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A entrada para o universo do vinho

TEXTO Luciana Torreão

01 de Setembro de 2012

Luciana Torreão

Luciana Torreão

Foto Divulgação

Falem o que quiserem, mas uma coisa é fato: se, por um lado, os lendários vinhos alemães da garrafa azul foram os responsáveis por muitas pessoas torcerem o nariz para os brancos, por outro, foram porta de entrada de muita gente no mundo dos vinhos. Com a abertura da importação pelo governo Collor, muita coisa chegou por aqui, de boa e de má qualidade. O riesling azul foi um de boa qualidade.

A estratégia partiu da importadora de marca pioneira, que, para trazer os riesling ao Brasil, sugeriu ao fabricante que mudasse a cor da garrafa, pois assim chamaria mais a atenção e daria status à bebida. E deu certo: dos 24 milhões de garrafas de vinho importadas no Brasil, 14,4 milhões eram Liebfraumich. A empresa vende até hoje seu ícone azul. Vale destacar que foi ela a responsável por rótulos de outras nacionalidades chegarem por aqui mais facilmente.

Entretanto, se havia chance de o brasileiro, naquela época, produzir etiquetas de qualidade, essa avalanche alemã fez com que os fabricantes percebessem que poderiam fazer vinhos de pouca qualidade a baixos preços e, ainda assim, vender muito. Dito e feito. O sucesso do produto significou a expansão de vinhos brasileiros, também de qualidade duvidosa. Vinícolas nacionais passaram a fabricar seu riesling azul com rótulos de nome alemão. Ninguém queria saber se era ou não alemão de verdade. Nem se percebia. O que importava era adquirir a garrafa da cor da moda.

A boa notícia é que essa onda levou o brasileiro a querer desvendar esse universo e ir em busca, cada vez mais, de novidades. Naquele período, o interesse pelos frisantes e lambruscos também foi uma febre. A princípio, tudo que era levemente adocicado agradava ao nosso paladar. Se, filosoficamente, o homem é um eterno insatisfeito, o brasileiro é, comercialmente, um desbravador em busca de consumir coisas novas e melhores.

Inevitavelmente, os fenômenos azuis ou borbulhantes foram os propulsores para que, aos poucos, bebêssemos vinhos chilenos e argentinos mais leves. Foram eles os responsáveis pela nossa transição para vinhos secos de melhor qualidade, a chegada de rótulos e safras excepcionais e a abertura de casas especializadas e importadoras da bebida por aqui. E, hoje, junto com os Brics, estamos salvando o escoamento da produção de vinhos do Velho Mundo, que vive uma de suas piores crises econômicas. Sem falar em estudos que apontam para a migração do brasileiro, em 15 anos, dos atuais 1,8 litros per capita ao ano, para 9 litros. 

LUCIANA TORREÃO, jornalista, publicitária e especialista em Marketing.

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