Fernando Peres exibe seus registros audiovisuais em “Tempo Bruto”
Projeto que resgata memória visual da cena artística pernambucana será lançado neste sábado (12), na Galeria Maumau
10 de Abril de 2025
Fernando Peres e Irma Brown apresentam memória visual da cultura pernambucana dos anos 1990 até 2010
Foto Divulgação
Se você já tinha idade suficiente para frequentar inferninhos, performances, festivais e outras farras culturais e agora históricas ocorridas no Recife e em Olinda nos anos 1990 até a primeira década do século 21, pode ter sido filmado ou fotografado pelo multiartista autodidata, inquieto e acumulador Fernando Peres. O conteúdo de mais de 350 fitas magnéticas (VHS, Super-VHS, Hi-8 e Mini-DV) foi digitalizado em um minucioso processo técnico conduzido pelo restaurador audiovisual Tuka Maia (Deivison Antônio dos Santos). Esta ação faz parte do projeto Tempo Bruto e será apresentada neste sábado (12), a partir das 19h, na Galeria Maumau, no bairro do Espinheiro, Recife, com entrada gratuita.
“Sempre tive muito contato com câmera desde criança, meu pai é fotógrafo até hoje. Mas crucial mesmo foi na época do grupo Molusco Lama e da produtora Telefone Colorido, no final dos anos 1990. Aí passei a meio que filmar tudo. Como tenho também o hábito de fotografar muita coisa diferente e tal, dentro de alguns assuntos que se repetem, né? Salto alto, um inseto, uma farra, uma exposição, os assuntos meio que se repetem”, conta Fernando, filho de fotógrafo e, portanto, íntimo das câmeras desde criança.
A iniciativa e coordenação é da também artista, produtora cultural e proprietária da Maumau, Irma Brown, que foi parceira de Fernando em vários projetos artísticos, como a própria fundação da galeria independente. O projeto foi contemplado pelo Edital de Ações Criativas para o Audiovisual – Memória, Preservação e Digitalização de Obras (Lei Paulo Gustavo), do Governo do Estado de Pernambuco.
Desde a infância, incentivado pelo pai fotógrafo, Fernando aprendeu a olhar o mundo através das lentes, primeiro com fotos, depois com vídeo, de maneira obsessiva. Chegava a filmar por horas seguidas. “Mas foi aí que eu tive, tipo, também uma estafa de filmar, um abuso. Parei completamente em 2010. E aí estou voltando com esse trabalho, que está sendo muito bom. Rever e editar”.
O artista explica que a descoberta do conteúdo das fitas surpreendeu até ele próprio. “Não me lembrava de muita coisa que encontrei nessas gravações. Isso tudo é muito bom, porque são imagens de muitas épocas diferentes, pessoas presentes hoje e pessoas que já se foram, até crianças naquela época que hoje têm seus 40 anos. Está sendo um resgate muito interessante”.
A importância histórica desse acervo vai além do registro pessoal. Para Irma, trata-se de um legado coletivo: “Fernando era como um cronista visual da cidade, antes das redes sociais. Ele já fazia algo parecido com o que hoje associamos a criadores de conteúdo, mas com um olhar artístico e autoral muito forte. São registros espontâneos, quase fotografias em movimento, que revelam a alma de uma época que poderia ter sido esquecida”.
O acervo inclui eventos importantes da cena cultural independente pernambucana, como SPA das Artes, Festival de Inverno de Garanhuns, exposições no MAC de Olinda e no Museu Murillo La Greca, além de performances em espaços como a Menor Casa de Olinda e o Ateliê Submarino. Fernando também registrou bastidores e shows de bandas e artistas como Textículos de Mary, Backing Ballcats Barbis Vocal's, Mundo Livre S.A., Cordel do Fogo Encantado e Jards Macalé. Também não faltam registros da boemia, dos bares e de figuras da noite do Recife e Olinda. Outro destaque vai para as gravações dos programas e comerciais da TV da época.
Para Irma, além do aspecto artístico, há um componente afetivo e histórico fundamental: “Resgatar esse material é preservar parte da memória da cidade, de seus artistas, seus espaços e suas transformações. O acervo mostra também a força dessa cena cultural antes da era digital, numa época em que quase ninguém estava preocupado em documentar sistematicamente”.
Ainda de acordo com ela, as imagens de Fernando refletem um universo caótico e fascinante. “Um excesso de informação antes mesmo dos reels e memes. Os títulos dados a cada fita são uma arte à parte, codificados longe do alcance dos simples mortais, tais como: Sap Eurist Viervo, Tamarindo, Morto2, Rola. Há também muitas imagens de filmes que passavam na TV, de revistas e capas de livros. Toda uma fauna e flora da vida urbana. Registros da arquitetura e da moda”.
O evento de lançamento será marcado por uma exposição multimídia com exibição simultânea e, de acordo com Fernando, semi-aleatória de trechos das fitas digitalizadas, projetadas em telões e monitores. Destaque também para um vídeo-arte inédito criado especialmente pelo artista a partir do material recuperado.
Além das projeções audiovisuais, o evento contará com gastronomia e bebidas especiais: delícias da Dhuzati, cervejas artesanais da Turvalina e caipirinhas preparadas por Mauricio Castro e equipe.
SERVIÇO
Tempo Bruto
Onde: Galeria Maumau – Rua Nicarágua, 173, Espinheiro, Recife-PE
Quando: Sábado (12), a partir das 19h
Quanto: Entrada gratuita
Mais informações: @tempo_bruto | @maumaugaleria | @fernando_peres_lara_neon