Grande magal de touba
Festa que mobiliza islâmicos do Senegal e suas diásporas em torno do líder religioso Cheikh Ahmadou Bamba Mbacké acontece entre os senegaleses de Porto Alegre
TEXTO MICHELE VENZO*
FOTOS LEONARDO SAVARIS
01 de Dezembro de 2018
A caminhada pela paz tem por objetivo ampliar os laços entre os imigrantes do Senegal e os brasileiros
Foto Leonardo Savaris
[conteúdo exclusivo para assinantes | ed. 216 | dezembro de 2018]
Compartilhar, uma palavra tão comum em tempos de tecnologias digitais, tem um sentido especial para os senegaleses que residem em Porto Alegre (RS): significa acordar cedo e dividir com pessoas desconhecidas o pouco que têm. Essa comunidade de africanos realiza, há cinco anos, uma caminhada pela paz nas ruas do centro da cidade. Entre orações e cânticos, os imigrantes senegaleses distribuem pão e café aos moradores de rua e fazem doações de sangue no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Com pequenos gestos, procuram transmitir mensagens de amor, paz e união.
A caminhada dá início à celebração da Grande Magal de Touba, festa religiosa em homenagem ao líder muçulmano Cheikh Ahmadou Bamba Mbacké, que lutou pela liberdade religiosa no Senegal durante a colonização francesa. Senegaleses espalhados pelo mundo inteiro realizam os festejos no mesmo momento, num encontro cuja data varia a cada ano, pois obedece ao calendário islâmico, que é lunar e 11 dias mais curto que o gregoriano. De qualquer modo, o festejo marca a partida de Ahmadou Bamba do Senegal para o exílio no Gabão, em 1895. Esse é o principal evento religioso do Senegal, uma celebração em que os peregrinos se dirigem à Grande Mesquita para reafirmar seu compromisso com a fraternidade fundada por Ahmadou Bamba.
O evento, que dura o dia inteiro, este ano foi celebrado em 28 de outubro. Em Porto Alegre, as últimas edições da festa contaram com a participação de centenas de senegaleses e convidados, muitos deles vestindo túnicas conhecidas como boubou ou bubu, trajes típicos usados por homens e mulheres de alguns países africanos, e portando artefatos religiosos, entre eles a Khassida (diz-se rássida), um livro de poemas escrito por Cheikh Bamba, e o kruss (em wolof) ou chapelet (em francês), uma espécie de terço ou rosário árabe, que serve para contar repetições de orações. Nos rituais, as línguas utilizadas são o wolof – nativo da África Ocidental, e o árabe – idioma litúrgico do islamismo, embora a língua oficial do Senegal seja o francês, instituído pelos colonizadores. Como não há uma mesquita que tenha capacidade suficiente para acolher a irmandade na cidade, a celebração costuma ocorrer na Paróquia Nossa Senhora da Pompeia, localizada nas proximidades do Centro Histórico de Porto Alegre.
A caminhada da Grande Magal de Touba ocorre nas ruas do centro de Porto Alegre
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