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'The Spirit' retratado por mestres da HQ

Publicação de luxo apresenta personagem a uma nova geração de leitores, mas não se compara aos originais de Will Eisner

TEXTO Danielle Romani

01 de Fevereiro de 2011

Imagem Reprodução

Representante da Era de Ouro dos quadrinhos norte-americanos, The Spirit, criado pelo desenhista e roteirista Will Eisner, em junho de 1940, é um dos personagens mais reverenciados do gênero, em todas as épocas. Elegância, humor e um marcante estilo noir – influência dos filmes e dos romances policiais – caracterizam a criatura atlética, que vive às voltas com bandidos esquizoides, mulheres fatais e perigosas, e muitas aventuras mortais.

Qualquer publicação que envolva o herói mascarado causa expectativa. O relançamento do álbum The Spirit: As novas aventuras, com o selo da Devir, foi comemorado como um evento especial. Nessa coletânea, com capa dura e produção de luxo, a editora reúne as primeiras quatro edições da raríssima série – publicadas nos EUA em 1998 – que mostram o herói retratado por grandes nomes dos quadrinhos mundiais, a exemplo de Alan Moore, Dave Gibbons, Neil Gaiman, Eddie Campbell, Mike Alfred, Daniel Torres, David Lloyd, Carlos Ezquerra, entre outros desenhistas e autores. Will Eisner também participa do álbum, mas apenas retratando pin ups e as artes das capas das revistas originais, que só agora foram reunidas em um único volume.

A história de abertura mostra a origem do clássico personagem sob o olhar de Moore e Gibbons, a mesma dupla que assina Watchmen! Nela, eles recordam como um dos maiores fascínoras da galeria de inimigos do justiceiro, o dr. Cobra, tenta matar Denny Colt, dando origem ao The Spirit, que, curiosamente, passa a habitar debaixo da cripta onde enterraram o suposto corpo de Denny.

A ideia de reunir tantos mestres para uma releitura do personagem é válida e tem como propósito apresentá-lo a uma nova geração de leitores. Mas nenhum dos intérpretes consegue chegar perto do perfeccionismo de Will Eisner, que esmerava-se em recursos de luz e sombra, e sabia aproveitar-se da diagramação das páginas, utilizando retoquadros e balões como ninguém. O desenho clássico de The Spirit, e de suas mocinhas, inimigos e vilãs lindas e malvadas são um marco desse universo noir, que está intimamente ligado aos anos 1940/1950. Causam, portanto, estranhamento as adaptações que trazem traços mais modernosos, a exemplo da história ilustrada por Eddie Campbell, que soa como um croquis malfeito, apesar do bom roteiro assinado por Neil Gaiman.

Ao contrário de outros ícones pops das HQs, como Batman e o Super-Homem, que se prestam a adaptações e readaptações diversas, The Spirit é algo tão bem-resolvido, com todos os elementos perfeitamente moldados, que qualquer alteração incomoda. O álbum vale como curiosidade e traz boas histórias? Sim! Mas bom, bom mesmo, é folhear e reler os clássicos assinados pela equipe de Will Eisner. 

DANIELLE ROMANI, repórter especial da revista Continente.

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