Se, no teatro contemporâneo, as vivências dos atores se tornaram fundamentais ao processo colaborativo de construção da dramaturgia e da encenação, na nova versão de Como a Lua, que conta com o patrocínio do Funcultura, esse era um dos caminhos pelos quais o diretor desejava enveredar.
Experiências dos próprios intérpretes também são levadas à cena, mesmo que, no resultado final, seja bastante difícil – e nem seria essa a intenção – fazer aproximações entre ficção e vida real. “Queria trabalhar a memória, como esse lugar em que todas as histórias estão contidas. A memória que se mostra, neste tempo, tão instável, tão mutante. O que é nossa memória hoje?”, questiona. A encenação também foi alinhavada a partir das improvisações com o elenco durante os ensaios.
Alguns dos atores já haviam trabalhado com o diretor. Sandra Rino, por exemplo, estava em Cantigas ao Pequeno Príncipe e Opereta de cordel; Samuel Lira fez O cavalinho azul; Geysa Barlavento, Opereta de cordel; e Tiago Gondim foi dirigido por José Manoel na leitura dramática de O amor do não, texto de Fauzi Arap. Alguns deles também passaram pelo Sesc, instituição à qual o diretor é vinculado há 37 anos. Atualmente, ele ocupa o cargo de gerente de cultura do Sesc Pernambuco.
“Vivo um momento de me repensar como encenador”, avalia José Manoel. Assim como vários outros nomes ligados ao teatro e às artes em geral, o acúmulo de gestão e criação se mostra um binômio complicante. “Fico horas soterrado de papel. É difícil se desvencilhar dessa realidade para chegar ao teatro. A atividade de criação também é exaustiva e requer tempo”, explica. Mesmo assim, com mais de 100 espetáculos no currículo, José Manoel não estava há muito tempo longe das encenações. Em 2012, dirigiu a leitura de O amor do não; em 2011 assinou a peça Circo de pano de roda lona estrelada, boca calada, montagem da Cia. 2 Em Cena de Teatro, Circo e Dança.
Por coincidência, a última remontagem que fez foi exatamente de um texto de Vladimir Capella: Avoar. Do dramaturgo paulista, aliás, José Manoel já assinou diversos espetáculos. Além de Avoar e Como a Lua, dirigiu Com panos e lendas, Píramo e Tisbe e O dia de Alan. “Quando disse ao Capella que iria fazer novamente Como a Lua, ele ficou preocupado. Principalmente que o texto, escrito em 1981, fosse encarado como velho. Isso, na minha visão, vai depender da abordagem. As temáticas continuam fazendo sentido”, avalia.
Logo que escreveu, o próprio dramaturgo também montou Como a Lua. O papel principal era de Marcos Frota e a peça ganhou vários prêmios, como o APCA de melhor espetáculo, autor e ator, e o então prêmio Molière para Marcos Frota. “Marcos Frota viu a primeira versão e comentou como era diferente. E assim será agora também. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que dizem o quanto essa montagem marcou época e como querem revê-la. Não será bem assim. As pessoas verão um novo espetáculo em cena”, ressalva.
POLLYANA DINIZ, jornalista, crítica de teatro e colabora do blog Satisfeita, Yolanda?.