Agenda

Mostra Casa Habitada na Galeria de Arte Capibaribe

Os fotógrafos Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho realizam exposição no espaço cultural do CAC-UFPE, que tem abertura com visita mediada e bate-papo com os artistas, na terça-feira (7/10)

06 de Outubro de 2025

Foto Dhyego Lima/Divulgação

O universo doméstico, com sua intimidade, memórias e afetos, é o território de investigação da exposição Casa Habitada, dos fotógrafos pernambucanos Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho. O projeto, que tem curadoria da professora Milena Travassos, abre ao público na terça-feira (7/10), na Galeria de Arte Capibaribe, no CAC-UFPE. Na ocasião, das 9h às 11h, haverá uma visita mediada e um bate-papo com os artistas. A exposição pretende ir além do registro documental, propondo um "documentário imaginário" sobre a vida familiar a partir do olhar dos três.

Com 38 obras, entre fotografias de variadas dimensões e uma videoarte, a exposição — contemplada nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Pernambuco e tem apoio financeiro do Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Cultura do Estado via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura - Governo Federal — mergulha no cotidiano de pessoas ligadas afetivamente aos fotógrafos. As casas, habitadas por pessoas e cenários, tornam-se personagens centrais das narrativas visuais, nas quais objetos ordinários — como uma cadeira de balanço, um varal ou uma televisão — ganham significado poético.

Ainda que partam do registro da realidade, o trio não se propõe a trazer "verdades", "testemunhos". As imagens buscam incitar a imaginação e fomentar o diálogo. Por isso, a adoção do conceito de "documentário imaginário", desenvolvido pela pesquisadora Kátia H. Lombardi, que oferece ferramentas para realizar apropriações e reconstruções na contemplação desse conjunto de imagens.

"A autora ressalta, além do caráter técnico das imagens fotográficas, suas particularidades culturais e estéticas. Cada foto é passível de modulações provocadas por elas, por seu contexto temporal e espacial, como também por quem as olha. O documentário misturado com o imaginário ofereceu-nos abertura para exercitarmos um recorte poético ao pensar a montagem da exposição e a leitura das obras”, explica a curadora Milena Travassos. 

Dentro dessa proposta, a curadoria organizou o percurso em três eixos temáticos derivados das próprias imagens: "Solidez", com o ensaio de Ulisses Moura sobre sua avó, dona Hozana; "Limite", explorado por Dhyego Lima através das janelas que demarcam o dentro e o fora; e "Fluxo", onde Nivaldo Carvalho registra a mudança de sua casa, tratando objetos e corpos como rastros fugidios.

SOLIDEZ
No eixo "Solidez", Ulisses Moura apresenta um ensaio íntimo sobre sua avó, Dona Hozana. As imagens, em tons de sépia e preto e branco, registram sua rotina, incluindo a extenuante jornada de hemodiálise — sugerida por um curativo visível em sua perna. Cenas do cotidiano, como observá-la sentada na porta de casa olhando a rua, congelam com afeto momentos de introspecção.

O olhar do fotógrafo, que também atua como cuidador, captura a dualidade entre a fortaleza e a fragilidade da matriarca. A fotografia surge aqui como um meio de processar e conviver com essa dor e compreender as transformações impostas por essa rotina. "Ao ter a fotografia como paixão, optou por fazer de sua câmera um meio para conviver com a realidade que se apresentava. Expressões, rotinas, momentos de apatia, distração e ócio foram congelados com respeito e afeição. Nas imagens de Ulisses, encontramos algo de sobriedade, de permanência que atravessa gerações. Sua avó não é apenas retratada - ela é celebrada como pilar familiar, memória viva que ancora a narrativa doméstica", comenta Milena Travassos, curadora.

Além da exibição das imagens, há uma preocupação com a ambientação da mostra. Em Solidez, o clima é dado pela presença de uma cadeira de balanço e uma iluminação em tons avermelhados.

LIMITE
No eixo "Limite", Dhyego Lima apresenta uma série de dípticos fotográficos que exploram as janelas como elemento central. A proposta surgiu de visitas a amigos, registrando momentos cotidianos de pausa ou ações simples. As janelas surgiram como o cenário ideal para capturar esses momentos cotidianos e cheios de afeto. 

É através das janelas que o interior se encontra com o exterior, numa casa elas são como limites, aproximando tudo que está dentro do turbilhão de fora, luz, sons, cheiros… O artista explora todo esse simbolismo em seus registros. Uma mesma janela pode ser vista em dois momentos: primeiro vazia, depois habitada por duas crianças de costas, observando algo que não é possível ver. Esse conjunto de imagens convida o espectador a observar as janelas, cada uma delas cercada por um entorno interno e também como um ponto de fuga para o exterior. "Em tempos de isolamento, as janelas se tornaram nossos portais para o mundo. Dhyego captura essas molduras que delimitam territórios, que criam diálogos entre o íntimo e o público, o seguro e o desconhecido. Cada janela fotografada conta uma história sobre os limites que habitamos - físicos, emocionais, simbólicos. Durante a pandemia, esses limites se tornaram ainda mais significativos”, pontua a curadora. 

Cenograficamente, este núcleo contará com paredes pretas, iluminação direcionada aos dípticos e "mensageiros dos ventos" suspensos no teto, recriando poeticamente a atmosfera das janelas retratadas.

FLUXO
No eixo "Fluxo", Nivaldo Carvalho registra o processo de mudança de sua própria casa, capturando o desmonte do espaço doméstico em imagens em preto e branco. Estantes vazias, pilhas de livros, caixas e objetos pessoais compõem um balé frenético de transição, onde corpos – incluindo o do artista, de sua companheira e de seu filho recém-nascido – aparecem como rastros em movimento.

A série provoca e não se preocupa apenas em documentar o processo físico de mudança, trata do deslocamento existencial inerente ao ato de mudar. A luz, utilizada como elemento narrativo, evidencia a passagem e a transformação, revelando como a casa se torna uma extensão de seus habitantes. O projeto inclui ainda um videoarte criado a partir do mesmo processo.

"Durante o período de mudança de casa, Nivaldo encontrou poesia no transitório. Objetos empacotados, espaços vazios, seu filho pequeno navegando entre caixas - tudo vira registro sensível do movimento constante da vida doméstica. O fluxo não é apenas mudança física, é também transformação emocional. É o tempo que não pára, mesmo quando estamos confinados em casa”, explica Milena Travassos.

Para imersão do público, o espaço expositivo contará com caixas e objetos pessoais espalhados pelo chão, disponíveis para interação, reforçando a sensação de transição e reorganização proposta por este núcleo.

Além da exposição, o projeto inclui a disponibilização de um catálogo digital, ações educativas e medidas de acessibilidade cultural para Pessoas com Deficiência (PCD). A programação paralela conta com uma série de bate-papos individuais com os fotógrafos e a curadora, no Teatro Milton Baccarelli. No dia 14/10, às 9h, a curadora Milena Travassos conversa com Ulisses Moura, no dia 21 será a vez de Dhyego Lima e, fechando o ciclo, no dia 4/11, a conversa será com Nivaldo Carvalho. Todos os bate-papos acontecem no Teatro Milton Baccarelli, CAC-UFPE, sempre às 9h, e são abertos ao público.

SERVIÇO
Casa Habitada, de Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho, com curadoria de Milena Travassos
Onde: Galeria de Arte Capibaribe, CAC-UFPE
Quando: Abertura, na terça-feira (7/10), às 9h (Visita Mediada e bate-papo com os artistas). Horário de visitação: segunda a sexta, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Até 7 de novembro de 2025
Quanto: Entrada gratuita

veja também

Potências Ixtranhas faz sua estreia em Natal

Galeria Marco Zero apresenta nova exposição de Bruno Vilela

Olegário Lucena percorre feiras públicas