Flávio Tavares: alma semeada por histórias e imagens
Em João Pessoa, a arte pode ser uma folha seca, empurrada pelas pessoas nas calçadas
TEXTO Carol Botelho
16 de Dezembro de 2024
Artista exibe, em painel inacabado, o realismo fantástico, a mitologia e arte popular
Foto Daniela Nader
JOÃO PESSOA – A paisagem brasileira dos tempos coloniais estava mesmo precisando de uma repaginada. Puxando a brasa para nossa sardinha tropical, o pintor paraibano Flávio Tavares vestiu de humor e crítica o cenário que o pessoal do outro lado do Atlântico se meteu a retratar. Misturando nossas latinidades com pitadas renascentistas, surge um universo regido pelo realismo fantástico com recheio de arte popular e mitologia, narrando nossa tragicômica história.
Em uma manhã calorenta na capital paraibana conhecida como Porta do Sol, Flávio e sua esposa – a bióloga Alba – receberam a reportagem da Continente na ampla casa-ateliê onde residem há 31 anos com dois de seus três filhos, meia dúzia de gatos e o cachorro Pudim.
No espaço com pinta de oásis, onde as plantas amenizam os raios de sol e a especulação imobiliária ainda permite o isolamento, animais domésticos convivem com seres escultóricos integrantes do repertório de arte popular que domina a decoração da casa. A sala de entrada é também a de visitas, e impressiona pelo pé direito alto, onde a luz incide enviesada pelos cobogós.
As paredes repletas de pinturas convidam o visitante a um olhar cuidadoso sobre cada um dos seres metamórficos que ocupam telas de dimensões muralísticas. A decorar a sala de leitura, nos deparamos com Brasil, o golpe: a ópera do fim do mundo (2018), trabalho que teve grande repercussão. Personagens políticos que ficaram conhecidos quando da destituição da então presidenta Dilma Rousseff são retratados de forma cômica em um banquete conspiratório. É preciso tempo para reparar na riqueza de detalhes, como as expressões do rosto e do corpo. Tudo ali é dinâmico e se movimenta.
Logo se insinua algo que nos remete a Hieronymus Bosch, tamanha a profusão de seres dignos das fábulas. Bosch é considerado o primeiro pintor fantástico da história da arte ocidental. “A inspiração vem do olho e da alma, de como você vê isso. O restante é apenas verniz intelectual”, afirma Flávio Tavares.
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