A Bienal do Barro pode ser compreendida como uma obra que complementa uma pesquisa desenvolvida por Carlos Mélo nos últimos anos. Desde 2010, o artista se voltou para a região onde nasceu, e criou um anagrama, cuja articulação aciona discursos em torno do barro, da arte contemporânea e do barroco. Como o uso do corpo é algo recorrente em seu trabalho, ele desenvolveu a ideia de Corpo.Barro.Oco, para gerar uma sequência de experiências sensíveis, a partir de articulações distintas.
Dentro desse conceito, que se materializou em diversas obras, ele reuniu outros artistas e propôs leituras do tema. Com o apoio do Sesc, realizou, em 2012, na galeria da instituição, em Caruaru, a mostra Barro.Oco, com a participação de José Paulo, Jared Domício e Bruno Viera. Enquanto José Paulo apresentava seus trabalhos com barro, os outros dois convidados traziam vídeos que se relacionavam ao conceito, sem fazer uso da matéria-prima. Depois, foi a vez de Belo Jardim, em 2013, receber a segunda etapa, com a mostra Corpo.Barro, quando o artista Armando Queiroz apresentou sua obra em diálogo com os trabalhos de Lorane Barreto, Bruna Raphaella Férrer e Pierre Tenório.
Haveria uma terceira etapa em Garanhuns, que completaria as combinações possíveis. Nesse meio tempo, Mélo conseguiu o apoio do Funcultura para realizar a I Bienal do Barro do Brasil e terminou optando por fechar o ciclo novamente, em Caruaru. “Como surgiu de um projeto artístico, o anagrama Corpo.Barro.Oco, a bienal não é apenas um evento, mas uma obra de arte, na medida em que cumpre uma função artística e social de resgate da cultura local, e também de implementar para o futuro uma abordagem diferente dessa cultura, transcodificando o barro matéria em pensamento e ação”, conceitua o artista.
MARIANA OLIVEIRA, editora-assistente da revista Continente.