Samir está na sala, enquanto escrevo esta crônica. Está com quase três meses. É um menino grande, sorridente e amoroso. Por sorte, puxou totalmente à mãe. De minha genética, só o tamanho mesmo. Só chora pra valer quando tem cólicas. Mama com rara felicidade e dorme à noite com adorável devoção.
Sinal dos tempos. Ainda não viu as avós, tias, e poucos amigos vieram aqui. Com um carrinho que ganhamos de presente do Wallace, damos longas voltas pelas ruas de Olinda. Tenho o costume de chamá-lo com nomes de tribos. Um dia ele é Kapinawá, outro é Kariri, depois vira Fulniô, enfim. Leio histórias dos orixás, ele escuta atento. Depois invento outras histórias, até que ele dorme.
A vida deu muitas voltas, e acabei sendo pai aos 52 anos. Creio que chegou num momento em que estou pronto para tentar ser o melhor para ele. Essencialmente, quero que ele tenha a leveza que não tive, no meu começo de vida. Por isso, brinco tanto, invento histórias malucas e acho o máximo da paternidade quando ele abre um belo sorriso.
Só depois que escolhemos o nome, soube que significa “brisa de verão”, ou “bom companheiro”, em árabe.
Enquanto escrevo, sinto esta brisa e agradeço ao tempo, que me trouxe este amigo para ser meu filho.
SAMARONE LIMA, jornalista, poeta e prosador.