Ouçam, vou lhes contar a respeito de um lindo país, para o qual muita gente haveria de emigrar, se soubesse onde se encontra e se tivesse uma boa oportunidade de embarcar para lá. Mas o caminho até este lugar é longo, tanto para os jovens quanto para os velhos, que sentem calor demais no verão e frio demais no inverno. Esta linda região chama-se Schlaraffenland ou Cocanha. Lá os telhados das casas são feitos de bolachas amanteigadas. As portas e as janelas são feitas de biscoitos de natal e as vigas são feitas de lombo de porco assado. Coisas que entre nós custam um ducado ali custam só um tostão. Todas as casas são rodeadas por cercas feitas de linguiça e de salsichas da Bavária, assadas ou cozidas, dependendo de como a pessoa prefere comê-las. De todas as fontes jorram o vinho branco e outros vinhos doces, e também o champanhe: escorrem para dentro da boca de quem se coloca junto aos canos. Por isto, quem gosta de vinhos como esses deveria apressar-se e chegar logo ao Schlaraffenland. As bétulas e os salgueiros dão pãezinhos que acabaram de sair do forno e, debaixo das árvores, correm riachos de leite. Os pãezinhos caem das árvores e amolecem sozinhos, é ótimo para quem gosta de pão mergulhado em leite. Uma maravilha para mulheres e crianças, para moços e donzelas! Ei Gretel! Ei Steffel! Vocês não querem emigrar comigo? Vamos lá! Ao córrego dos pãezinhos! E não se esqueçam de levar uma grande colher!
No Schlaraffenland os peixes nadam na superfície da água, bem perto das margens, e já vêm assados ou cozidos. Mas se alguém tiver preguiça demais, como convém a um verdadeiro Schlaraff, basta chamar, “Pst! Pst!”, e os peixes já saem sozinhos da água e se encaminham, saltitando, direto para as mãos do bom Schlaraff, que nem mesmo precisa se abaixar.
Podem acreditar: as aves, ali, já voam assadas. Gansos e perus, pombas e capões, cotovias e tordos. Se for trabalhoso demais esticar a mão para apanhá-los, eles voarão direto para dentro da sua boca. Todos os anos há ali leitões saborosos, que andam, já assados, para cá e para lá, cada qual com uma faca espetada no lombo, para quem quiser se servir de um pedaço fresquinho e suculento.
No Schlaraffenland os queijos surgem como pedras, grandes e pequenos, e as rochas são repolhos recheados ou pastéis de carne. No inverno, quando chove, o que cai do céu é mel em doces gotas, basta lambê-lo, é uma delícia. E quando neva, o que cai é açúcar puro. E o granizo é feito de açúcar em cubos, misturado com figos secos, com uvas passas e com amêndoas.
No Schlaraffenland os cavalos não cagam esterco e sim ovos, grandes ovos, cestas inteiras cheias de ovos, de tal forma que se pode comprar mil ovos por um tostão. E para obter dinheiro, basta sacudir as árvores e as moedas caem, como se fossem castanhas. Cada um sacode quanto quiser, apanha para si as melhores moedas e deixa as de valor menor largadas no chão.
Neste país há também grandes florestas e as árvores e os arbustos dão as mais lindas roupas: jaquetas e casacos, sobretudos, calças e paletós de todas as cores: pretos, verdes, amarelos (para os condutores das diligências), azuis e vermelhos. Quem precisa de roupas novas, vai até a floresta e as faz cair das árvores, a pedradas ou a tiros de espingarda. E nos prados brotam os mais lindos trajes para as mulheres, feitos de veludo, de tafetá, de seda com algodão, de cetim, de seda pura da China e da Índia. Os gramados são feitos de fitas coloridas e também estampadas. Os sabugueiros dão broches e enfeites para blusas e casacos e suas frutas não são pretas, porque são pérolas verdadeiras. Dos pinheiros pendem relógios para senhoras e berloques muito artísticos.
Nos canteiros nascem botas e sapatos e também chapéus para homens e para mulheres, feitos de palha e de seda, e também outros tipos de chapéus, enfeitados com penas de aves-do-paraíso e com penas de colibris, com escaravelhos brilhantes e com pérolas, com bordas esmaltadas e com bordas douradas.
E nesta nobre terra há também duas grandes feiras, e há mercados com esplêndidas oportunidades. Quem tem uma mulher velha e já não gosta mais dela, porque ela já não é mais jovem nem bonita, pode trocá-la, ali, por outra, jovem e bonita, e ainda receber dinheiro de volta. Os velhos feios (pois há um provérbio que diz que quem envelhece fica feio) mergulham num dos banhos de juventude, com os quais esta terra foi abençoada, e que têm grandes poderes. Velhas se banham ali por três dias ou no máximo por quatro dias e se transformam em lindas donzelas de dezessete ou de dezoito anos de idade.
E há muitas diversões no Schlaraffenland. Quem aqui nunca tem sorte, lá a tem, nos jogos tanto quanto no tiro ao alvo e nos torneios. Mesmo alguém que, durante toda sua vida, nunca deu um tiro certeiro, chega lá e acerta o alvo, como se fosse o melhor e mais habilidoso atirador. Os preguiçosos e os dorminhocos, que aqui empobrecem por causa de sua indolência e terminam na falência, vivem muito bem ali. Porque cada hora de sono é recompensada com um florim e cada bocejo com dois talares. Quem perde dinheiro no jogo, volta a encontrá-lo dentro de seu bolso. Os beberrões recebem de graça os melhores vinhos e cada gole, tanto de homens quanto de mulheres, é recompensado com três tostões. E quem melhor souber ludibriar e engabelar, será recompensado, sempre, com um florim. Ninguém, ali, pode fazer nada de graça e quem contar a maior mentira receberá uma coroa como recompensa.
Aqui, a pessoa mente de um jeito e de outro jeito sem nada receber por isto. Lá, porém, a mentira é considerada como a maior de todas as artes e por isso, naquele país, todos mentem uns aos outros, doutores, procuradores e outros tolos, e ladrões de cavalos e artesãos, que sempre enganam seus clientes e nunca mantêm sua palavra.
Lá, quem quiser ser um sábio precisa estudar com algum sujeito bem grosseiro. Entre nós, também há estudantes assim, mas ninguém lhes agradece por isto, nem lhes concede honrarias. E também terá que ser preguiçoso e guloso: eis ai três belas formas de arte. Conheço alguém que, assim que quiser, nisto facilmente poderá se tornar Mestre.
Quem gosta de trabalhar, de fazer o bem e de deixar de lado o mal, ali é considerado inimigo e é expulso do Schlaraffenland. Mas quem for burro, incapaz de fazer qualquer coisa direito, e tiver a cabeça cheia de ideias tolas, ali será visto como um nobre. Quem só souber dormir, comer, beber, dançar e jogar recebe o título de Conde. Mas quem for considerado por todos como o mais preguiçoso e o mais imprestável será nomeado Rei sobre todo o país e receberá um grande salário.
Agora vocês sabem como são os costumes e as características do Schlaraffenland. Por isto, quem quiser se levantar e viajar para lá, e não conhecer o caminho, deverá informar-se com um cego ou com um mudo, pois estes, certamente, não lhe indicarão o caminho errado.
Porém, em torno de todo o país, há uma muralha, da altura de uma montanha, toda feita de arroz doce. Quem quiser entrar ou sair, primeiro terá que comer e comer, até conseguir escavar para si uma passagem.
I – O jardim do esquecimento
E antes mesmo que alguém fosse capaz de pronunciar “Cucamonga”, já estava feito: os portões de ferro, pesados, enferrujados, rangendo sobre dobradiças, que eram como velhas reumáticas, que gemem a cada movimento, com seus dedos inflamados pela artrite, que só à custa de muitas dores se dobram, tremendo como moscas que agonizam com as asas presas na teia de uma aranha, se abriram. Diante dos nossos olhos, o jardim. Ou: o que restava do jardim. Os galhos do flamboyant oscilavam com o vento e o vento hesitava: um vento de primavera que era como se saísse de um fole velho, meio furado, que soprava e se aquietava, parava e recomeçava, recomeçava para logo descansar o fôlego curto, asmático, e varria e não varria o mato e as ervas daninhas que tinham tomado conta daquilo que, um dia, tinha sido o gramado impecável, limpo como um tapete de seda, sobre o qual ninguém pisa, nem mesmo descalço. Outra vez o flamboyant estava cheio de flores vermelhas e, à sua volta, passarinhos esvoaçavam, no auge da alegria. O vento parava e eles se aproximavam das flores vermelhas. Sorviam o néctar doce de morrer, cor de sangue, que era como se brotasse de dentro da árvore. O vento soprava de novo. Os galhos balançavam. Os passarinhos fugiam.
O sangue se acumula nas feridas de um cachorro e atrai moscas. As moscas se deleitam com o sangue. Farto, o cachorro se levanta. Se sacode. Espanta as moscas. Ele se deita e elas voltam.
Assim, também, com os passarinhos em volta do flamboyant.
Ao pé daquela árvore tinha sido enterrado o cachorro Popsy, um vira-lata simpático. A árvore ainda era pequena. O cachorro era grande, gordo e velho quando morreu. Sua substância tinha sido incorporada ao tronco da árvore, mas talvez seus ossos ainda estivessem ali, torcidos pelas raízes, talvez partidos pelas raízes da árvore. É possível que a raiz de uma árvore torça e quebre os ossos do cachorro morto que está sepultado debaixo dela?
É possível e não é possível. As raízes crescem em volta das pedras e crescem em volta dos ossos. Com o passar do tempo, incorporam os obstáculos que encontram nos seus caminhos, debaixo da terra, e criam nós à sua volta. Passa o tempo e estes nós se tornam cada vez mais apertados. Tornando-se cada vez mais apertados, pode-se dizer que torcem os ossos e que torcem as pedras. É sabido que não é possível extrair leite da pedras e nem seiva das pedras. Ainda assim, as raízes das árvores parecem tentar extorquir alguma coisa das pedras que elas enlaçam. As pedras são eternas e nada sofrem com isto porque, depois de alguns séculos, a árvore terá morrido, mas as pedras continuam ali, idênticas. Ninguém fica sabendo de nada: tudo isto se passa nas entranhas da terra.
Com os ossos, é diferente. Ossos não são pedras e sangue não é água. Ossos não duram para sempre e no seu interior há tutano. Uma árvore não pode se alimentar de pedras, mas pode beneficiar-se do tutano que há dentro dos ossos.
Num cemitério judaico não é permitido plantar árvores, para que as raízes das árvores não destruam os ossos dos mortos. Sob condições favoráveis, os ossos dos mortos podem permanecer intactos por muitos séculos, mas também pode acontecer de serem destruídos, incorporados pelas árvores. Depois que até mesmo estas árvores tenham desaparecido, nada vai restar dos ossos.
O flamboyant tendo incorporado os ossos do cachorro morto, os passarinhos se alimentavam do néctar das suas flores vermelhas e cantavam: uma visão encantadora.
As flores atraem os passarinhos.
As feridas que sangram atraem moscas.
Uma grande desordem tinha se instalado no jardim. Os tipos de plantas que recebem o nome de mato, e são desprezadas e arrancadas do solo, sistematicamente, por todos os jardineiros, os bons jardineiros tanto quanto os maus jardineiros, e são exterminadas por herbicidas nas plantações, seriam suficientes para preencher as páginas de vários tratados de botânica: volumes pesados com encadernações em couro e folhas grossas, nas quais vão impressos cuidadosos desenhos feitos por especialistas, sob os quais vêm grafados, em letra cursiva, os nomes em latim das espécies em questão, como aquele maravilhoso livro em três volumes intitulado Flora vulgaris brasiliensis, do botânico austríaco Friedrich Christopher Wiener ou, mais corretamente, Fridericus Christophorus Vienensis, um dos membros da comitiva que precedeu a chegada da Imperatriz Leopoldina quando de sua vinda para o Brasil, em 1817.
Esta comitiva veio a bordo das fragatas Áustria e Augusta, e trouxe, também, todo o mobiliário para a Embaixada da Áustria, recém-instalada no Rio de Janeiro.
Friedrich Christopher Wiener ou, mais corretamente, Fridericus Christophorus Vienensis, teve a singular ideia de dedicar seus anos de estudo no país admirável ao qual chegou e que, a cada dia, espantava mais, com sua opulência, os olhos incrédulos de um cientista europeu, não às árvores colossais e vigorosas, saturadas de seiva, cuja vitalidade transbordante não parecia ter fim, e que já tinham se tornado uma febre entre os botânicos de todo aquele pequeno grupo de países europeus que constituíam o mundo civilizado, aquelas centenas de espécies que eram os arcanos de um mundo vegetal exuberante e aparentemente inesgotável, habitado por figuras titânicas, pela majestade tropical de árvores desconhecidas na Europa e por orquídeas estonteantes, mas àquelas espécies rasteiras, àquelas plantas vagabundas, pisoteadas por todos os jardineiros, que nem mesmo têm nome: o grande clã do mato, com suas folhas rendilhadas, peludas, com seus caules arroxeados e espinhosos, com suas flores acabrunhadas e sem graça, com suas sementeiras cinzas, destrambelhadas.
Aquela multidão espigada, descabelada, espandongada, tinha erguido seu acampamento ali, sobre o território antes consagrado à lisura macia do gramado, feito de uma grama japonesa que, na verdade, acho que era mesmo de veludo e de seda.
Aquilo já era como um acampamento barulhento e malcuidado de ciganos, instalado no palco da melhor sala de concertos da cidade: um acampamento cheio de cartomantes ávidas e de rosto sujo, com grandes aros de ouro pendurados nas orelhas, com tatuagens, cheio de mendigos que regateiam com os caridosos o valor das esmolas.
Só os mendigos ciganos, segundo se diz na Hungria, são suficientemente ousados para regatear o valor das esmolas que lhes são dadas.
O jardim, um dia, tinha sido concebido por um paisagista japonês, que vivia no meio de uma chácara enorme, numa rua esquecida, no Bosque da Saúde, em São Paulo. Uma rua que, talvez, fosse mesmo Rua do Esquecimento. Uns fragmentos das pedras e uns pedaços dos pinheiros anões que o paisagista, de cujo nome já ninguém mais se lembra, tinha espalhado em pontos estratégicos do jardim, ainda eram visíveis no meio do matagal. Despontavam em meio ao verde sem graça do mato sempre um ventinho soprava e vergava seus caules. Eram lembranças vacilantes do jardim oriental. Lembranças não: fragmentos de lembranças.
Seria necessária a paciência de um ourives ou de um restaurador de porcelanas para juntar alguns daqueles cacos e construir alguma coisa que pudesse ser chamada de lembrança, como aquelas que preenchem as páginas dos livros de memórias, dos cadernos de memórias cheios de palavras que olham para o passado e preenchem, com a imaginação, as lacunas criadas pelo esquecimento.
Seria preciso contar com esta paciência, também, para reconstruir uma pequena lembrança daquilo que, um dia, foi a chácara do paisagista japonês. Era um pedaço do Japão implantado no coração do Bosque da Saúde, onde hoje já não há bosque e onde hoje já não há saúde. Havia um laguinho com água de nascente, que escorria sobre as pedras. Dentro do laguinho, havia carpas coloridas. Elas eram douradas, vermelhas, brancas, gordas e pacientes. Havia um velho japonês de rosto grande a achatado, gordo, grisalho, encurvado, que falava pouco. Do pouco que falava, quase nada era compreensível. Acabou sendo lembrado só pelo apelido “molango no balanco”, muito mais fácil de pronunciar do que um nome japonês e do que um sobrenome japonês.
Os morangos que ele pretendia plantar no barranco ficaram como mais uma daquelas tantas promessas que nunca se cumpriram: se é que um dia foram plantados, logo secaram e desapareceram, sem deixar rastro além das palavras, “molango no balanco”, que, de vez em quando, vinham sei lá de onde para desfazer algum mal estar ou para tentar desviar alguma daquelas tensões insuportáveis que se constelavam a cada tanto.
E havia também, é claro, na chácara do paisagista japonês no Bosque da Saúde, os pinheiros anões, umas arvorezinhas que já pareciam nascer velhas, com troncos cheios de hérnias de disco e bicos de papagaio. Esses pinheiros eram, no mundo vegetal, o que as antiguidades bem falsificadas são no mercado de arte e nas grandes casas de leilões. Havia ali um bosque inteiro daqueles pinheiros anões, que já nasciam como um exército de velhos e de inválidos, e cujos integrantes eram despachados, em pequenos destacamentos de três e de dois, para localidades ainda mais distantes do Japão do que o Bosque da Saúde, junto com pedras, junto com seixos rolados e junto com mudas de sei lá quantas plantas, para emprestar ares imperiais e a esperança de um novo Japão dos trópicos aos jardins que iam aparecendo em volta dos casarões dos tempos da Grande Bonança.
Agora, aqueles pinheiros anões sobreviviam cercados por pés de mamona espinhosos. Amargavam, no meio do matagal, um exílio que não tinha remédio.
Além das carpas, das pedras, dos pinheiros anões, havia, na chácara do japonês, o ruído da água, que também seria levado dali, junto com a paz dos templos, com o vermelho dos morangos, com a luz do amanhecer do país do Sol Nascente.
O Japão honra a manhã e o Japão honra o nascer do sol. Heinrich Heine encontra no crepúsculo do norte e nas listras vermelhas que o sol lança sobre o mar, como o aceno de um afogado, o rumor de fábulas antiquíssimas.
No norte, figuras feitas de ar, envoltas por um hálito rosado, acompanham o sol em seu mergulho no abismo.
II – Flora vulgaris brasiliensis
Os volumes da Flora vulgaris brasiliensis, de Fridericus Christophorus Vienensis, foram publicados em Viena em 1834, sob os auspícios do Gabinete Real e Imperial de Ciências Naturais, instituição que, mais tarde, seria incorporada pelo Real e Imperial Museu de História Natural. Nesta época, por meio do casamento da Imperatriz Leopoldina com D. Pedro, a Áustria e os imperadores austríacos sonhavam com a expansão de sua influência, que levaria até a América os limites do mundo civilizado. Depois da independência, em 1822, tudo era alegria e tudo era entusiasmo no Brasil. A Imperatriz Leopoldina concebeu os braceletes verdes sobre os quais foram bordados triângulos amarelo-ouro, a cor dos Habsburgos sobre a cor dos Braganças. E a guarda pessoal do Imperador Pedro I passou a trajar uniformes semelhantes aos da Guarda Boêmia dos imperadores austríacos.
Imediatamente, a Imperatriz passou a reformar o país, empenhando-se em povoá-lo com austríacos, pois entendia que, do contrário, o país ficaria culturalmente muito atrasado. Em 1824 chegaram os primeiros imigrantes de língua alemã ao Rio de Janeiro.
Este mesmo sonho civilizador também realizou-se, em parte, quando Maximiliano se tornou Rei do México: um Habsburgo que imperou sobre o Oceano.
Os volumes da Flora vulgaris brasiliensis, de Fridericus Christophorus Vienensis estavam guardados nos armários, junto com muitas outras coisas: uma coleção de aparelhos fotográficos alemães das décadas de 1950 e 1960; caixas de aço repletas de slides desbotados, mofadas, apaixonadamente organizadas, que contavam as histórias de viagens a Salzburg e às panelas de carne e ao Tafelspitz austríacos, a lugares de veraneio alpinos como a ilha de Iseltwald, no Lago de Brienz, diante do cristal gelado de turmalina do Lago de Brienz e, ao fundo, a neve eterna de picos de nomes adocicados, junto aos quais floresce a brancura imaculada do Edelweiss.
Havia, também, um armário cheio de peças de reposição para automóveis alemães, que há muito tempo se tornaram sucatas ou foram recolhidos aos hangares e às garagens dos colecionadores de automóveis antigos.
O matagal — afinal, era um matagal — que se instalou sobre o território do jardim parecia a ilustração perfeita das páginas do livro Flora vulgaris brasiliensis, de Fridericus Christophorus Vienensis, como se, dos seus desenhos e dos seus nomes latinos, tivessem surgido as sementes de todas aquelas plantinhas que, desde Fridericus Christophorus Vienensis, nunca mais mereceram a atenção de ninguém: plantinhas ordinárias que, mesmo não tendo o mais distante parentesco umas com as outras, eram todas chamadas pelos mesmos nomes: “mato” e “praga”.
Eram 608 as espécies conhecidas, organizadas e catalogadas por Fridericus Christophorus Vienensis, com a mesma irrefreável paixão pela ordem que estava por trás de todos os empreendimentos deste tipo. Separadas, família por família, como os membros de uma nação que é formada por clãs e por tribos. De Acanthaceae e Aizoaceae até Zygophyllaceae, passando por Convolvulaceae, Lorantheaceae, Malvaceae, Papaveraceae, Polygnaceae, Solanaceae, legiões inteiras de pragas com nomes romanos, prontas a tomar de assalto, com suas formações em falange, lanças e escudos em punho, o território do inimigo, os bens e os templos do inimigo. Ou como invasões de povos bárbaros.
Os três volumes em encadernações de couro da Flora vulgaris brasiliensis eram sólidos, mas já havia, é claro, é claro, uns cantos esfarrapados nas lombadas de couro enfeitadas com gomos e com listras douradas. E o papel marmorizado das superfícies internas das capas, evidentemente obra de artesãos italianos do tempo do domínio austríaco sobre Trieste, já tinha perdido o viço: lembrava as fachadas daquelas galerias do século XIX que se veem nas grandes cidades italianas, meio carcomidas e manchadas de fuligem.
Ao lado destes volumes, na prateleira, ficava uma prosaica edição de The rise and fall of the Roman Empire¸ de Edward Gibbon, encadernada em tecido azul que, com o tempo, se tornou cinza e amarelado, e cuja lombada gorda, descolada de um lado, permanecia grudada à capa de trás do livro por um pedaço de fita de celulose, também amarelada e encarquilhada.
Aquele volume era parte de uma coleção intitulada Modern Library, publicada durante os anos de fartura e de grande orgulho dos Estados Unidos, na euforia do pós-guerra. O propósito desta coleção era oferecer a todos as obras-chave da alta cultura ocidental — de Gibbon a Balzac, de Dostoiévsky a Tucídides, de William James a Cervantes: a nobre coleção que, uma vez lida sistematicamente, de ponta a ponta, faria de cidadãos comuns gente culta, digna, instruída, nobre, respeitável, educada.
Aquela edição de The rise and fall of the Roman Empire era um volume decrépito, cujas folhas finas, amareladas, manchadas por fungos, tinham envelhecido de maneira trágica. Era uma ironia que permanecesse ao lado dos três volumes da Flora vulgaris brasiliensis, cuja solidez e estatura majestosa lembravam um imperador, ou lembravam o velho senhor italiano que viajava ao meu lado no trem expresso de Bologna a Milão, vindo de Salerno, irrepreensível em sua elegância: os botões marrons da manga do seu blazer, de um xadrez minúsculo, como convém aos viajantes, irradiava um brilho escuro que era como o do café fumegando, e um pedaço do punho azul-tirreno da sua camisa escondia, parcialmente, o mostrador de um relógio de pulso antigo, de uma daquelas boas marcas suíças.
Percebendo meu olhar atento, que percorria de maneira quase indecorosa todos aqueles detalhes íntimos da sua vestimenta e os avaliava como quem avalia algum tipo de mercadoria exposta numa vitrine, ele me olhou de soslaio, por um instante, com olhos azuis e gelados, e com os cantos da boca voltados para baixo.
Era aquela mesma expressão antipática que governava a relação entre os volumes monumentais da obra de Fridericus Christophorus Vienensis e o volume da Modern Library que continha o livro de Edward Gibbon: o olhar de alguém que, pertencendo a uma determinada casta, olha para alguém que pertence a outra casta, inferior.
A flora que preenchia as páginas do grande tratado sobre as ervas daninhas brasileiras agora extravasava para o jardim abandonado. O tremendo matagal se tornava uma ilustração viva do conteúdo do livro, incompleta, é claro, parcial, é evidente.
Assim como os livros são recortes mais ou menos imprecisos, mais ou menos deformados, de algo maior, que pretendem representar, que gostariam de compreender, também os hortos e os jardins de plantas necessariamente são só as sombras dos tratados de botânica.
Com paciência e com método, com ordem e com perseverança, Fridericus Christophorus Vienensis alcançou os fundamentos e a essência do fenômeno que se dedicou a estudar por toda uma vida, enquanto aquelas touceiras retorcidas, que pareciam formadas por todos os tipos conhecidos de ervas daninhas, mas que formavam apenas uma pequena amostra dos seus respectivos gêneros, eram o fruto do acaso e dos ventos, que tinham trazido sementes de cá, ou de passarinhos, que tinham trazido sementes de lá; de insetos que tinham fertilizado as flores canhestras desta plantinha insignificante ou de aves que tinham bicado as flores sem graça daquele capinzinho pedestre.
Ainda assim, a lembrança do livro emprestava à desordem daquele terreno um certo lirismo. Os insetos vão de um lado a outro de um muro com facilidade e, para os pássaros, um muro de três metros de altura é como se não existisse. Os insetos levam as sementes das pragas de um lado do muro para o outro lado do muro e as aves levam as sementes das pragas de um lado do muro para o outro lado do muro.
Logo, as pragas que infestam um lado infestam, também, o outro lado. Logo, os dois lados se parecem e é como se não existisse nada que os separasse.
Abandonada, uma cidade inteira, em poucas décadas, será completamente arrasada pela natureza. As pragas se espalham primeiro pelos jardins e logo também pelas menores fendas que, com o passar do tempo, aparecem nas paredes e aparecem nos muros. Suas raízes penetram nos mínimos espaços que se abrem entre os tijolos. A água também penetra por ali, com as chuvas fortes do verão. Passam poucos anos e as paredes começam a esfarelar. Caem os primeiros pedaços e com isto abrem-se novas fendas. As fendas maiores acomodam, então, plantas maiores que, por sua vez, provocam a abertura de fendas ainda maiores. Mais água escorre para dentro das paredes e logo as ferragens que estão no interior de vigas e no interior de colunas começam a perder a substância. A água provoca a ferrugem e a ferrugem escorre com a água. Orifícios começam a aparecer no interior das vigas, porosidades surgem na alma das colunas.
Uma água avermelhada começa a brotar aqui e uma água amarronzada começa a brotar ali. Passam os anos e, em vez de ferragens há, no interior das vigas, canais, pelos quais a chuva escorre. A água escorre e leva consigo os grãos de areia e os grãos de cimento. Estas vigas e estas colunas já estão como os ossos de um velho, que se quebram por qualquer motivo. Os anos passam e as décadas se somam. Com paciência e com método, as plantas continuam seu trabalho e a água da chuva continua seu trabalho.
Logo os escombros dos apartamentos que têm três vagas na garagem se somam aos escombros dos apartamentos que têm duas vagas na garagem e aos escombros da casa do Sr. Waldomiro Pacca, funcionário aposentado do Banco do Brasil, cuja casa ficava no lugar onde, depois, construíram o prédio, e o bairro outra vez se parece com um campo, cheio de árvores por todos os lados. E as ruínas dos edifícios estão por todos os lados, também.
III – O dobermann
As pragas que tinham crescido do jardim abandonado eram como os refugiados de um continente maldito. Comparar seres humanos a pragas é abominável. Mas há muita gente que não resiste a cometer semelhante abominação.
A estação central de trens de Frankfurt está tomada, nos sete dias da semana, por refugiados da África e do Oriente Médio. Alguns pedem esmolas e alguns pedem bilhetes de trem que, mesmo já tendo sido usados uma vez, ainda não perderam a validade e podem ser usados novamente.
Os viajantes passam, apressados, como se não vissem nada. Temem que aquilo que lhes é pedido possa, também, lhes ser arrancado à força. A vigilância policial estando ausente, os viajantes se sentem ameaçados. Sentindo-se ameaçados, apertam o passo. Os anos entram e os anos saem e as ameaças ora vêm deste lado e ora vêm daquele lado. Enquanto isto, as ervas daninhas, no jardim, continuam a crescer.
O que se vê ali já é uma pequena floresta: das azaleias, por exemplo, só se podem ver alguns resquícios, aqui e ali, espalhados pelo matagal, já quase invisíveis. Há, também, os fungos, que crescem à sombra porque, neste ano, a primavera tem sido muito chuvosa: cogumelos acinzentados, em forma de minúsculos guarda-chuvas, que se multiplicam e multiplicam, como se fossem eles e não as ervas daninhas, de cujas folhas mortas eles se alimentam, e com as quais criam sua substância cinza, mórbida, sempre recoberta com um véu gosmento, os legítimos possuidores daquele território.
Até os pinheiros anões já estão, por assim dizer, com a água pela cintura: a camada de um verde vulgar e irritante, que agora brilha sob a luz do dia, despreocupada e contente, já chega até a meia altura dos seus troncos de anciãos. Os ramos inferiores já atrofiaram e já perderam as folhas por falta de sol. Bate um ventinho à toa e ondeia a superfície tediosa do mar de ervas: eles acenam como náufragos. Mas ninguém lhes dá importância. Dia após dia, a água sobe. Os formigueiros também se multiplicam.
Sem perceber, piso num deles e, agora, umas formigas minúsculas, ruivas, sobem, furiosas, pela minha perna. Suas picadas são como se fossem feitas de pólvora: explodem dentro da pele. O dia está cinza e é difícil encontrá-las no meio dos pelos da perna, que num instante se enche de bolhas vermelhas.
Já me sinto como o Negrinho do Pastoreio, aquela figura trágica de uma história horripilante que aprendemos no primeiro ano do primário, na escola do Jockey Club.
Negrinho do Pastoreio era um menino escravo que, por não ter cuidado bem do rebanho do seu senhor, foi lambuzado com melado, amarrado a uma árvore e entregue à fúria das saúvas. Segundo a versão cristã da história, ele foi milagrosamente salvo por Nossa Senhora e então levado ao céu. Aquela história voltou do esquecimento, daquelas galerias que são como os corredores dos formigueiros, que levam aos armazéns de fungos brancos que as formigas cultivam, longe dos olhos do mundo.
Um dia, por acidente, um pedaço assim deste esquecimento emerge do seu Hades, como os escombros de cidades perdidas que, às vezes, são encontrados durante as escavações para a construção de um arranha-céu, com dois subsolos e com três subsolos.
Junto com a história do Negrinho do Pastoreio, ficávamos sabendo de outros tipos de suplício de escravos, cujas peles eram marcadas por ferro em brasa com as insígnias dos seus senhores.
Tínhamos visto os instrumentos de suplício feitos de ferro e de madeira num museu em Ouro Preto. E havia as histórias daqueles que eram supliciados na areia, amarrados em pé e enterrados até o pescoço, à beira do mar, na hora da maré baixa, com o rosto voltado para o continente, para que a água, subindo, os afogasse aos poucos.
Entre a agonia daqueles que morriam aos poucos, com as barbas lambidas pela água salgada, ou a agonia do Negrinho do Pastoreio e dos outros escravos castigados não faltavam alternativas. O grande acervo daquele museu em Ouro Preto exibia todo o tipo de instrumento para o caso de faltarem ideias, como o cepo e os açoites. Enquanto isto, as formiguinhas ruivas picavam e picavam.
Na introdução aos três volumes da Flora vulgaris brasiliensis, Friedrich Christopher Wiener, que obteve sua educação num internato jesuíta em Viena antes de dar continuidade aos seus estudos na capital habsburga, consta que ele frequentava, desde seu tempo de estudante, a mesma loja maçônica que tinha sido frequentada por Wolfgang Amadeus Mozart e por Emanuel Schikaneder uma geração antes dele, isto é, a loja maçônica vienense Zur Wohltätigkeit, cujo nome significa “A Benevolência”.
Dizem que Wolfgang Amadeus Mozart também frequentava os trabalhos realizados na loja “Zur wahren Eintracht”, cujo nome significa “A Verdadeira Concórdia”. Também aqui e também lá.
Um biógrafo de Friedrich Christopher Wiener, autor do verbete sobre o botânico incluído na edição da enciclopédia Das grosse Brockhaus, de 1970, escreve que “não há dúvidas de que o generoso empenho humanístico dos maçons na luta contra as superstições e contra a estreiteza de consciência, e que seus fundamentos de apoio mútuo e de igualdade fraternal, exerceram uma influência notável sobre o espírito sensível de Friedrich Christopher Wiener”.
Sob a proteção do Imperador José II, as lojas maçônicas da Áustria podiam realizar com tranquilidade seus trabalhos. Quando Wiener viajou ao Brasil, na comitiva da Imperatriz Leopoldina, trouxe consigo, além de sua formação como botânico, a formação humana proporcionada por seus anos de estudos da doutrina maçônica e por sua participação dedicada nos trabalhos da loja “Zur wahren Eintracht”.
A Imperatriz Leopoldina, que era apaixonada por botânica, e que também era conhecedora de mineralogia e do estudo das borboletas, protegeu Wiener enquanto viveu, mas lhe pediu expressamente que se abstivesse de escrever qualquer palavra a respeito da escravidão no Brasil e a respeito dos maus tratos aos escravos que ela testemunhava, nas cidades e nos campos, em suas viagens pelo território aparentemente infinito da coroa de Orléans e Bragança na América do Sul.
Por este motivo, em vez de se dedicar ao estudo das espécies exuberantes, transbordantes de força e de opulência que, por assim dizer, infestavam o Brasil e que se encontravam em toda a parte, e que em toda a parte se encontravam ao alcance da mão que se estendesse pela janela de qualquer palácio, Friedrich Christopher Wiener se voltou para as plantinhas miseráveis, às quais ninguém, à sua época, dava atenção: o mato, as pragas, as ervas daninhas que cresciam em todos os lados só para serem detestadas, arrancadas e pisoteadas.
Porque Friedrich Christopher Wiener estava convicto de que havia um elemento divino nas mais baixas das plantas, assim como havia um elemento divino nos mais baixos dos seres humanos.
E, no entanto, onde estava a divindade daquele jardim? No cheiro irritante das folhas de mamona balançando sua vulgaridade ao sol e ao vento? No dente-de-leão que espalhava seus fiapos pelo ar como uma epidemia? Nas florzinhas azedas da Tripoganda diuretica?
Eu não era capaz de ver ali nada de bom, especialmente porque os restos do jardim japonês me lembravam de um outro estado de coisas, comparado ao qual o estado atual das coisas parecia um catálogo de misérias.
A sabedoria e os poderes destilados nas páginas de Friedrich Christopher Wiener me pareciam mais uma das ilusões que nos tomam quando olhamos para a capa de um novo livro, quando lemos o título de um novo livro, e imaginamos que ali estarão os mundos maravilhosos evocados pelas lindas ilustrações e pelos nomes sugestivos que encabeçam as lombadas e colocam as folhas ali encadernadas sob o signo do favor e sob o signo da benevolência.
No entanto, lidas algumas páginas, já se constata um sabor amargo.
É como quando penetramos numa floresta para fazer uma caminhada à sombra das araucárias e das dezenas de tipos de árvores típicas da mata de altitude, observando os musgos e as samambaias e os cogumelos e os moranguinhos silvestres, e ouvindo o riacho que cantarola ali em baixo, atirando-se sobre as pedras e sobre as raízes das árvores que sua correnteza expôs. E, logo a seguir, nos depararmos com a placa de aço branco, na qual se lê: “Propriedade Particular” e “Entrada Proibida”.
Logo abaixo, em letras menores, porém não menos incisivas, lê-se “Os transgressores serão punidos na forma da lei”. Ou, mais diretamente, “Cuidado! Cachorro bravo!”.
Do outro lado da cerca já espreitam os cães dobermann, com os cérebros espremidos em caixas cranianas apertadas demais, com a loucura nos olhos e nos dentes arreganhados, prontos a saltar na jugular do primeiro que entrar ali.
Dos cachorros da raça dobermann, todos eles com as caudas e com as orelhas cortadas ao fio da navalha, diz-se que, por serem uma raça artificialmente criada por meio da endogamia, a partir do cruzamento de outras raças, possuem uma série de defeitos congênitos, sendo o mais assustador deles o fato de que seus cérebros seriam superdimensionados para suas caixas cranianas estreitas, o que, frequentemente, lhes provocaria dores de cabeça lancinantes e enlouquecedoras.
Um amigo do meu pai, um daqueles senhores alemães distintos, funcionário graduado de uma grande empresa alemã instalada nos arredores de São Paulo, tinha um animal desta raça que, certa noite, o atacou, tendo enlouquecido, saltando, como costumam fazer os animais desta raça, diretamente no seu pescoço para abocanhá-lo na jugular. “Du Schweinigel”, disse, entre os dentes, este senhor, antes de sacar o revólver e abatê-lo com um tiro certeiro, bem no meio da testa. “Das Schwein wurde erwischt”.
Segundo meu pai, este cachorro também foi enterrado junto a uma muda de flamboyant que, todos os anos, dá flores vermelhas como sangue.
E como não levamos no bolso revolveres carregados, com os quais seja possível explodir, num instante, a cabeça de um cachorro dobermann, fazemos meia-volta, resignando-nos às prosaicas estradas asfaltadas, separados, para sempre, do reino que se estende para o outro lado da cerca, habitado por criaturas maravilhosas e inalcançáveis.
Fechamos a capa de mais um livro cheio de falsas promessas e o depositamos na estante, à espera dos outros livros, de outros dias.
LUIS S. KRAUSZ nasceu em São Paulo. É doutor em Literatura Judaica pela USP, onde ensina Literatura Hebraica e Judaica, e mestre em Letras Clássicas pela University of Pennsylvania. Trabalhou como jornalista e editor em diversas publicações da imprensa paulistana. É autor dos romances Desterro: memórias em ruínas (2011), Deserto (2013) e Bazar Paraná (2015), entre outros.