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Base Recife realiza mostra de Ismael Caldas

Após 15 anos sem uma exposição individual na cidade, artista pernambucano, falecido em 2016, ganha recorte de obras inéditas apresentadas em A Luz do Silêncio

28 de Novembro de 2025

Foto Divulgação

A Galeria Base Recife inaugura no dia 10 de dezembro, às 19h, a exposição A Luz do Silêncio, do artista pernambucano Ismael Caldas, com curadoria e texto crítico de Daniel Maranhão. Todas as obras da mostra, que passou inicialmente pela Base São Paulo, eram da coleção particular do artista, falecido em 2016, cujo espólio é representado pela galeria.

A exposição apresenta um recorte amplo, que vai da década de 1970 a 2010, trazendo os múltiplos temas que compõem a obra de Caldas: animais, políticos, músicos, atletas, cadeiras, itens do cotidiano, autorretrato e figuras humanas de forma geral. São 10 obras inéditas, todas em pintura com tinta acrílica. Segundo Daniel Maranhão, a pintura do artista não seguia modismo. “Ismael pintava os temas que lhe eram afetos, e não aqueles que o espectador ou o mercado demandava, jamais cedeu à tentação da mídia, do espetáculo, da fama, dos holofotes. Diferente da verborragia de grande parte dos artistas visuais — ainda mais nos tempos atuais, em que se discursa em demasia sobre a própria obra —, Ismael dizia que ‘a pintura não é uma atividade verbal’”, explica Maranhão.

Em entrevista à Continente, em 2003, o artista falou sobre seu processo de produção: "Inspiração existe à medida em que você tem dias de sintonia consigo mesmo. Deprimido não se faz coisa alguma. Estar em sintonia consigo mesmo talvez seja a chave da inspiração". 

Sua pintura traz imagens disformes e carregadas de ironia, representando generais da ditadura militar, políticos corruptos e figuras do imaginário popular. A crítica social é evidente, como na série sobre os políticos intitulada Corruptos, corruptos. Apesar da temática por vezes ácida, a crítica destaca que sua busca não era pela feiura, mas por uma "beleza rara" e por uma realidade despida de ilusões.

Para o artista e crítico de arte, Raul Córdula, organizador do livro Ismael Caldas (CEPE, 2023), a pintura de Caldas é uma expressão do insólito, do incomum, do infrequente e do anormal. O artista busca um outro lado da beleza. Não se trata de feiura do ponto de vista corriqueiro, mas da realidade escondida na visibilidade da figura que se apresenta despida de engodos e adornos, ou quando estes aparecem, isso acontece como um gesto de ironia, de crítica sarcástica.

Além dos traços inconfundíveis, a cor também marca seu trabalho. O também artista José Cláudio escreveu uma crônica sobre o colega pintor na qual ressalta a paleta própria de Caldas que fugia dos tons tropicais. “Ele segue rigorosamente a sua paleta inconfundível. Não se trata aqui das cores das nossas paisagens tropicais, da cor do céu e do mar, das árvores ou das flores ou dos pássaros, da nossa natureza ‘perpetuamente em festa’. As cores de Ismael Caldas não são para ‘açucenar a vida’.” Segundo Córdula, é na série na qual celebra a música, em especial o jazz, gênero pelo qual Caldas tinha um apreço especial, que é possível perceber o uso de uma paleta de cores mais generosa. 

O título da exposição ressalta a invulgar técnica de Ismael no uso da luz em suas obras, assim como o seu temperamento introspectivo, arredio e refratário de encontros sociais, ao ponto de se comunicar com os amigos mais próximos por cartas, vide as inúmeras missivas trocadas com Francisco Brennand, para quem Ismael “era o maior artista de Pernambuco”.

Ismael Caldas (1944-2016) nasceu em Garanhuns e iniciou sua trajetória artística ao se mudar para o Recife em 1963. Em 1966, ingressou na Escola de Artes Visuais da UFPE e participou do 25º Salão do Museu do Estado de Pernambuco. Sua carreira ganhou projeção nacional e internacional já em 1967, ao ser selecionado para a 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Ao longo de cinco décadas, participou de 33 mostras, salões e bienais, com exposições no MAM-RJ, em Portugal e em galerias renomadas como a Bonino (RJ) e a Artespaço (Recife). Exerceu um papel fundamental na formação de novos talentos, lecionando desenho e pintura na Oficina 154, em Olinda, a partir de 1969. Faleceu em 2016, aos 72 anos, vítima de complicações de um câncer.

Inaugurada em março de 2025, a Base Recife fecha este primeiro ano de atividades celebrando o talento do artista pernambucano. “Na coletiva Eixo trouxemos artistas de fora de Pernambuco, que estão despontando no cenário nacional. Conseguimos apresentar ao público pernambucano esses artistas. Agora, trazemos um artista da terra que merece uma maior visibilidade e reconhecimento em seu estado. Estamos felizes de fechar o ano com essa individual”, pontua Gabriela Maranhão, à frente da filial recifense.

SERVIÇO
Exposição “A Luz do Silêncio", de Ismael Caldas, com curadoria e texto crítico de Daniel Maranhão
Onde: Rua Professor José Brandão, 163. Boa Viagem
Quando: Abertura: 10 de dezembro, às 19h. Visitação: de 11 de dezembro de 2025 a 30 de janeiro de 2026. Segunda a sexta, das 10h às 18h
@galeriabase_recife @galeriabase
www.galeriabase.com.br

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