Na área de serviço do apartamento, fica o “tesouro” do cineasta: uma coleção de DVDs com mais de 2.100 títulos – listadas em ordem alfabética pelo sobrenome dos diretores. Grandes ícones do cinema, como Tarkovski e Bergman – referências maiores para Nunes –, passando por títulos raros, até blockbusters, ajudam a fundamentar sua fama de cinéfilo. “Os vizinhos do prédio vêm pegar filme aqui. Eu anoto cada um que sai e sei quem está com o quê”, pontua.
Essa “tara” por cinema é facilmente notada em sua estreia em longas. Em Sudoeste, é possível perceber referências da narrativa de Limite, de Mario Peixoto, da contemplação dos planos de Tarkovski, do debate existencial de Bergman e de Luiz Fernando Carvalho, em Lavoura arcaica.
O diretor fluminense diz tirar mais inspiração dos livros que do próprio cinema para contar histórias. O que explica, em parte, um mérito do filme, que é apontar outros caminhos temáticos para a produção nacional. Não é desmerecimento querer mostrar o cotidiano e a rotina dos problemas do país, nem revelar a imagem bestializada da nossa realidade, mas faz-se também necessário que temas mais universais, que exponham a alma humana, sejam retratados pelo cinema brasileiro, para que ele cresça e se comunique como uma arte maior que é. E isso Sudoeste faz bem.
ZECA MIRANDA, jornalista.