Em julho, no 6th Paulínia Film Festival, dois dos quatro prêmios que Casa-grande levou foram para o elenco: Marcello Novaes e Clarissa Pinheiro saíram de lá como os melhores coadjuvantes, enquanto o filme recebeu ainda os troféus de melhor roteiro e o prêmio especial do júri. A surpresa do público ao ver Novaes, ator recorrente em folhetins televisivos, esbanjar segurança no papel do pai falido e orgulhoso (Fellipe compara sua performance à de Burt Reynolds em Boogie nights, de Paul Thomas Anderson), só não foi maior do que o agradável espanto com a aparição de Clarissa, descoberta pelo diretor na Escola Darcy Ribeiro.
Detalhe crucial: formada em Jornalismo pela Unicap, ela havia atuado apenas “de brincadeira” em projetos de amigos. Cursava Cinema e seu professor de direção cinematográfica era justamente aquele que viria a ser seu condutor no primeiro longa-metragem. “Durante cinco anos, a personagem da Rita nem existia”, confessa Fellipe, que enxergou potencial em Clarissa e convidou-a para um teste. A personagem, defendida com frescor, naturalidade e bom humor pela pernambucana, é um dos propulsores da saída de Jean da redoma de sua casa-grande.
“Resgatei muito as empregadas que passaram pela minha casa”, recorda Clarissa, “e de quem eu terminava ficando amiga. Juntei com um lado fogoso meu e o resto foi construção mesmo. Acho interessante que Fellipe quis brincar com estereótipos: a empregada é branca, a namorada de Jean é negra, numa inversão que remete à escravidão”, acrescenta a atriz. Outros profissionais pernambucanos na equipe foram o diretor de fotografia Pedro Sotero e a preparadora de elenco Amanda Gabriel.
E o filme, apesar de ambientado no Rio de Janeiro, poderia ser sobre Pernambuco, São Paulo, Bahia ou Paraná, pois reflete o Brasil de hoje, de ascensão das classes C e D e do jogo de aparências de uma elite disposta a manter a disparidade preconizada pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, no clássico livro Casa-grande e senzala. Mesmo tão brasileiro, há nele uma universalidade que justifica a carreira internacional iniciada em janeiro, no Festival de Rotterdam. De lá para cá, passou pela França, Argentina, Dinamarca, Coreia de Sul, Polônia, Austrália, Taiwan, Canadá e Espanha, entre outros. Até dezembro, festivais na Inglaterra, Egito, Eslovênia, Portugal, Estados Unidos e República da Geórgia receberão Casa-grande.
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