Pela primeira vez na história do Brasil, em 2018, uma indígena concorreu em uma chapa à presidência da República. Mulher, nordestina, mãe, nascida no Território Indígena Arariboia (MA), Sônia Guajajara é uma das principais vozes que atuam na defesa dos povos originários e do meio ambiente. No Brasil e no mundo.
Ainda na juventude, Sônia deixou sua terra para cursar o Ensino Médio em Minas Gerais, a partir de um convite da Funai. Já de volta ao seu estado, formou-se em Letras e em Enfermagem, fez pós-graduação em Educação Especial e engajou-se cada vez mais na militância. Por sua trajetória, Sônia Guajajara – que, atualmente, é coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) – foi reconhecida como uma das 100 personalidades mais influentes da América Latina, em 2020, por um conjunto de organizações internacionais que integram o grupo Latinos por la Tierra. Sua luta e a de milhares de indígenas, no entanto, segue, em Brasília, contra o Projeto de Lei 490 – e o Marco Temporal –, que, no último mês de junho, chegou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara dos Deputados, além de outras emendas que fragilizam a vida dos povos e a demarcação de terras indígenas no Brasil.
Do Maranhão, através de uma videochamada, Sônia Guajajara conversou com a Continente antes de partir para a capital federal, onde acontece o acampamento Levante pela Terra, que conta com a participação de milhares de indígenas, representando povos de todas as cinco regiões do país. Entre os temas trazidos nesta entrevista estão sua história de vida, trajetória política, experiência em uma campanha eleitoral junto com Guilherme Boulos, além da situação dos povos indígenas no atual contexto de pandemia e a grande importância deles para a preservação ambiental no planeta. Mesmo com todos os desafios, Sônia agradeceu a entrevista e declarou: “Sou feliz constantemente. Apesar de tudo, sou feliz todo dia”.
CONTINENTE Hoje (8 de junho), o PL 490/2007 e o PL 2633/2020 entraram na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara dos Deputados. O que isso significa para as lutas indígenas no Brasil?
SÔNIA GUAJAJARA Eu estava até gravando um vídeo para postar nas redes sobre esse dia de hoje, que pode ficar marcado na história do país como o dia em que o Congresso Nacional decretou a morte dos povos indígenas do Brasil. Esse Projeto de Lei 490, para nós, é considerado um projeto de lei da morte, porque vai negar toda e qualquer demarcação de terras indígenas, além de rever processos já concluídos. Ou seja, qualquer um que tenha sua terra já demarcada, pode ser que, a qualquer momento, sua terra seja revisada e reduzida. Esse PL 490 é o pior de todos. É trágico, para nós, povos indígenas; é trágico para o meio ambiente. E se é trágico para o meio ambiente, também é para a humanidade. Todo mundo tem que entrar junto para pressionar pela retirada dessa pauta, porque, por mais que ela hoje esteja somente na CCJ, sendo aprovada, o projeto pode ser rapidamente aprovado no plenário da Câmara. Eles têm maioria lá e estão muito empenhados em aprovar esse PL, porque é o que vai beneficiar os seus parceiros das grandes corporações e multinacionais. É exatamente por meio dele que vai se aprovar a exploração dos territórios, o desmatamento e a grilagem.
CONTINENTE Vou pedir para você mesma se apresentar. Quem é Sônia Guajajara? E como sua trajetória a trouxe até aqui?
SÔNIA GUAJAJARA Eu sou a Sônia Guajajara. Sou graduada em Letras e técnica de Enfermagem. Atualmente, sou coordenadora executiva da Apib, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Mas, para chegar até aqui, eu passei por todas as etapas que se passa enquanto liderança em um movimento social. Fui da coordenação executiva da Coapima, que é a Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão. Fiquei lá por dois mandatos, depois, fui para a Coiab, que é a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, onde também fiquei por um mandato. Em seguida, fui compor a Coordenação Executiva da Apib. Este ano, concluo o meu segundo mandato e último ano. O que lhe faz liderança é a sua trajetória, o seu compromisso e o seu engajamento dentro do que você faz. No meu caso, meu compromisso sempre foi com a luta em defesa dos povos e dos territórios indígenas.
CONTINENTE Comente sobre o Território Indígena Arariboia, que é de onde você vem.
SÔNIA GUAJAJARA O Território Indígena Arariboia abrange cinco municípios, aqui, no Maranhão, que são Amarante, Arame, Buriticupu, Bom Jesus das Selvas, Santa Luzia e Grajaú. A gente diz seis, porque tem uma pontinha também em Grajaú. Ele tem uma área territorial de 413 mil hectares, na qual residem, em média, 14 mil indígenas do povo Guajajara, mas também tem a presença do povo Awá Guajá, que é um grupo de povo sem nenhum contato com a sociedade. Nem mesmo conosco, os Guajajara, que somos dali. O povo Awá Guajá é um povo isolado, como o Estado chama, e que nós chamamos de povos autônomos. É uma das últimas áreas de floresta amazônica no Maranhão, e que já perdeu mais de 40% da vegetação nativa por conta do desmatamento ilegal. A gente sofre com a exploração ilegal de madeira, que está matando muitos indígenas, por conta de todas essas atividades ilícitas no território.
Sônia no Levante pela Terra, movimento realizado em junho, em Brasília, contra o PL 490. Foto: Webert da Cruz
CONTINENTE Em 2001, você participou do Encontro Nacional dos Povos Indígenas, em Brasília. Como aquela experiência a afetou?
SÔNIA GUAJAJARA Foi a minha primeira participação no Encontro Nacional dos Povos Indígenas. Até então, eu já me entendia muito envolvida, muito atuante no Movimento Indígena, mas de maneira indireta. Em 2001, participei da Conferência pós-marcha, como era chamado aquele encontro que sucedeu a Marcha Indígena 2000. Em 2000, aconteceu uma grande marcha rumo a Porto Seguro (BA), em que o Brasil inteiro marchou para lá. Houve um momento de muitos conflitos, porque o governo de Fernando Henrique Cardoso já tentou cooptar lideranças indígenas para aprovar o seu projeto. Em 2001, teve esse encontro para avaliar a marcha de 2000. Ali, foi, para mim, um encontro com a luta, com os indígenas do Brasil. Ali, descobri que existiam indígenas que não tinham terra, porque eu não conhecia esse processo de demarcação de terras. Quando comecei, Arariboia já era um território demarcado e eu não sabia que tinha todo esse conflito por terras no Brasil. Em Brasília, naquele momento, comecei a entender, a partir das histórias de luta do povo do Nordeste, principalmente. Eles trouxeram as histórias das retomadas, as histórias da perseguição às lideranças que lutavam pela terra, as histórias de toda a violência sofrida por eles e os assassinatos. Foi o meu encontro com essa luta pelo território. A partir dali, nunca mais fui a mesma.
CONTINENTE Você sempre afirma gostar muito de literatura. Sua escolha por estudar Letras veio disso?
SÔNIA GUAJAJARA (Abre um sorriso) Até foi, mas foi também pelo acaso, porque, aqui, em Imperatriz (MA), na Universidade Estadual do Maranhão, dos cursos da área da Educação, eu me identificava muito mais com Letras. Claro que eu também sempre tive essa vontade, esse dom de ler muito; então, para mim, Letras estava muito mais próximo do que eu já gostava.
CONTINENTE A seu ver, qual a importância da educação?
SÔNIA GUAJAJARA Qualquer luta é válida quando se luta pela educação, porque é a partir dela, inclusive, que você consegue fazer uma análise de mundo e comparar com a sua própria história. Eu tive os meus pais analfabetos, mas uma coisa sempre soube diferenciar: o fato de eles serem analfabetos não queria dizer que eles eram ignorantes, porque eles podiam não distinguir entre uma letra e outra, mas sabiam muito bem educar seus filhos, dar amor e cuidado. Eles não estudaram porque não tiveram oportunidade, mas sempre quiseram que os filhos estudassem. Mesmo com poucas condições, tentaram dar essas condições a todos os filhos. E eles conseguiram. Eles viram uma forma de a gente sair e estudar fora, em outro município. Eu saí ainda muito pequena para poder estudar. Na primeira vez, saí aos 10 anos de idade, para fazer o Fundamental, em um município próximo. Para fazer o Ensino Médio, recebi o convite da Funai (Fundação Nacional do Índio) para estudar em um internato. Muita gente não entendia. Minha mãe não queria, porque se entendia que internato era para quem era rebelde, agressivo. Eles não queriam aceitar que eu fosse, porque sempre fui uma boa aluna. Mas eu queria muito ir porque sabia que, saindo, poderia ter mais autonomia, mais independência e responsabilidade. Com 15 anos, então, aceitei esse convite. Inicialmente, enfrentei a família naquele momento e disse: “Eu vou, quero ir e, se eu não gostar de lá, eu volto”. Minha mãe ficou contra e minha avó ficou contra, mas meu pai me disse: “Minha filha, fique à vontade. Se você quiser ir, vá. E se você não gostar, volte, que nós estaremos aqui lhe esperando”. Essas palavras dele me deram muita força na hora, eu só me levantei e fui. Porque também não foi um convite para pensar se queria ou não. Era para responder na hora. Se aceitasse, já tinha que ir logo. Topei, arrumei as malas e fui. (Abre um sorriso) Em cima de um caminhão, saí de Amarante para Imperatriz. Daqui, fui, com esse apoio da Funai.
CONTINENTE Sônia, conte sobre o projeto Maracá-Emergência Indígena e sua importância.
SÔNIA GUAJAJARA O Maracá foi uma live que nós organizamos em 2020, para apresentar o Plano Emergência Indígena. A gente construiu esse plano a partir da Assembleia da Resistência Indígena, que aconteceu em maio de 2020. Nessa assembleia, entendeu-se que a gente tinha que elaborar um plano de enfrentamento à pandemia, já que o governo não tinha nenhum planejamento para povos indígenas. Começamos essa discussão para elaborar um plano e, aí, distribuímos várias pessoas, especialistas, indígenas das aldeias, do Movimento Indígena, para podermos trazer os principais eixos que precisavam ser trabalhados durante a pandemia. Desde logística e insumos a medidas jurídicas, legislativas, e também de comunicação. Nas medidas jurídicas, a gente entrou, em 2020, no Supremo Tribunal Federal com ADPF 709 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 709), que também rendeu e está rendendo até agora. Foi uma ação impetrada pela Apib no Supremo. Para nós, foi bem importante, porque foi a primeira vez que o STF acatou uma ação apresentada diretamente pelo Movimento Indígena. A gente tentou outras vezes, mas eles nunca tinham aceitado, porque ainda consideravam a gente como menor ou incapaz. Eles acataram a ADPF 709 e também determinaram ao governo federal a elaboração de um plano de enfrentamento à pandemia. Essa determinação do Supremo para elaborar esse plano ficou, mas nós, do Movimento Indígena, também elaboramos o nosso próprio plano. E, para poder repercutir e conseguir apoio, nós realizamos a live Maracá. Ela reuniu mais de 200, 300 artistas do Brasil e do mundo todo, teve a presença de várias pessoas incorporando ou falando mensagens indígenas, mensagens de luta que falamos em algum momento. Essa live ficou muito boa e participativa. Resolvemos transformá-la em uma websérie. Nós juntamos ela com o plano e ficou Maracá-Emergência Indígena, que é a live transformada em websérie para apresentar nosso plano de enfrentamento à pandemia. Ela está disponível no site da Apib. Foi exatamente o Maracá que gerou tanto incômodo e indignação ao governo federal. A Funai acabou denunciando a Apib por conta dela.
CONTINENTE Em 1988, a Constituição Federal reconheceu oficialmente o direito territorial aos povos indígenas. Cerca de 13% do território nacional é área indígena e a maior parte está localizada na região da Amazônia (dados do Instituto Socioambiental). Mas o direito indígena ao território é anterior à própria Constituição, pois trata-se de um direito originário. Queria que comentasse isso.
SÔNIA GUAJAJARA O reconhecimento aos territórios indígenas é muito anterior. A CF escreveu, ali, de um jeito mais detalhado, trazendo a questão do “usufruto exclusivo dos povos indígenas”. Então, por que é um direito originário? Porque esse direito ao território antecede a Constituição Federal. Nós, povos indígenas, somos povos originários, já estávamos aqui desde sempre. O Estado brasileiro entendeu uma forma de regularizar esses territórios, mas não era para beneficiar os indígenas. Era exatamente para tirar o pedaço maior e dar para a exploração, para o “desenvolvimento”, como eles falavam. A Constituição foi escrita a partir da luta dos povos indígenas, a partir das lideranças indígenas, que se organizaram na pré-Constituinte com outros aliados, entidades de apoio e também constituintes para defender os artigos 231 e 232. Neles, ficaram escritos, reconhecidos como territórios indígenas, aqueles que eram tradicionalmente ocupados pelos povos indígenas. Ali, garantiu-se também “usufruto exclusivo dos povos indígenas” para a reprodução física e cultural desses povos. E, ainda, de que é um direito intransferível, imprescritível. Só que agora eles estão tentando acabar com esse direito territorial dos povos indígenas, que está na Constituição, por meio de emendas legislativas. Mas nós afirmamos sempre que, para além de constitucional, é um direito originário. Então, não é somente um mandato legislativo que vai poder retirar, mudar a Constituição; teria que haver uma discussão muito mais ampla e profunda. Não é chegar e arrancar de qualquer jeito, porque foi um direito adquirido.
Guajajaras na aldeia Jenipapo, na terra indígena Arariboia (MA), em 2019. Foto: Eduardo Anizelli/FolhaPress
CONTINENTE A pauta do meio ambiente, por bastante tempo, foi secundarizada, mas vocês, líderes indígenas, já levantam a importância dela há tempos. Como você percebe o engajamento e a participação da juventude nessa luta? Não apenas no Brasil, mas também internacionalmente.
SÔNIA GUAJAJARA A vida inteira a gente fala da importância de proteger os territórios, da importância de proteger o meio ambiente e a relação dos povos indígenas com a natureza, que, para nós, é uma só. Só que, desde os primeiros planos de desenvolvimento econômico do país, eles sempre utilizaram como base a exploração dos territórios e a retirada dos povos indígenas, porque o que importava era o “progresso”. A gente sempre disse que não se concebe o “progresso” a partir da morte, a partir da destruição. Por muito tempo, a gente esteve à frente, fazendo essa luta, essa defesa, sensibilizando as pessoas de que isso está errado e pouca gente dava ouvidos. Hoje, a gente acredita que esse investimento tem que ser na juventude, porque é muito mais fácil mudar a cabeça de quem está ainda em processo de formação. Nos últimos anos, a juventude tem entrado com muita força e vem fazendo muito essa defesa. Os jovens estão entendendo que o meio ambiente é parte de sua vida, que sem ele não se consegue futuro. A juventude, preocupada com o futuro, está hoje se engajando muito mais no Brasil e no mundo inteiro. E, para defender o meio ambiente, não tem como não defender os povos indígenas. Não há como separar. Eles, entendendo-se defensores do meio ambiente, também precisam conhecer a pauta indígena e abraçar essa causa.
CONTINENTE Por que é tão importante que a luta pela demarcação de terras indígenas conte com o engajamento e a participação de todos?
SÔNIA GUAJAJARA Comprovadamente, os territórios indígenas, mesmo sem uma política efetiva de proteção, são os mais preservados. Por que todos têm que compreender como uma luta sua também? Porque, se está comprovado que os territórios indígenas são os mais preservados, está comprovado também que a vida no planeta depende desses territórios protegidos, dessa floresta em pé, dessas nascentes, dessas águas que estão nesses territórios. Essa água limpa chega em muitos lugares. Hoje, nós, indígenas, somos 5% da população mundial. E protegemos 82% da biodiversidade viva no mundo. Esse dado serve muito bem para as pessoas colocarem em que lugar estão e qual a sua relação com os povos indígenas. Se nós, indígenas, protegemos 82% da biodiversidade, se os nossos territórios são comprovadamente os mais preservados, quem é que consegue viver sem biodiversidade? Se nós, povos indígenas, estamos ameaçados, a biodiversidade está ameaçada. Se a biodiversidade está ameaçada, todas as pessoas estão em risco, porque ninguém consegue viver sem essa biodiversidade no mundo. As pessoas precisam pensar nisso. Qual é a sua relação com os indígenas e com a pauta da demarcação de terras indígenas? É entender essa luta como uma luta que garante a sua vida também, porque é exatamente a floresta em pé que garante a chuva. Essa chuva que sai da floresta e vai lá para o Sul e Sudeste do país, abastecendo os reservatórios de água. Essa água que chega em todas as casas. Se não tem a floresta em pé para poder ter essa chuva, não tem também como chegar água em outras partes. Dentro das terras indígenas, ainda, é o lugar onde tem alimentação sem veneno, onde tem água potável, boa para banhar e beber. Qual cidade grande tem um rio com uma água limpa? Qual cidade grande que não tem os esgotos jogados para dentro? A nossa casa tem que ser entendida como essa “casa comum”, como o Papa Francisco já diz. As pessoas precisam entender que essa “casa comum” tem que ser cuidada por todos.
CONTINENTE Você acha que vai demorar para que as populações que vivem nas cidades sintam “a dor da Terra” e se convençam do desastre ambiental que está em curso?
SÔNIA GUAJAJARA Quem não entender pela consciência, vai entender pela dor, porque os desastres já estão aí. A gente já está vivendo muitas catástrofes ambientais e a gente já vê que muitas pessoas estão percebendo que esse modo de vida que está sendo adotado para atender ao capitalismo, esse modelo econômico, que está sendo adotado no mundo inteiro, não vai mais sustentar a Terra por muito tempo. O coronavírus já é decorrência de toda essa destruição provocada pelo homem. Se afeta os ecossistemas e todas as espécies, já tem ali um processo próprio para se regenerar ou morrer. Mas, se esse equilíbrio se perde, as espécies ficam perdidas também. Não sabem mais para onde ir, não sabem mais o que fazer e acabam buscando um abrigo. Esses vírus que aparecem acabam não encontrando mais seu habitat natural e procuram abrigo, vão se espalhando por aí. É muito perigoso que vírus como esses continuem aparecendo, se essa destruição não for freada agora. Penso que essa pandemia é como uma transição também, um período transitório para as pessoas buscarem essa consciência de que é preciso uma mudança de comportamento, uma mudança nas formas de consumo e também uma maior consciência política. Porque tudo isso depende da nossa consciência política e a gente precisa atentar para isso.
CONTINENTE Quais são os seus sonhos, Sônia?
SÔNIA GUAJAJARA Olha, penso muito em liberdade para todas as pessoas, em um país mais igualitário. Essa desigualdade mata muito: mata indígenas, mata negros, mata pobres. A gente precisa ter um país mais igual, no sentido das condições. Quando falo do igual, não é que quero que todo mundo seja igual, mas que todos tenham direito de condições, de participação, de acessos, mas que também sejam reconhecidas as diferenças. Por mais que Bolsonaro diga hoje: “Ah, nós somos o povo brasileiro, não tem ninguém diferente do outro”. Nós, povos indígenas, por exemplo, temos as nossas especificidades e isso precisa ser reconhecido pelo Estado brasileiro. Precisamos ser atendidos dentro das nossas diferenças. Sonho com um país mais justo, mais igualitário, mais fraterno, em que as pessoas todas tenham mais acesso à qualidade de vida, justiça...
Sônia Guajajara em comício em São Paulo, durante a campanha para presidência, na qual concorreu como vice de Guilherme Boulos. Foto: Ronaldo Silva/Futurapress/FolhaPress
CONTINENTE Em 2018, você foi candidata à vice-presidência na chapa com Guilherme Boulos, pelo Psol, sendo a primeira indígena a concorrer a este cargo. Como foi essa experiência?
SÔNIA GUAJAJARA Foi uma experiência fantástica, incomparável a qualquer outra coisa, porque foram 2018 anos para a gente poder chegar nesse lugar. E nós, indígenas, temos dificuldades até nas candidaturas locais. Então, chegar a uma chapa presidencial, para nós, parecia um sonho inalcançável. E a gente conseguiu, ali, construir essa “chapa-movimento”, que trouxe uma candidatura diferente, que trouxe para o centro do debate público a demarcação de terras (indígenas), a pauta ambiental e todas as pautas que foram historicamente esquecidas e secundarizadas. Não importou o resultado eleitoral que a gente teve, mas o resultado político daquelas eleições. Tanto as candidaturas indígenas nos estados foram fortalecidas, como também motivou tantas outras mulheres a entrarem nesse mundo da política partidária, além de ampliar muitas relações para além das nossas com o movimento indígena. A gente ampliou para outros setores da sociedade essa compreensão, essa aproximação sobre a pauta indígena. Com certeza, houve muito mais adesão de pessoas a tentar compreender e se aproximar da luta indígena.
CONTINENTE Naquela eleição, houve a propagação de muitas fake news e muitas candidatas mulheres sofreram com ataques misóginos. De que maneira isso a atingiu?
SÔNIA GUAJAJARA Até hoje, né? Porque essas fake news, agora, ganharam corpo e as pessoas aprenderam a criar robôs para poder pregar mentiras. A cada dia, elas seguem inventando e acreditando nas suas próprias mentiras para afetar os outros. Tem, até, uma entrevista minha em que eu falei que esperei que “a lapada fosse maior”. Mas ela não veio tanto assim, acho que porque eu também esperei muito, botei a régua tão lá em cima, que o que chegou não senti tanto. Eu estava muito preparada para tudo que chegasse. Senti, claro, porque muitas outras colegas, como a Manu (D’Ávila, do PC do B), por exemplo, foram muito mais atacadas. E quando outra mulher é atacada, a gente se coloca no lugar. Mas acho que, comigo, as fake news vieram depois da candidatura, como estão até hoje. Toda hora tem uma coisa, toda hora tem uma mentira, um áudio, um vídeo falando de mim. São exatamente esses robôs que se prestam a ficar querendo destruir a imagem de quem se opõe ao governo.
CONTINENTE É muito difícil prever o que vai acontecer em 2022. Mas que horizontes você visualiza em relação à política nacional?
SÔNIA GUAJAJARA Ainda estou com isso muito embaralhado na minha cabeça. Sinceramente, não consigo enxergar como a gente vai chegar em 2022. Mas uma coisa é certa: a gente que é mesmo desse campo de esquerda, que é desse campo democrático, a gente precisa se juntar mais. Juntar-se mais e, até, abrir mão de nossas próprias vontades para atender a um projeto político mais coletivo. Porque, senão, a boiada vai passar.
CONTINENTE Mesmo que o atual presidente não seja reeleito em 2022, quais os desafios que o bolsonarismo e as práticas de seus seguidores deixam para as populações indígenas cotidianamente?
SÔNIA GUAJAJARA Esse bolsonarismo tem conseguido impregnar muito negativamente. As práticas de racismo aumentaram bastante. Muita gente está se sentindo respaldada a praticar racismo. O machismo também cresceu muito nesse período, inclusive, com o aumento do feminicídio nesta pandemia. A invasão das terras indígenas só aumenta. Os ataques aos povos indígenas também têm aumentado bastante, também pela violência física. Quando a gente fala sobre o aumento de tudo isso, estamos falando, claro, do governo, porque ele está investindo totalmente em uma campanha de ódio para poder ter essa reação dos seus seguidores. Na própria sociedade, tem os que praticam esses atos e tem a outra parte que se cala e não reage. Essa conivência também é desastrosa. Vai demorar muito para a gente poder acabar com o bolsonarismo e gerar também essa reação na sociedade para acabar com isso. Ainda vai ficar um rastro desastroso por algum tempo.
CONTINENTE No Congresso, a presença de políticos que defendem pautas conservadoras é bastante expressiva. Como avançar com as pautas indígenas e ambientais na política institucional, apesar desse entrave que a cada ano vem crescendo?
SÔNIA GUAJAJARA É terrível, porque eles estão levando tudo. Nós estamos conseguindo segurar algumas pautas. No ano passado, a gente barrou esse PL 2633, que é o da grilagem. Ele está para voltar agora também. Em 2015, a gente já tinha barrado a PEC 215, tanto que ela foi perdendo força, e não conseguiram aprovar até agora. Nesse PL 490, eles juntaram tudo em um pacote só, mineração, garimpo, desmatamento... A gente tem utilizado várias formas, inclusive, em uma articulação internacional, a partir da relação com as próprias empresas, que produzem, financiam ou compram produtos no Brasil. De que adianta elas pregarem que são responsáveis e estarem produzindo ou comprando produtos daqui, que promovem destruição ambiental e violam direitos humanos? Nós temos tido alguns resultados com essas empresas. No ano passado, quando a gente barrou o PL 2633, foram exatamente cartas de empresários da Europa enviadas ao Rodrigo Maia, presidente (da Câmara), na época, dizendo que se eles continuassem insistindo em aprovar projetos de lei que destruíssem o meio ambiente, eles encerrariam os negócios. Foi ali que a gente conseguiu barrar e retirar da pauta o PL 2633. E, por outro lado, a gente tem também toda essa força espiritual. Quando acaba tudo, que não tem mais jeito, a gente parte para o espiritual, para os cantos, para a dança, para o ritual, sabe? E nós acreditamos que essa espiritualidade tem tido um efeito muito grande contra a aprovação dessas medidas no Congresso. Por fim, nós precisamos apostar e investir nas candidaturas indígenas. Temos que trazer mais candidaturas indígenas, eleger mais parlamentares indígenas. Hoje, nós temos uma, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR). A presença dela já faz uma grande diferença ali, mas a gente precisa fortalecer isso e trazer mais indígenas para dentro do Congresso Nacional.
CONTINENTE Já que você falou da espiritualidade, poderia contar um pouco sobre a cosmovisão Guajajara?
SÔNIA GUAJAJARA Nós, Guajajara, falamos que somos o povo das matas e o povo das águas. Temos essa relação forte com a água, com a mata, com os bichos e temos as nossas festas. Agora mesmo estou com as minhas mãos (Sônia mostra suas mãos pela câmera), porque participei de um ritual de iniciação da criança. Com um ano, a criança faz o ritual e vai passar a comer outros alimentos. Então, eu fui nomeada para pintar a criança no momento. Esse é o primeiro, o rito de iniciação da criança. Depois, temos a festa da menina moça, temos a festa dos rapazes, temos a festa do mel… Em todas essas festas, a gente chama a natureza. Chama toda essa força das águas, como esse universo que protege, esse universo que precisa ser escutado. Nos nossos cantos, a gente chama tudo, chama os bichos da mata, chama as árvores. Cada uma pelo seu nome. A água, os bichos, os peixes, as aves. A gente chama tudo para esse momento, ali, de proteção. É o momento em que a gente parece que sai desse mundo terreno e vai para o mundo espiritual, porque a gente sente que se encontra, ali, com os nossos encantados. E são exatamente os encantados que nos dão essa orientação, o caminho que devemos seguir.
CONTINENTE Nossa sociedade está adoecida?
SÔNIA GUAJAJARA Nossa sociedade está muito adoecida. Está precisando rapidamente de um princípio ativo para acabar com essa baixa humanidade.
CONTINENTE Com a pandemia da Covid-19, mais de mil vidas indígenas foram perdidas. Como tem sido esse momento para os povos indígenas no Brasil?
SÔNIA GUAJAJARA Muita dor, tristeza e um momento assustador. Os povos indígenas ainda estão muito assustados com tudo isso. Para a gente, cada vida importa, porque, quando morre um indígena, parte da cultura também se enfraquece. Então, a gente tem lutado muito, mas muito mesmo contra essa pandemia. E não conseguimos evitar a morte dessas 1.054 pessoas até o dia de hoje. Está sendo muito dolorido e muito assustador para todo mundo.
No Rock in Rio de 2017, a cantora Alicia Keys convidou Sônia para subir ao palco. Foto: Pablo Jacob/O Globo
CONTINENTE O programa de vacinação do país tem avançado para os povos indígenas?
SÔNIA GUAJAJARA O programa de vacinação traz uma falsa sensação de que os povos indígenas estão sendo todos vacinados. A própria Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) tem divulgado um número que não condiz com a realidade. Eles têm falado que mais de 70% dos povos indígenas já estão vacinados, só que eles estão trabalhando com a metade da população indígena do país. O último Censo (2010) contabiliza cerca de 900 mil indígenas, e eles estão trabalhando com 410 mil indígenas. Eles estão falando que 70% dos 410 mil já estão vacinados. Só que, aí, quando eles trazem esses 70% dos 410 mil, nós temos, além desses, mais um percentual não vacinado, que é o que está fora do Plano Nacional de Vacinação. O governo federal, inclusive, tem divulgado três fontes de vacinação. Uma da Sesai, uma do Ministério da Saúde e a outra do Comitê Nacional de Imunização. Cada um desses apresenta um dado diferente. Esses dados divulgados, então, também não têm uma transparência confiável. A gente não consegue ter um panorama real de como está a vacinação dos povos indígenas hoje, porque, além dos que estão fora, nós temos, dentro das aldeias, os indígenas que não estão dentro do Sistema de Informação de Atenção à Saúde Indígena, da Sesai. E, ainda, há uma rejeição muito grande por conta das próprias fake news. As mentiras que foram espalhadas de que a vacina causaria isso e aquilo. “Ah, vai virar jacaré”, Bolsonaro disse. “Ah, vai ter um chip que vai ficar te monitorando”, “Ah, vai morrer”. Teve muitas mentiras espalhadas e os próprios evangélicos também, nas aldeias, começaram a pregar nos cultos que Deus que vai curar, que não é a vacina. Houve muita rejeição e está havendo ainda. Muita resistência de indígenas que não aceitam a vacina. E nós seguimos, ali, orientando, motivando. Em fevereiro, nós fizemos o mês inteiro de lives realizadas pelas mulheres indígenas com a campanha Vacina Parente, que era fazendo esse chamado para os parentes se vacinarem. Mas ainda tem muita gente que está fora da imunização.
CONTINENTE De que forma a presença dos evangélicos neopentecostais tem chegado nas aldeias? Digo, com relação ao impacto cultural.
SÔNIA GUAJAJARA Eles têm chegado muito fácil. Até porque eles chegam pelo lado mais fragilizado e toda essa ausência do poder público, toda essa ausência de políticas públicas deixa uma lacuna que é muito fácil ser preenchida. Os evangélicos chegam por aí, oferecendo tudo o que a pessoa precisa em um momento difícil. Quando eles chegam, oferecem e entregam tudo, é um assédio. Eles chegam aos territórios por esse lado mais fragilizado e começam ali uma amizade; daqui a pouco, têm toda essa confiança que ninguém consegue mais se livrar. Por último, vem a história da imposição da fé, aquilo que eles colocam como o “certo”, que é o que eles estão pregando, e o que é outra cultura está errado. Muitos não aderem. Mas tem muita gente que fica praticando algum tipo de religião e deixando a sua cultura de lado, porque a lavagem cerebral é grande.
CONTINENTE No documentário Guerras do Brasil, da Netflix, Ailton Krenak diz, no primeiro episódio, que “O Brasil é uma invenção”. A gente sabe que conhecer a história é importante, mas as narrativas que muitas vezes aparecem em livros de história apresentam uma visão colonizadora sobre a formação deste país. A seu ver, qual a importância de uma educação transformadora e que essas histórias sejam contadas a partir da visão dos povos indígenas e quilombolas para as novas gerações?
SÔNIA GUAJAJARA Acho que essa história está sendo recontada. Hoje, até por meio das lives, até por meio dessas entrevistas, acho que a gente está começando a recontar essa história. Até então, o que a gente tem são os livros que foram escritos pela versão do colonizador, do invasor. Colocaram tudo muito lindo, né? O próprio José de Alencar trouxe a Iracema de uma forma perfeita, ali, como se o indígena fosse esse objeto e, ainda, um objeto sexual. Hoje, já existem muitas críticas a essas versões como foram contadas no Romantismo, mas também àquelas versões que foram contadas a partir do heroísmo europeu, né? Hoje, a gente começa a contar também essa história de morte, de estupro, de escravização, de expulsão, enfim, de extermínio mesmo dos povos indígenas e da população negra durante todos esses períodos. Não estou nem falando que acabou, porque as práticas continuam muito vivas. Mas a gente hoje já tem outros mecanismos de não simplesmente aceitar e se calar. Hoje, a gente já pode gritar, denunciar e contar com uma rede de pessoas que também consegue apoiar. Acho que a gente está contando essa nova história. O Brasil só vai mesmo se conhecer, a população brasileira só vai se conhecer, quando escutar a história da origem do Brasil a partir dos povos indígenas e da população negra. Enquanto isso, a sociedade brasileira não indígena segue como em um barco à deriva, a exemplo do que estamos hoje, sob o comando de Bolsonaro. Muita gente, por não conhecer sua própria história, está aí, sem saber para onde ir.
CONTINENTE Outras formas de pensar e cosmovisões estão chegando também às universidades e modificando as formas de se fazer conhecimento. Como você percebe isso?
SÔNIA GUAJAJARA Eu acho superimportante e necessário. A universidade precisa se inovar. Tem que inovar, inclusive, na forma de educar e ensinar, porque a universidade não pode mais ser esse lugar que transfere conhecimento. Tem que ser lugar de troca, de vivência. E se tem ali indígenas e negros, eles também têm que ser valorizados como detentores do conhecimento e não apenas como alunos, porque eles trazem uma vivência, trazem uma experiência, um outro modo de vida que a academia desconhece ou só conhece através dos livros. É muito importante que a universidade seja esse espaço de troca e de valorização do conhecimento empírico que cada um traz.
CONTINENTE Como você analisa a cobertura da imprensa tradicional das pautas indígenas e relacionadas ao meio ambiente?
SÔNIA GUAJAJARA A imprensa tradicional tem até dado espaço para a gente, ultimamente. A gente tem tido uma boa recepção, porque nunca foi fácil para a gente acessar esses canais. A gente sempre esteve muito presente nas redes, nas mídias alternativas. Criamos também as nossas próprias redes, a exemplo da Mídia Índia, que a gente criou para poder ter um espaço. Houve um tempo que eu fazia um vídeo e não tinha onde colocar, eu não tinha nem Instagram. Fazia uma matéria e colocava onde? Ninguém queria cobrir. Hoje, a gente conseguiu criar uma rede grande de imprensa, a gente manda direto para os jornalistas e eles já se interessam pelas nossas pautas. Acho que a pauta indígena conseguiu conquistar um lugar que antes não tinha. Antes, a gente tinha medo de dar entrevista porque, às vezes, a gente falava uma coisa e saía outra totalmente distorcida. Eu neguei quantas e quantas vezes entrevistas, porque tinha medo de eles distorcerem o que eu estava dizendo ou cortar e pegar fora do contexto. Mas, acho que com o fato de a gente ter acessado as redes sociais e ter crescido nas mídias alternativas, eles foram obrigados a dar atenção. Porque, senão, eles iam ficar com as pautas defasadas. Em algum momento, também, a gente conseguiu acessar a imprensa internacional. A partir das redes, a gente conseguia chamar a atenção internacional. Eles vinham, faziam a cobertura, e depois é que o Brasil se interessava. A gente também fez muito esse papel inverso. Mas agora estamos conseguindo mandar as pautas e elas serem aceitas.
CONTINENTE No caso da mídia independente, nos últimos anos, ela tem crescido bastante. Como você analisa isso?
SÔNIA GUAJAJARA Para nós, a mídia independente tem sido a oficial, porque é ali onde sai primeiro. Pode ver que hoje o que sai nesses grandes veículos é depois que já saiu nas redes sociais e nas mídias alternativas. A gente já chama direto esses jornais, os blogueiros e o povo que a gente conhece para poder publicar. Acho que as mídias independentes estão saindo na frente, até, dos grandes veículos. Antigamente, se escutava a notícia pelo plantão. Mas elas têm crescido bastante e, que bom, porque assim se democratiza mais o acesso à comunicação.
CONTINENTE As mulheres vêm assumindo, cada vez mais, o protagonismo em diversas lutas sociais. De que maneira esse protagonismo feminino acontece dentro do movimento indígena?
SÔNIA GUAJAJARA Nós temos assumido muito essa linha de frente. Há algum tempo, as mulheres já vêm participando, discutindo, superando essa história da submissão como cultura. Em 2019, a gente realizou a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas. Essa marcha trouxe o tema: “território, nosso corpo, nosso espírito”. Para pautar também esses grandes temas, que são a bandeira maior, a luta pela terra. A partir daí, a gente seguiu ocupando vários e vários espaços diferentes. Temos a Joenia Wapichana, que é a primeira deputada federal, no Congresso Federal; a Chirley Pankará, primeira mulher indígena codeputada pela bancada ativista; a Nara Baré, primeira mulher coordenadora geral da Coiab, na Amazônia; no Pará, temos uma organização no estado em que a maioria é de mulheres; aqui, no Maranhão, temos uma coordenação paritária, dois homens e duas mulheres. Eu, na coordenação executiva da Apib e também fui a primeira a disputar uma chapa eleitoral à presidência. Então, assim, a gente tem protagonizado vários espaços de luta, que têm colocado a mulher nesse lugar de protagonista. Estamos avançando bastante.
ERIKA MUNIZ, jornalista, com graduação em Letras.