algumas trazem elementos ligados à questão da identidade brasileira, como o uso das cores azul, verde e amarelo, ou da bandeira nacional, a maioria não tem sequer um elemento que aponte para o Brasil. Mesmo assim, ao sair da exposição, os brasileiros se sentirão ali refletidos. Trata-se de uma oportunidade para que sejam discutidas as questões identitárias e os estereótipos construídos a partir delas.
MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.