Agenda

Tulio Carella é tema de debate no Recife

Encontro no Centro Cultural Benfica em torno da vida e obra do autor de “Orgia”, marco na literatura LGBTQIAPN+ na América Latina, acontece no sábado (27), às 14h, 65 anos após sua passagem pela capital pernambucana

26 de Setembro de 2025

"Orgia" é considerado um marco na literatura LGBTQIAPN+ da América Latina

Foto Divulgação

O argentino Tulio Carella (1912-1979) chegou ao Recife em 1960, a convite de Hermilo Borba Filho, para ensinar no curso de teatro da Escola de Belas Artes. No centro da cidade, onde viveu, o intelectual experienciou a capital pernambucana em todas as suas contradições, das belezas às desigualdades sociais, e se lançou em aventuras amorosas e sexuais, principalmente com homens, registradas em diários posteriormente publicados no livro Orgia. Para rememorar a importância da passagem do escritor por Pernambuco, foi idealizado o encontro “Entre a cidade e o desejo: Tulio Carella no Recife, 65 anos depois”, no sábado (27), às 14h, no Centro Cultural Benfica.

A conversa conta com as participações de Alexandre Figueirôa, Anco Márcio Tenório Vieira, Felipe Gonçalves, Márcio Bastos, Moacir Japearson, Renata Pimentel e Rodrigo Dourado e abordará literatura, história, memória, teatro, questões LGBTQIAPN+, entre outros assuntos atravessados pela produção artística, intelectual e pelas vivências de Carella. O local onde o encontro será realizado também evoca a memória de Tulio, pois pertence à Universidade Federal de Pernambuco e abrigava a Escola de Música, parte da Escola de Belas Artes, onde Carella lecionou, cuja sede ficava no prédio em frente, onde atualmente está a Facepe. 

A produção artística de Tulio Carella foi intensa e inclui ainda peças, livros de poesia, roteiros de cinema, entre outros, que lhe garantiram um lugar de prestígio na cena artística e cultural de Buenos Aires no seu tempo. O dramaturgo, diretor, pesquisador e poeta foi profundamente afetado por sua estada no Recife. Além de exercer sua bissexualidade de forma intensa, também abriu novas percepções sobre a cultura e a própria geografia e dinâmica da cidade, registradas tanto em Orgia (1968) quanto no livro de poemas Roteiro Recifense (1966), ambos publicados pelo amigo Hermilo Borba Filho.

Tulio Carella viveu no Recife entre 1960 e 1961, período de grande agitação política no estado e no Brasil. Sua passagem foi bruscamente interrompida quando foi preso pelas autoridades locais, sob suspeita de pertencer a organizações de esquerda. Preso em Fernando de Noronha, foi demitido da universidade e retornou à Argentina. Com a publicação de Orgia no Brasil, em 1968, gera um escândalo na sua terra natal e entra em um ostracismo cada vez maior. A obra é atualmente considerada um marco na literatura LGBTQIAPN+ da América Latina.

Em 2011, Orgia ganhou nova edição no Brasil, pela editora Opera Prima, e, recentemente, o pesquisador e escritor Álvaro Machado lançou a biografia Orgia e compadrio: Tulio Carella, drama e revolução na América Latina, pela Cosac - que ganhou resenha de Alexandre Figueirôa para a revista Pernambuco. Em agosto, Orgia foi lançado na Argentina, em sua primeira versão em espanhol.

O encontro tem apoio da Universidade Federal de Pernambuco, por meio da Superintendência de Cultura (Supercult), Centro Cultural Benfica e IAC - Instituto de Arte Contemporânea.

Jane’s Walk Recife
Além da conversa, o legado de Tulio Carella também será celebrado com uma edição especial da Jane’s Walk Recife, no domingo (28), às 8h30. Com saída do Terminal do Cais de Santa Rita, a caminhada percorrerá locais do centro da cidade que marcaram as vivências de Tulio Carella pela capital pernambucana. O percurso termina no Cinema São Luiz, às 12h, onde será exibido o curta-metragem “Vagalumes”, de Leo Bittencourt.

A participação é espontânea e o percurso pode ser conferido no Instagram do projeto (@janeswalkrecife).

SERVIÇO
Roda de diálogo "Entre a cidade e o desejo: Tulio Carella no Recife, 65 anos depois"
Onde: Centro Cultural Benfica (Rua Benfica, 157, Madalena)
Quando: Sábado (27/9), às 14h
Quanto: Entrada gratuita

veja também

Um Depoimento Real aborda o abuso infantil

Recife recebe festival de jazz

Lia Letícia sintetiza sua iconoclastia no Mamam